O caminho que "Eu" não posso seguir
- Abra os olhos - disse uma voz apressada -. Vamos, abra os
olhos! Seja rápida, nós não temos muito tempo.
Então o menino agarrou-a pelos braços e a puxou
apressadamente, começando a andar depressa. Parece que ele queria lhe mostrar
alguma coisa.
- Para onde você está me levando?
- Eu descobri um lugar mágico. Vamos - disse andando -, vamos depressa, isso não pode esperar.
Ele a puxava com força, mas tanta força, que a menina começou a ficar assustada. O
que poderia existir de tão importante que precisasse de tanta pressa?
- Pare! Me solte! - ordenou - Você está me assustando...
E o menino não a escutava. Ele parecia cego, como se estivesse ávido por um tesouro. Seus olhos
basicamente nem piscavam. Ele parecia não estar presente, parecia estar em
outro lugar. Ela pedia para soltá-la, e o menino continuava seguindo, como se não
tivesse escutando.
- Me solte agora! Eu não quero ir. – puxou com força seu próprio corpo, se
soltando dos braços do menino, que parou:
- Pelo amor de Deus menina, você tem que vir comigo, é muito lindo! - dizia
inquietamente, movendo as pernas como se não quisesse pará-las – Eu não posso
parar, se eu parar nunca vou chegar.
- Você não pode me puxar, sem me dizer para onde estamos indo. Quem você pensa
que é me fazendo isso? Eu vou é voltar – e virou de costas em menção de quem ia
voltar, para testar sua reação.
- Não, espere. – desvirou-a com um puxão - Eu não sei dizer para onde estamos
indo, eu só sei dizer que é lindo, e que estamos indo. Por favor, venha comigo.
Se você não vier, eu terei que ir sozinho. E para onde eu vou, eu não vou
voltar.
- E porque você acha que eu quero ir pra lá? Você não pode me levar assim. Eu não
sei do que se trata.
- Óh Deus, é tão grande! Se eu falar, você não vai acreditar em mim. Você tem
que ver isso por você mesma. Eu quero que você veja, e você só verá se você for
lá também! Eu achei o mapa, e ele tá aqui dentro. É um mapa diferente, ele me
leva, mas eu não o vejo.
O menino estava apressado, as palavras dele eram quase desespero. Era uma
euforia nervosa, eu não sei definir bem como era. Mas eu fiquei sabendo que a
menina não quis ir. E quando ela disse a ele que não iria com ele, ele disse
algumas palavras antes de começar a correr:
- Puts, sem você o caminho ficou mais longo, mas eu quero chegar ainda a tempo.
Vou ter que correr mais depressa...
E então o garoto saiu correndo, e a menina voltou pro bosque, eram caminhos opostos. No dia seguinte,
logo antes do nascer do sol, enquanto a menina ainda dormia, algo começou a balançá-la:
- Vamos, vamos, acorde! – disse o menino balançando-a apressadamente, com a mesma expressão de pressa do dia anterior – Venha comigo,
eu encontrei um lindo lugar como você nunca viu, você precisa ver. Venha
depressa, não temos muito tempo.
- Você não disse que tinha que ir mais depressa? Que seria mais longe? - questionou - Porque então você voltou?
- Eu não voltei, eu ainda estou indo! – disse apressadamente para cortá-la – Não posso
conversar, não temos muito tempo. Você tem que vir depressa. Você não acreditará
no que os seus olhos irão ver.
E então esta história se repetiu por semanas seguidas, e a
menina não queria ir, ela estava assustada, ela nem saia mais de seu quarto. Até que um dia ela resolveu seguí-lo:
- Tá bom, eu vou com você, mas deixa eu ir sozinha.
E então o menino cessou a agitação que sempre o carregava, parou, e olhou para
ela. Pela primeira vez o menino parecia estar presente. Seus olhos penetraram o
olhar dela profundamente. Ela ficou surpresa, e desconcertada.
- Não, você não pode ir – disse firmemente.
- Porque não?
- Se você for comigo, nós nunca chegaremos lá.
Nós não podemos ir. Esse é o único lugar que só podemos chegar se não estivermos nos movendo para lá. Nós só estamos aqui porque
estivemos nos movendo esse tempo todo. Quando eu parei de ir, eu comecei a me apressar, eu comecei a
andar mais depressa pra lá... Venha comigo - disse puxando-a pelas costas, a agitação havia retornado e o menino não parecia mais presente - Vamos depressa.