O 4º Iluminado
Ele estava passando uma temporada com o mago e estava muito satisfeito. Ele era muito bem recebido ali, como se ele fosse um presente para aquela gente, e não um visitante. Ele podia sair a hora que bem entendesse, dar uma volta pelo jardim, explorar novos ambientes do castelo, comer quando sentisse fome... Enfim, ele podia fazer o que quisesse, sem obrigações; ou melhor, ele tinha uma obrigação sim, e o mago era muito firme a respeito dela.
Logo quando anunciou sua chegada ao mago, informando que queria se tornar um amante da vida, o mago disse para ele que ele deveria estar ciente de uma única coisa. Se ela não fosse cumprida, ele iria pedir que ele se retirasse do castelo. Era a regra do mago, a única regra do castelo. O mago tinha lhe dito:
- Aqui você terá que seguir uma regra muito rígida. Se você fugir à regra, estará perdendo o propósito e não terá nenhuma utilidade em estar aqui. Eu exijo que essa regra seja seguida, e seguida à risca! Você deve fazer tudo o que tiver vontade de fazer, e apenas isso. Se você quiser correr, corra! Se quiser cantar, cante! Se quiser gritar, grite! Se quiser tirar a roupa, tire! E se você quiser brigar comigo, venha e se posicione: quem sabe eu até brigue com você. Mas lembre-se que essa regra está sendo seguida por todos que estão aqui, e eu faço parte do todo. Mas não se assuste, aqui não é um lugar para loucos. Na verdade é sim, para loucos conscientes, e essa consciência está invisivelmente pairando pelo ar do castelo, como um vento que bate mas não se vê. Ela deixa o clima tão suave, que será muito difícil você realizar algum ato agressivo ou destrutivo para nós. Então pode se soltar, a única regra do mago é o coração livre para se expressar, fazer o que quiser, e ser quem quiser.
Ele podia fazer qualquer coisa ali, mas aquele lugar era tão lindo, tão sereno, que na maioria de seu tempo ele ficava contemplando o jardim, as árvores, as borboletas; ou sentava ao lado de alguém, e ficavam ambos em silêncio, apreciando o momento e a paisagem.
Mas depois da primeira semana, ele começou a sentir coisas diferentes. Ele, as vezes, acordava irritado, ou ficava triste com muita facilidade. As vezes estava brincando com um cachorrinho, e quando o cachorrinho ia brincar com outra pessoa ele ficava enciumado, e triste. Pequenas coisas o deixavam emocionalmente agitado, e ele perdia sua paz, seu equilíbrio.
Ele podia fazer qualquer coisa ali, mas aquele lugar era tão lindo, tão sereno, que na maioria de seu tempo ele ficava contemplando o jardim, as árvores, as borboletas; ou sentava ao lado de alguém, e ficavam ambos em silêncio, apreciando o momento e a paisagem.
Mas depois da primeira semana, ele começou a sentir coisas diferentes. Ele, as vezes, acordava irritado, ou ficava triste com muita facilidade. As vezes estava brincando com um cachorrinho, e quando o cachorrinho ia brincar com outra pessoa ele ficava enciumado, e triste. Pequenas coisas o deixavam emocionalmente agitado, e ele perdia sua paz, seu equilíbrio.
Ele começou a refletir... Aquilo não deveria estar acontecendo. Estando no caminho do mago, ele deveria estar progredindo em paz, e não em desordem. Algo deveria estar errado... Sentiu vontade de consultar a opinião do mago.
Mas será que o mago iria querer me ouvir? - Pensou. - Parece uma pergunta tão boba: "mago, as vezes estou ficando irritado, ou triste, e as vezes nem tem um motivo específico. E está acontecendo com bastante frequência; eu fico agitado, perco minha paz. Porque isso acontece?" - Ensaiou.
Não. - Pensou. - Aquilo era muito besta. Eu estaria incomodando o mago e ele me acharia um idiota. Mesmo querendo, acho que não irei consultá-lo.
Uma menina que estava sentada a seu lado - enquanto eles estavam sentados a alguns metros do parque, encostados em uma árvore - sentiu sua apreensão, e lhe disse:
- Acho que você está esquecendo da única regra do castelo.
- Ahn? - Disse o rapaz sem entender.
- A única regra do castelo bobo. - Disse com uma voz suave, bastante amigável. - A liberdade do coração, fazer o que tiver vontade.
- Mas estou com medo. - Disse meio sem jeito.
- Sim bobo, mas você só sente medo porque a vontade está presente. Se ela não estivesse aí, o medo não teria razão de existir. Teria? De onde ele poderia surgir?
- Acho que você está esquecendo da única regra do castelo.
- Ahn? - Disse o rapaz sem entender.
- A única regra do castelo bobo. - Disse com uma voz suave, bastante amigável. - A liberdade do coração, fazer o que tiver vontade.
- Mas estou com medo. - Disse meio sem jeito.
- Sim bobo, mas você só sente medo porque a vontade está presente. Se ela não estivesse aí, o medo não teria razão de existir. Teria? De onde ele poderia surgir?
Ele olhou para si mesmo, refletiu, e disse: - Você tem razão. Se a vontade não estivesse presente, o medo não estaria também.
- Sim, sim, sim!! - Disse ela animada. - Esse é o nosso erro, cair no medo e não na vontade. O medo é escuridão porque não é real, é criação nossa. Não é de fato real, é anti-natural, apesar de ser vivo quando o sentimos. Vem do nosso passado, da nossa memória, da nossa imaginação. A vontade é luz, porque ela é sua natureza. Você tem que ser firme e escolher em qual quarto você quer ficar; no escuro ou no iluminado. Talvez para chegar no quarto iluminado você precise abrir os olhos no escuro, encarar o medo dele, e caminhar com medo até o quarto iluminado.
- Sim, sim, sim!! - Disse ela animada. - Esse é o nosso erro, cair no medo e não na vontade. O medo é escuridão porque não é real, é criação nossa. Não é de fato real, é anti-natural, apesar de ser vivo quando o sentimos. Vem do nosso passado, da nossa memória, da nossa imaginação. A vontade é luz, porque ela é sua natureza. Você tem que ser firme e escolher em qual quarto você quer ficar; no escuro ou no iluminado. Talvez para chegar no quarto iluminado você precise abrir os olhos no escuro, encarar o medo dele, e caminhar com medo até o quarto iluminado.
- O que você acha que eu devo fazer?
- Do que você tem medo? - devolveu a ele a pergunta.
- De falar com o mago.
- Então do que você tem vontade?
- De falar com o mago.
- Do que você tem medo? - devolveu a ele a pergunta.
- De falar com o mago.
- Então do que você tem vontade?
- De falar com o mago.
Ele ficou chocado. Aquilo agora parecia muito claro.
- Então o que você acha que você deve fazer? - Disse ela dando duas cutucados em sua cintura com o cotovelo, sugerindo que a resposta fosse óbvia.
- Eu entendi você perfeitamente! - Respondeu o garoto. - Devo caminhar no escuro até o quarto iluminado.
- Exaaato!! - Disse ela batendo palmas eufórica. - Mas vá com calma. Aqui não é que nem filme para sair correndo que nem louco, e chegar logo no quarto iluminado, e ponto final. Final feliz. Não, não... Você baterá em muitas portas escuras até encontrar aquela que estará iluminada. Mas será a mesma luz que estará te encaminhando por todas elas, mesmo as escuras. Você precisa visitar todos os quartos que ela aponta, pois só assim reconhecerá quando finalmente chegar no quarto iluminado. É sempre ela. A todo momento. Mesmo agora.
- Exaaato!! - Disse ela batendo palmas eufórica. - Mas vá com calma. Aqui não é que nem filme para sair correndo que nem louco, e chegar logo no quarto iluminado, e ponto final. Final feliz. Não, não... Você baterá em muitas portas escuras até encontrar aquela que estará iluminada. Mas será a mesma luz que estará te encaminhando por todas elas, mesmo as escuras. Você precisa visitar todos os quartos que ela aponta, pois só assim reconhecerá quando finalmente chegar no quarto iluminado. É sempre ela. A todo momento. Mesmo agora.
Então um silêncio invadiu os dois, e eles permaneceram ali sentados por alguns minutos em silêncio. Depois ele se levantou, se despediu, e saiu à procura do mago, com medo de falar com ele.
~* Palavras que saem da Boca