Colocando um fim nos pontos de interrogação
Pela segunda vez em uma única semana, ele sonhara com seu amor de infância. Isso era um evento raro, e acontecer duas vezes seguidas, da mesma forma, deveria ter algum tipo de significado. Em ambos os sonhos, parecia haver a mesma mensagem. Eles se encontravam e não conseguiam se aproximar. Isso magoava os dois.
Desde pequeno, ele havia alimentado um sonho de que um dia se casaria com ela, e talvez ela tivesse feito o mesmo com ele. Talvez esse desejo insatisfeito pudesse ter se tornado uma pedra de tropeço, uma barreira inconsciente que poderia estar muito bem escondida, interferindo disfarçadamente nas decisões a serem tomadas. Talvez aquela esperança estivesse impedindo um dos dois de pegar um barco, e partir para uma nova ilha, sem olhar para o que pudesse estar sendo deixado para trás.
Desde pequeno, ele havia alimentado um sonho de que um dia se casaria com ela, e talvez ela tivesse feito o mesmo com ele. Talvez esse desejo insatisfeito pudesse ter se tornado uma pedra de tropeço, uma barreira inconsciente que poderia estar muito bem escondida, interferindo disfarçadamente nas decisões a serem tomadas. Talvez aquela esperança estivesse impedindo um dos dois de pegar um barco, e partir para uma nova ilha, sem olhar para o que pudesse estar sendo deixado para trás.
O garoto estava em um momento de colocar pontos de exclamação em suas histórias, e de acabar com os pontos de interrogação. Parar de viver em incertezas, para passar a viver uma vida de certezas. Tomou então a decisão de ser decidido, acabando com as indecisões, pois em toda a sua experiência ele descobriu que as indecisões não se tornavam nunca histórias reais. Só passavam a existir no futuro, como projeção de um passado que nunca chega.
Nesta nova fase de sua vida, ele queria histórias reais, histórias presentes; então ele precisava retirar as interrogações e colocar pontos finais. Só assim ele estaria realmente livre para começar a viver experiências verdadeiras, sonhos reais, sonhos vivos, sonhos do presente.
Nesta nova fase de sua vida, ele queria histórias reais, histórias presentes; então ele precisava retirar as interrogações e colocar pontos finais. Só assim ele estaria realmente livre para começar a viver experiências verdadeiras, sonhos reais, sonhos vivos, sonhos do presente.
Talvez aquele doce sonho de infância precisasse mesmo chegar ao fim, para que o seu caminho estivesse livre para que o novo beija-flor que estava batendo de verdade em sua porta entrasse.
Então ele resolveu escrever, acreditando que suas palavras são como ímãs: assim que proferidas, atraíam o destinatário até a mensagem. Ele acreditava também que para que um sonho bilateral fosse desfeito, era preciso que ambos os lados estivessem cientes dessa desconstrução. Então ele resolveu também simular um diálogo, acreditando que ele seria visto por ela, e assim compreendido o seu significado.
- Você tá sempre indo e voltando, por mais que eu goste de você, eu não posso manter nada com você assim. - Começou ela.
- Eu sempre estive livre. - Contou ele. - Mesmo enquanto estava comprometido, você sempre soube que ainda era a fêmea alfa de meu caminho.
- Essa certeza foi se tornando cada vez mais fraca. - Prosseguiu ela. - Quando tínhamos 15 anos, nosso amor era uma brasa fervente.
- Talvez estivesse se tornado uma simples chama porque você sempre estava dividida. Você vivia outro romance, mesmo sabendo que seu coração vivia um romance comigo. Isso não acontecia do meu lado. Eu sempre tive certeza, minha porta sempre esteve aberta. Você se comprometia com aquilo que não era o seu real comprometimento, que era comigo, e quando eu aparecia, você já não tinha mais espaço para dar vazão "a nós", pois estava sempre se segurando em um falso galho.
- Mas você vinha e depois voltava, demorando para vir de novo. O que você esperava que eu fizesse? Terminasse com ele para viver dias com você, e depois você ir embora, e eu ficar o ano inteirinho sem ninguém? Eu não podia fazer isso.
- Bem, o que você devia ou não fazer eu não sei. O que eu posso te dizer é que minha porta sempre esteve aberta a você. Estando livre ou não, você sempre foi a minha prioridade, mas eu não era prioridade para você. Na verdade, verdade mesmo, no fundo eu sei que eu era sim, mas você era vencida pelo medo. O medo de perder sua segurança.
- Bem, o que você devia ou não fazer eu não sei. O que eu posso te dizer é que minha porta sempre esteve aberta a você. Estando livre ou não, você sempre foi a minha prioridade, mas eu não era prioridade para você. Na verdade, verdade mesmo, no fundo eu sei que eu era sim, mas você era vencida pelo medo. O medo de perder sua segurança.
- Você falando assim parece que eu estava agindo errado.
- Não é isso que quero dizer. Errado ou certo é só uma questão de ponto de vista. Eu prefiro ver minhas ações sempre como corretas, porque mesmo que eu erre, estou agindo certo porque estou sempre aprendendo; e assim não há culpa. Se você assume para si mesma que você está agindo de forma errada, você deixa espaço para sentir culpa, e a culpa é autodestrutiva. Ela destrói a tua paz, a tua vida.
Mas voltemos ao ponto - continuou ele -, o que realmente quero dizer é que precisamos cortar a raiz desse sonho, e assim seguir nossas estradas.
- Não é isso que quero dizer. Errado ou certo é só uma questão de ponto de vista. Eu prefiro ver minhas ações sempre como corretas, porque mesmo que eu erre, estou agindo certo porque estou sempre aprendendo; e assim não há culpa. Se você assume para si mesma que você está agindo de forma errada, você deixa espaço para sentir culpa, e a culpa é autodestrutiva. Ela destrói a tua paz, a tua vida.
Mas voltemos ao ponto - continuou ele -, o que realmente quero dizer é que precisamos cortar a raiz desse sonho, e assim seguir nossas estradas.
- Porque você quer fazer isso?
- Em primeiro caso, porque não quero mais viver de fantasias; viver esperando um futuro que nunca chega. Em segundo lugar, você precisa seguir o seu caminho e fazer a sua escolha. Em terceiro, conheci uma flor e me apaixonei pelo perfume dela. Ela mexeu profundamente comigo e eu quero deixar o meu caminho totalmente livre e iluminado para ela. Vou colocar um potinho de água num galho de minha árvore, e esperar a decisão do beija-flor. Se ele se sentir seguro, se sentir confiança em minha casa, talvez ele se aproxime, usufrua de meu jardim, beba da minha água, e decida voltar sempre. Nesta história em particular, eu venho colocando vírgulas e pontos de continuação - pois essa é a minha decisão -, e eu quero parar de abrir parênteses com outras histórias. Decidi ser decidido. Viver através de minhas próprias escolhas, sem margem para confusão, distorção, ou imaginação. Assim estando sempre inteiro, e nunca dividido.
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~* Palavras que saem da Boca *~