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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Colocando um fim nos pontos de interrogação


   Colocando um fim nos pontos de interrogação


     Pela segunda vez em uma única semana, ele sonhara com seu amor de infância. Isso era um evento raro, e acontecer duas vezes seguidas, da mesma forma, deveria ter algum tipo de significado. Em ambos os sonhos, parecia haver a mesma mensagem. Eles se encontravam e não conseguiam se aproximar. Isso magoava os dois.
     Desde pequeno, ele havia alimentado um sonho de que um dia se casaria com ela, e talvez ela tivesse feito o mesmo com ele. Talvez esse desejo insatisfeito pudesse ter se tornado uma pedra de tropeço, uma barreira inconsciente que poderia estar muito bem escondida, interferindo disfarçadamente nas decisões a serem tomadas. Talvez aquela esperança estivesse impedindo um dos dois de pegar um barco, e partir para uma nova ilha, sem olhar para o que pudesse estar sendo deixado para trás.
     O garoto estava em um momento de colocar pontos de exclamação em suas histórias, e de acabar com os pontos de interrogação. Parar de viver em incertezas, para passar a viver uma vida de certezas. Tomou então a decisão de ser decidido, acabando com as indecisões, pois em toda a sua experiência ele descobriu que as indecisões não se tornavam nunca histórias reais. Só passavam a existir no futuro, como projeção de um passado que nunca chega.
     Nesta nova fase de sua vida, ele queria histórias reais, histórias presentes; então ele precisava retirar as interrogações e colocar pontos finais. Só assim ele estaria realmente livre para começar a viver experiências verdadeiras, sonhos reais, sonhos vivos, sonhos do presente.
     Talvez aquele doce sonho de infância precisasse mesmo chegar ao fim, para que o seu caminho estivesse livre para que o novo beija-flor que estava batendo de verdade em sua porta entrasse.
     Então ele resolveu escrever, acreditando que suas palavras são como ímãs: assim que proferidas, atraíam o destinatário até a mensagem. Ele acreditava também que para que um sonho bilateral fosse desfeito, era preciso que ambos os lados estivessem cientes dessa desconstrução. Então ele resolveu também simular um diálogo, acreditando que ele seria visto por ela, e assim compreendido o seu significado.

- Você tá sempre indo e voltando, por mais que eu goste de você, eu não posso manter nada com você assim. - Começou ela.
- Eu sempre estive livre. - Contou ele. - Mesmo enquanto estava comprometido, você sempre soube que ainda era a fêmea alfa de meu caminho.
- Essa certeza foi se tornando cada vez mais fraca. - Prosseguiu ela. - Quando tínhamos 15 anos, nosso amor era uma brasa fervente.
- Talvez estivesse se tornado uma simples chama porque você sempre estava dividida. Você vivia outro romance, mesmo sabendo que seu coração vivia um romance comigo. Isso não acontecia do meu lado. Eu sempre tive certeza, minha porta sempre esteve aberta. Você se comprometia com aquilo que não era o seu real comprometimento, que era comigo, e quando eu aparecia, você já não tinha mais espaço para dar vazão "a nós", pois estava sempre se segurando em um falso galho.
- Mas você vinha e depois voltava, demorando para vir de novo. O que você esperava que eu fizesse? Terminasse com ele para viver dias com você, e depois você ir embora, e eu ficar o ano inteirinho sem ninguém? Eu não podia fazer isso.
- Bem, o que você devia ou não fazer eu não sei. O que eu posso te dizer é que minha porta sempre esteve aberta a você. Estando livre ou não, você sempre foi a minha prioridade, mas eu não era prioridade para você. Na verdade, verdade mesmo, no fundo eu sei que eu era sim, mas você era vencida pelo medo. O medo de perder sua segurança.
- Você falando assim parece que eu estava agindo errado.
- Não é isso que quero dizer. Errado ou certo é só uma questão de ponto de vista. Eu prefiro ver minhas ações sempre como corretas, porque mesmo que eu erre, estou agindo certo porque estou sempre aprendendo; e assim não há culpa. Se você assume para si mesma que você está agindo de forma errada, você deixa espaço para sentir culpa, e a culpa é autodestrutiva. Ela destrói a tua paz, a tua vida.
   Mas voltemos ao ponto - continuou ele -, o que realmente quero dizer é que precisamos cortar a raiz desse sonho, e assim seguir nossas estradas.
- Porque você quer fazer isso?
- Em primeiro caso, porque não quero mais viver de fantasias; viver esperando um futuro que nunca chega. Em segundo lugar, você precisa seguir o seu caminho e fazer a sua escolha. Em terceiro, conheci uma flor e me apaixonei pelo perfume dela. Ela mexeu profundamente comigo e eu quero deixar o meu caminho totalmente livre e iluminado para ela. Vou colocar um potinho de água num galho de minha árvore, e esperar a decisão do beija-flor. Se ele se sentir seguro, se sentir confiança em minha casa, talvez ele se aproxime, usufrua de meu jardim, beba da minha água, e decida voltar sempre. Nesta história em particular, eu venho colocando vírgulas e pontos de continuação - pois essa é a minha decisão -, e eu quero parar de abrir parênteses com outras histórias. Decidi ser decidido. Viver através de minhas próprias escolhas, sem margem para confusão, distorção, ou imaginação. Assim estando sempre inteiro, e nunca dividido.

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~* Palavras que saem da Boca *~

quinta-feira, 30 de maio de 2013

No meio do Caminho

           
       No meio do Caminho


     Ele acordava todos os dias com uma inquietação. Sentia que algo estava errado, que algo estava faltando. Em suas reflexões, chegava à conclusão de que não estava seguindo o caminho certo
     Ele queria escalar montanhas, mas a falta de confiança na vida o dizia sempre que ele devia estudar e trabalhar. Ele seguia então o caminho do trabalho, e sentia que algo não estava correto, e isso o machucava por achar que de fato aquele era o caminho certo.
     Havia outra parte dele que o empurrava para escalar montanhas, e quando as escalava, ele sentia que estava no paraíso. Durante aquele único momento ele não tinha dúvidas de que era aquilo que ele queria fazer.
     Quando ele voltava para casa, ele ainda chegava leve, se sentindo no paraíso; mas logo em seguida a sombra do caminho que lhe machucava surgia sobre ele, fazendo o paraíso parecer uma ilusão, apontando que aquele outro caminho era o real.
     Então ele se tornava preocupado, porque a sombra o dizia que era ela o caminho correto, e por toda a sua vida aquele era o caminho que o tinha machucado. Então ele não sabia o porque, mas tornava a seguir o caminho da sombra.
     O tempo foi passando, e ele estava sempre dividido entre seguir o paraíso e também seguir a sombra. Então ele não saia do lugar, ficava no meio; não ia nem para um, e nem para o outro. Ele não conseguia ir nem para o paraíso, e nem para o inferno; permanecia no purgatório, no meio, no lugar onde estava dividido e machucado...
     Mas ele continuava a escalar montanhas também, e isso lhe dava um pouco de ar, o bastante para seguir em frente.
     Com o tempo, ele começou a sofrer acidentes enquanto escalava montanhas, e isso lhe privava meses sem seu ar. Então ele agora se machucava tanto no caminho do trabalho, quanto no caminho das montanhas; sofria acidentes em ambos.
     Aqueles tempos no meio, sem poder escalar e sem poder trabalhar, lhe trouxeram uma grande reflexão. Ele não conseguia chegar a nenhum lugar, pois não caminhava de verdade para nenhum deles dois. E ele se machucava tanto em um, quanto em outro, pois caia sempre no meio da estrada. Talvez ele estivesse no meio porque não escolhia seguir nem um, e nem o outro, e esse era o caminho que o machucava. Talvez ele estivesse se machucando tanto porque estava escolhendo o caminho do acidente, do machucado, da indecisão.
     Então agora ele tinha uma decisão crucial a fazer; continuar no meio do caminho, não caminhando verdadeiramente pra nenhum dos dois, ou encarar uma das duas jornadas: a do paraíso, ou a do inferno.

     Essa era a estrada dele que seguia ao paraíso:


♪ "This is your chance, this is your freedom


Passarinho que tem asa e não decola,
Não tem a oportunidade de descobrir o seu propósito.



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quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Espera mais Bonita

A Espera mais Bonita











A espera mais bonita
É aquela que leva o seu coração
É aquela que percorre o seu sangue
Fazendo-te instavelmente emocional

Entristece fácil,
Não tem muita explicação.
Se alegra inesperadamente
E novamente não tem explicação

E você se pega simplesmente esperando
Como se aquilo fosse vivo mesmo agora
É como se fosse algo que já existisse
E você está apenas tirando umas férias
Para voltar para a realidade que é aquilo que o seu coração sente

E quando você olha
E vê que ninguém ta vendo aquilo que tu sente
Parece um segredo entre você e a vida
Você vive um caso de amor sozinho
Sempre se peguntando se do outro lado está igualzinho

E seu raciocínio não aceita que não possa estar lá
Mesmo quando toda as informações que você possa coletar exteriormente
Dizem que é unilateral...
Você não confia nas informações que o cérebro coleta
E você não sabe porque
Você segue confiando naquele caso de amor entre ela e você

E você pode se perguntar o sentido,
Mas não tem.
Talvez seja apenas a beleza
A beleza de um sentimento totalmente inocente
Que não tem explicação nenhuma

E é tão delicado
Que você se sente um bebe
Que está começando a viver agora
Sente que está vivendo uma história de amor

E é tão bonito ficar triste como um bebe
É tão belo se alegrar feito uma criança
É tão elegante se tornar sensível e vulnerável
Você se sente grandão e pequenininho
Tão pequenininho quanto um bebe que ainda não nasceu

E você sente que a infita beleza
Seria se entregar completamente a isso
Deixando que o outro tome conta de você
E mesmo se você estiver doendo
Parecerá uma oportunidade daquilo florescer
Vendo que o outro se importa e cuida de você

E tanto na alegria quanto na tristeza
O confiar na beleza desse acontecimento
Deixa tudo quentinho
Você é novo novamente
Alguém que não conhece nada do universo

E a imensidão das estrelas invade você
E você se sente preenchido
Uma gota do mar
Sentindo o oceano infinito.


                     ~* Palavras que saem da Boca

Quero morar num Castelo



     Quero morar num castelo, um castelo cheio de flores. Com um grande jardim, e onde o medo não esteja presente. Onde o amor seja correspondido e onde não exista o olhar inimigo. Onde eu possa ser eu mesmo, sem me preocupar em ser louco ou não. Onde eu possa olhar para uma criança e sentir aquela inocência refletida dentro de mim. Onde eu possa tocar e olhar as pessoas, sem medo do que elas irão pensar. Onde as pessoas sejam livres para brincarem o tempo que, e com quem, quiserem. Onde não haja ciúmes. Onde não haja pobreza de espírito. Onde eu possa me apaixonar sabendo que o amor é livre para seguir seu curso. Onde as pessoas sejam boas espontaneamente e onde todo mundo seja rico. Onde o cuidado com o amor seja a atividade primária. Enfim gente, quero morar num castelo onde as pessoas sejam simples e felizes.


~* Palavras que saem da boca

A Noite Escura da Terra

    A Noite Escura da Terra




     ~! Kabrum !~ - Uma grande trovoada se propagou pelo céu, iluminando por milésimos de segundo totalmente aquela noite escura de inverno. Os anjos do céu estavam nervosos, os seres humanos estavam perdendo o propósito e estavam destruindo a terra. - ! Kabrum ! - Mais uma vez os trovões gritavam anunciando a chegada de uma temporada fria. Os Deuses da Luz ficavam cada vez mais escondidos enquanto aquela noite de trovoadas se propagava sem fim.
     Nessa noite, a lua não apareceu como deveria, e não haviam nuvens no céu. De onde vinham aquelas trovoadas? Nenhum habitante da terra sabia responder. Algo estranho estava acontecendo. Os pássaros não estavam cantando e nem voando, os cães tinham parado de latir, e a gravidade estava diminuindo; alguns copos começaram a decolar. As leis da física não estavam sendo obedecidas.
     Alguns moradores da cidade alertavam que eram anúncios do fim do mundo, mas eles estavam enganados. Aquele era o anúncio de uma nova era, uma mudança cósmica. A noite de segregação estava finalmente acontecendo, e aquilo era culpa de séculos de uma humanidade agredindo o seu próprio lar - a terra e o seu coração, o coração do todo.
     Deus havia avisado aos mais atentos que quando o erro humano estivesse finalmente chegado a um beco sem saída, ele iria descer "a noite" e, através dela, as luzes acesas poderiam ser vistas, identificadas, e seguidas. As luzes apagadas não seriam mais vistas da mesma forma que eram antes, elas iriam desaparecer no escuro da noite. Só que as luzes apagadas teriam uma oportunidade sem igual; elas agora poderiam ver onde estavam as luzes acesas e teriam a opção de irem até elas para se iluminarem também. A noite tornava tudo claro! O que era luz, estava à vista, e o que era escuridão, perto da luz se tornava visível. A noite anunciava a segregação da luz.
     Os anjos do céu não estavam castigando os seres terrenos. A noite só era vista como o fim para aqueles que não escutavam o chamado dela. A noite era na verdade uma oportunidade, uma segunda chance de saltar fora do erro, e de se sintonizar com a vontade dos anjos.
     Mas Deus sabia que apenas a noite não era suficiente, pois haviam poucos quartos acesos na terra para servir de refúgio. Ele precisaria fazer mais do que tinha feito durante todos aqueles séculos.
     Ocasionalmente, como um presente de estações, ele mandava uma luz à terra, como uma chance para os seres da sombra enxergarem a luz; mas o seu plano falhou durante toda a história. Quando a luz ia embora, os quartos escuros ainda não haviam sido queimados na chama da luz, e se perdiam. Como essa nova época era um momento crítico, ele não podia errar novamente. Não haveria chance para novas tentativas. Dessa vez o tiro teria que ser certeiro, ou seria o fim de toda a sua criação divina.
     Ele tirou então a sua última carta da manga, e reuniu seus anjos dizendo:

- Precisamos fazer algo diferente dessa vez. Vou mandar 12 meninos dormindo para a terra - assim protegendo-os -, e antes deles mandarei um menino luz. Ele irá chegar antes dos 12, e, no momento certo, gritará em alta voz: "Chegou a hora! Despertem!" E os 12 meninos escutarão sua voz, acordando para o propósito. 
     Eu preciso que vocês desçam e permaneçam ao lado dele, pois ele chegará antes e sozinho. Ninguém o entenderá, e para que ele não se sinta perdido, vocês precisarão mostrá-lo que nós estamos com ele, porque ele é meu enviado. Vocês não podem ser vistos, como já sabem, mas vocês estão mais preparados agora para esta tarefa do que antes. Das outras vezes em que falhei em meu projeto, vocês eram novos e eu treinei vocês enviando-lhes para guiar meus meninos luz. Dessa vez vocês estão experientes e mais preparados, não há porque haver erros.
     Mandarei cada um dos meus 12 meninos para cantos diferentes da terra, para proteger cada um deles. Alguns colocarei perto e outros longe do menino luz. Eles irão viver normalmente, como qualquer outro ser humano, até chegada a hora. Eu estarei vigiando-os até esse momento, portanto não se preocupem com eles. Concentrem seus esforços naquele que eu mandarei primeiro, pois para treiná-lo, colocarei muitas pedras em seu caminho. Quando ele tropeçar, que é parte do propósito, certifique-se de levantá-lo, não deixando-o acreditar que foi abandonado. A cada queda, mostre a ele nossa mão e o nosso semblante, para assegurar-lhe de que há um projeto.
     Quando ele estiver pronto, crescido em entendimento, ele começara a fazer o chamado do despertar e meus 12 meninos o ouvirão, o entenderão, despertando assim para o nosso propósito.
     Desse dia em diante, eles se sentarão os 13 em uma mesa redonda, sem arestas, para que eles compreendam que não há hierarquia entre nós. Todos eles tem a mesma importância perante a mim, cada um com sua tarefa e o seu papel específico. Eles ficarão conhecidos por serem conhecedores do caminho divino e serão meus cavaleiros. Muitos os chamarão de os Cavaleiros da Távola Redonda. 

     Quando a luz estiver brilhando igualmente entre os 13, então onde eles estiverem, flores começarão a brotar desenfreadamente para todos os lados, espalhando a luz por toda a terra.


~* Palavras que saem da Boca

terça-feira, 28 de maio de 2013

O Grito


     Do alto do monte ele gritava para toda a terra ouvir. Venham a mim, venham a mim, ele dizia sem parar. O tempo mudou! Ele gritou e ecoou. O eco batia nas montanhas e atingia as cidades, mas ele não parava de gritar: venham a mim, venham a mim. Cansados de ouvir, alguns correram da cidade. Outros morreram naquela mesma hora, o grito explodiu seus corações. Alguns não escutavam, e acabaram ficando atrás. Outros escutavam... Escutavam cada vez mais...


~* Palavras que saem da Boca

O Quarto Iluminado


        O 4º Iluminado




     Ele estava passando uma temporada com o mago e estava muito satisfeito. Ele era muito bem recebido ali, como se ele fosse um presente para aquela gente, e não um visitante. Ele podia sair a hora que bem entendesse, dar uma volta pelo jardim, explorar novos ambientes do castelo, comer quando sentisse fome... Enfim, ele podia fazer o que quisesse, sem obrigações; ou melhor, ele tinha uma obrigação sim, e o mago era muito firme a respeito dela.
     Logo quando anunciou sua chegada ao mago, informando que queria se tornar um amante da vida, o mago disse para ele que ele deveria estar ciente de uma única coisa. Se ela não fosse cumprida, ele iria pedir que ele se retirasse do castelo. Era a regra do mago, a única regra do castelo. O mago tinha lhe dito:

- Aqui você terá que seguir uma regra muito rígida. Se você fugir à regra, estará perdendo o propósito e não terá nenhuma utilidade em estar aqui. Eu exijo que essa regra seja seguida, e seguida à risca! Você deve fazer tudo o que tiver vontade de fazer, e apenas isso. Se você quiser correr, corra! Se quiser cantar, cante! Se quiser gritar, grite! Se quiser tirar a roupa, tire! E se você quiser brigar comigo, venha e se posicione: quem sabe eu até brigue com você. Mas lembre-se que essa regra está sendo seguida por todos que estão aqui, e eu faço parte do todo. Mas não se assuste, aqui não é um lugar para loucos. Na verdade é sim, para loucos conscientes, e essa consciência está invisivelmente pairando pelo ar do castelo, como um vento que bate mas não se vê. Ela deixa o clima tão suave, que será muito difícil você realizar algum ato agressivo ou destrutivo para nós. Então pode se soltar, a única regra do mago é o coração livre para se expressar, fazer o que quiser, e ser quem quiser.

     Ele podia fazer qualquer coisa ali, mas aquele lugar era tão lindo, tão sereno, que na maioria de seu tempo ele ficava contemplando o jardim, as árvores, as borboletas; ou sentava ao lado de alguém, e ficavam ambos em silêncio, apreciando o momento e a paisagem.
     Mas depois da primeira semana, ele começou a sentir coisas diferentes. Ele, as vezes, acordava irritado, ou ficava triste com muita facilidade. As vezes estava brincando com um cachorrinho, e quando o cachorrinho ia brincar com outra pessoa ele ficava enciumado, e triste. Pequenas coisas o deixavam emocionalmente agitado, e ele perdia sua paz, seu equilíbrio.
     Ele começou a refletir... Aquilo não deveria estar acontecendo. Estando no caminho do mago, ele deveria estar progredindo em paz, e não em desordem. Algo deveria estar errado... Sentiu vontade de consultar a opinião do mago.
     Mas será que o mago iria querer me ouvir? - Pensou. - Parece uma pergunta tão boba: "mago, as vezes estou ficando irritado, ou triste, e as vezes nem tem um motivo específico. E está acontecendo com bastante frequência; eu fico agitado, perco minha paz. Porque isso acontece?" - Ensaiou.
     Não. - Pensou. - Aquilo era muito besta. Eu estaria incomodando o mago e ele me acharia um idiota. Mesmo querendo, acho que não irei consultá-lo.

     Uma menina que estava sentada a seu lado - enquanto eles estavam sentados a alguns metros do parque, encostados em uma árvore - sentiu sua apreensão, e lhe disse:

- Acho que você está esquecendo da única regra do castelo.
- Ahn? - Disse o rapaz sem entender.
- A única regra do castelo bobo. - Disse com uma voz suave, bastante amigável. - A liberdade do coração, fazer o que tiver vontade.
- Mas estou com medo. - Disse meio sem jeito.
- Sim bobo, mas você só sente medo porque a vontade está presente. Se ela não estivesse aí, o medo não teria razão de existir. Teria? De onde ele poderia surgir?

     Ele olhou para si mesmo, refletiu, e disse: - Você tem razão. Se a vontade não estivesse presente, o medo não estaria também.

- Sim, sim, sim!!
- Disse ela animada. - Esse é o nosso erro, cair no medo e não na vontade. O medo é escuridão porque não é real, é criação nossa. Não é de fato real, é anti-natural, apesar de ser vivo quando o sentimos. Vem do nosso passado, da nossa memória, da nossa imaginação. A vontade é luz, porque ela é sua natureza. Você tem que ser firme e escolher em qual quarto você quer ficar; no escuro ou no iluminado. Talvez para chegar no quarto iluminado você precise abrir os olhos no escuro, encarar o medo dele, e caminhar com medo até o quarto iluminado.

- O que você acha que eu devo fazer?
- Do que você tem medo? - devolveu a ele a pergunta.
- De falar com o mago.
- Então do que você tem vontade?
- De falar com o mago.

     Ele ficou chocado. Aquilo agora parecia muito claro.

- Então o que você acha que você deve fazer? - Disse ela dando duas cutucados em sua cintura com o cotovelo, sugerindo que a resposta fosse óbvia.
- Eu entendi você perfeitamente! - Respondeu o garoto. - Devo caminhar no escuro até o quarto iluminado.
- Exaaato!!
- Disse ela batendo palmas eufórica. - Mas vá com calma. Aqui não é que nem filme para sair correndo que nem louco, e chegar logo no quarto iluminado, e ponto final. Final feliz. Não, não... Você baterá em muitas portas escuras até encontrar aquela que estará iluminada. Mas será a mesma luz que estará te encaminhando por todas elas, mesmo as escuras. Você precisa visitar todos os quartos que ela aponta, pois só assim reconhecerá quando finalmente chegar no quarto iluminado. É sempre ela. A todo momento. Mesmo agora.

     Então um silêncio invadiu os dois, e eles permaneceram ali sentados por alguns minutos em silêncio. Depois ele se levantou, se despediu, e saiu à procura do mago, com medo de falar com ele.




~* Palavras que saem da Boca

O Rio que deságua no Mar


     O Rio que deságua no Mar




     Era uma bela manha de sol, e o jovem guerreiro do Rei tinha finalmente tomado coragem para visitar o mago. Ele estava um pouco apreensivo, pois ouvira dizer que o mago é imprevisível. "Nunca se sabe se ele te abraçará ou se gritará com você" - era o que diziam. Mas ele conhecia duas outras pessoas que disseram que quando passaram a entender o mago, foi a melhor coisa que poderia ocorrer em suas vidas e que jamais iria acontecer algo parecido, porque aquilo era a porta para todas as outras coisas boas que a vida podia trazer.
     O entendimento é uma porta mágica. Através dela, todo o resto do mundo se abre. O mago costumava compará-la à Caixa de Pandora; a caixa misteriosa que tudo contém, e que, uma vez aberta, tudo que estava do outro lado dela seria trago a essa realidade.
     Mas ele estava apreensivo mesmo assim, visitar um ser humano que não tinha padrões era uma ideia assustadora. Era como visitar um leão selvagem; ele é calmo, mas nunca se sabe o que ele irá fazer. Só que a vontade de visitá-lo já era maior do que esse medo. Se todos melhoravam de forma inimaginável - como diziam - suas vidas depois de entrarem no caminho do mago, ele também queria entrar e provar aquele sabor "do céu", como era comum ouvir o mago dizer.
     Então o rapaz, mesmo com o nervosismo presente, começou a fazer sua mochila de viajem. Geralmente as pessoas que se encontravam com o mago, costumavam passar uma breve temporada por lá, então ele colocou roupa o suficiente para passar sete dias. Bagagem pronta, colocou o seu melhor roupão, para estar bem apresentado, vestiu sua armadura de ferro, colou a espada na bainha, e partiu.

     Chegando próximo ao castelo do mago, o rapaz começou a ficar inquieto. Parecia que tinha alguma coisa querendo invadi-lo, era uma sensação muito estranha, como se aquilo quisesse levá-lo embora de seu corpo, quisesse-o fazer se perder de si mesmo.
      Quando chegou ao jardim, aquilo começou a se tornar insuportável, pois ficava cada vez mais forte a medida que ele chegava mais perto do castelo. A sensação que ele tinha era a de que, se não se segurasse em si mesmo, iria desmaiar, perder a sanidade, ou no caso extremo até morrer. Mas ele não era maluco; se não tinha nada ali visível, então aquilo não poderia ser real, deveria ser somente coisa de sua cabeça, logo iria passar. Só que quanto mais ele ia se aproximando do castelo, mais forte aquele incomodo ia se tornando. Era como se aquilo estivesse vindo diretamente do castelo. Mas o rapaz era um guerreiro, um guerreiro astuto; não seria qualquer incomodo que iria derrubá-lo ou fazê-lo desviar. Ele se manteve firme em sua posição e não permitiu que aquilo o invadisse.
     Quando entrou no castelo, foi diretamente à procura do mago perguntando a uma das pessoas que moravam ali onde é que ele estava. Lhe disseram que poderia encontrá-lo na sala de música, e foi para lá que ele se dirigiu. - a inquietação ainda se fazia presente.
     Quando chegou na sala de música, o mago estava cantarolando e dançando com três outros jovens, duas moças e  um rapaz, e quando ele entrou, o mago o recebeu dizendo:

- Meu rapaz, meu rapaz... Veio cantarolar conosco, ou o que me traz?
- Mago, eu vim em busca do caminho supremo! - disse o rapaz enchendo o peito de orgulho.
- Sério meu rapaz? É uma pena - disse o mago desapontado -, pois eu ofereço só o caminho que segue diminuindo. Você terá que procurar na cidade, talvez lá alguém saiba te guiar neste caminho que te torna um dos grandes.
- Não mago. - disse em tom de culpa - Me desculpe, eu procuro o seu caminho...
- Você não pode vir no meu caminho, aqui andamos descalço. - o mago estava de botas, e o rapaz olhou para seus pés desconfiado - Não se surpreenda se eu lhe disser que estou sem roupas, mas eu estou completamente nu! - ele estava vestindo três camadas de roupa, uma por cima da outra - Você enxerga minhas roupas, mas elas não estão em mim.
- O que você quer dizer? - disse o rapaz em tom de desaprovação. Ele estava pensando: "esse cara é maluco".
- O que eu quero dizer é que você tem muita bagagem, eu não posso chegar até você assim. Você precisa se despir.
- Eu não vou tirar minha roupa - disse ficando irritado - isso é maluquice! O máximo que posso fazer é retirar minha mochila - e ao mesmo tempo em que dizia, foi retirando ela dos ombros e colocando-a no chão.
- Meu jovem... - disse o mago mudando o tom de voz e chamando-lhe atenção - No caminho você só poderá vir por inteiro. Se você vier pela metade, ficará no meio da estrada. Devo lhe alertar que no meio da estrada você está perdido. Você não pode ir nem para um lado, e nem para o outro. Ficará maluco.
- O que eu posso fazer então? Só tirarei minha roupa se vocês fizerem isso também. Não farei isso sozinho. Tenho honra, sou guerreiro, não irei fazer papel de tolo.
- Nós já estamos sem roupa. - disse sorrindo. Todos estavam vestidos, e muito bem vestidos. - Você não. Além dessa armadura pesada que carrega, há duzentas mil vestimentas por trás. Deixa eu te explicar melhor. Você deve estar ciente de que o caminho do mago é o caminho do amor, não é mesmo? - ele confirmou com a cabeça - Pois bem, o amor vai querer te levar, e se você estiver com muita bagagem, perderá o trem e ficará no meio da estrada.
- Mago, perdoe-me. - disse humildemente - Eu não consigo entender.
- Você só vai me entender se você retirar a roupa. Se o fizer, o entendimento será instantâneo, pois irei imediatamente entrar em você. - disse sério em tom sugestivo, mas rindo por dentro, pois sabia no que ele iria pensar.
- Se afaste de mim! - disse desembainhando sua espada e apontando-a para o mago - Você é insano!
- Ha, ha, ha. - o mago caiu na gargalhada - Amigo, guarde a espada, foi só uma brincadeira. Vou te explicar melhor: o que você sentiu logo quando se aproximou do castelo?

     Ele se assustou. Não era possível que o mago sabia daquilo. Aquela inquietação era só coisa de sua cabeça, nervosismo talvez, será que o mago era vidente?

- Eu não sou vidente. - prosseguiu o mago como se tivesse lido seus pensamentos - É que isso acontece com todos os que chegam aqui pesados, cheios de bagagem. Eles não querem se livrar delas, e por ser assim, sentem essa inquietação agoniante. O amor não pode entrar em você se você estiver resistindo a ele, e esse é o papel que você, bagageiro, faz muito bem. O amor levará você para suas próprias águas, como um rio que está sendo levado ao mar. O rio não faz ideia alguma do caminho que ele está seguindo, mas ele continua indo e desaguar no mar é uma certeza. A bagagem é como uma represa no caminho desse rio. Se você a colocar no meio do caminho, o rio parará de fluir e deixará de ser um rio. Você é o rio, e o seu passado é a sua bagagem, a sua represa. Você segura tanta coisa aí que o rio não pode te levar. Assim você está deixando de ser o rio, perdendo a oportunidade, e nunca conhecendo o mar.
     Aqui cultivamos um ambiente de amor - continuou o mago -, e você pode sentir a vibração dele quando se aproxima do castelo. Aqui ele está poderoso, pois temos muita gente sustentando-o, e a bagagem não consegue resistir por muito tempo à sua força. Aqui ela não tem poder como tem na cidade. O amor é a força mais arrebatadora que o mundo já conheceu. Ele carrega a pessoa embora com toda a sua bagagem e o seu passado, deixando apenas a água de seu próprio rio fluindo em direção ao mar. O amor leva embora o controle e passa a se tornar quem você é. O amor se torna o guia, a luz, e você é apenas o seguidor. Mas quem se torna o rio, descobre uma segurança inimaginável em estar sendo levado por ele, pois ele sempre irá desaguar no mar.
     A inquietação que você está sentindo é porque você está resistindo e se segurando em sua própria bagagem. O amor não pode entrar em você assim, porque ele tomará conta de você por completo. Você desaparecerá nele. Mas para isso acontecer, você precisa primeiro se despir, deixar que sua bagagem vá embora, e se perder no amor, deixando que ele te carregue.
     Estamos todos perdidos aqui, não estamos? - disse o mago acenando para seus três amigos, que confirmaram com a cabeça - Mas pergunte se algum de nós quer voltar para a bagagem? - e os três fizeram cara de nojo e balançaram a cabeça negativamente.
     Perdidos somos ricos, com bagagem somos mendigos. E a diferença é tão grande que eu posso comparar uma formiga com um tiranossauro rex. - e os três balançaram a cabeça positivamente, e um deles disse: - Tiranossauro rex ainda é pequeno, senhor! - o mago riu, e confirmou:
- É verdade.












~* Palavras que saem da Boca

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Construindo o Castelo

     Construindo o Castelo




     Ele acordava todas as manhãs em seu castelo mágico. Mágico porque era especial, aquele castelo tinha algo que os outros lugares não tinha de parecido. Ele atraia pessoas, animais, flores e borboletas; em proporções cada vez maiores.
     Assim que chegasse próximo ao castelo, uma mudança extra-física era sentida. Um silêncio invadia a consciência, e uma presença amorosa era sentida. Ninguém sabia de onde vinha aquilo, se eram dos animais, das árvores, das flores, ou dos seres humanos que ali habitavam; mas era algo muito poderoso. Poderoso e perigoso ao mesmo tempo, porque era tão gostoso estar ali, que muitas pessoas decidiam não voltar mais para a cidade e ali permaneciam.
     O mago não se importava, quanto mais pessoas morassem com ele, mais o castelo crescia, e a energia e a beleza dele também. Era uma energia de transformação. Se você parasse ali por algumas horas, e não tivesse corrido, correria um grande risco de esquecer o passado e de se tornar outra pessoa, alguém que você nunca conheceu.
     Quem passava uma temporada no castelo, nunca mais voltava o mesmo. Vislumbrava visões sublimes, e a energia dos céus jorrava dali sobre eles. Era toda a beleza de uma vida, condensada num único lugar. A cada quarto era uma nova experiência, e estava sempre surgindo novos quartos através de portas mágicas. Haviam também portais mágicos, que transportavam a lugares diferentes. Você podia entrar por um deles e dar de cara com um lago, com uma floresta, com um bosque, com a praia; eram sempre lugares novos, lugares mágicos. E você podia voltar ao castelo a qualquer hora que quisesse, era só saltar de volta.


     Para construir o castelo, o mago precisou muito bater a cara contra o muro de concreto. Foram anos lutando contra a corrente local, para que pudesse ter o cimento e o piso adequado para erguer o castelo e descansar em paz. O mago não conhecia nada de engenharia, e nunca tinha presenciado nenhum castelo em construção. Ele havia escutado falar de castelos que já existiam, mas ele mesmo não fazia ideia alguma de como eles chegaram a ser erguidos, então ele teve que passar por toda a experiência de descoberta.
     Logo que o alicerce do castelo havia sido erguido, e antes mesmo do jardim estar pronto, as pessoas certas começaram a aparecer e a ajudá-lo a construir o jardim e as torres de proteção. Se não fossem essas pessoas, o mago não conseguiria construir um jardim tão belo e um lugar tão protegido dos perigos do mundo. 
     Centenas de borboletas sobrevoavam alegremente todos os dias, as flores cresciam cada vez mais belas e mais coloridas, e o verde crescia cada vez mais radiante. À noite, era muito comum a visita de vagalumes, que piscavam sem parar, parecendo fadinhas mágicas noturnas, deixando a noite com um aspecto ainda mais magnífico do que ela já é. A lua parecia chegar mais perto do castelo do que da cidade. Quando no castelo, a lua parecia estar muito perto, quase palpável.



   Quando finalmente chegou a fadinha do céu, ela trouxe o pó mágico, e ele pôde finalmente erguer as asas do castelo. Com essas asas, o castelo podia agora voar, podendo chegar a tocar mais rápido outras pessoas e outros jardins. Sem contar que quando o castelo decidia decolar, era um momento sem igual. Ver todo o mundo de cima, onde ninguém podia te tocar e onde você podia tocar o infinito, era uma experiência transformadora, preenchedora.




     O que o mago mais queria era que mais pessoas visitassem o castelo cada vez mais, e que sentissem a energia que propagava dali. Assim, a energia podia invadir novos corpos, e ser levada adiante por eles, atingindo novos horizontes, até chegar ao céu.
     O mago sabia também que quanto mais pessoas morassem com ele, e quanto mais pessoas se tornassem magos também, mais fácil a magia da vida se espalharia pelo mundo inteiro.
     Isso era tudo que o mago queria. Conhecer outros castelos mágicos, poder voar com eles, e poder comer bolos de chocolate diferentes todos os dias.


     A partir de um momento, o mago foi ficando cada vez mais maravilhado. Ele havia parado de trabalhar, mas o castelo não parava de crescer. Na verdade, quando ele parou, foi quando o castelo começou a crescer mais depressa; as pessoas o estavam ajudando. Ele saia para dar uma volta pelo jardim, e quando retornava, havia dois andares a mais e novos habitantes.
     O mago ficava cada vez mais alegre. A energia que ele tinha construído estava retornando para ele através daquelas pessoas. Ele havia passado anos criando toda aquela energia, e agora toda a sua criação estava se materializando e chovendo sobre ele.
     Os bons ventos haviam chegado, como seu mestre Merlim - o mestre dos magos - havia dito que chegaria. O mago merecia. Ele passou anos vivendo uma incerteza desconhecida. Ele trabalhava pela natureza, entregando sua própria vida para viver a poesia da magia. A magia do amor.

     Agora as pessoas só viam a mágica e a alegria, mas será que elas se lembrariam de todas as noites frias que ele passou? Sem castelo, sem amigos. Sem canção, na solidão. Perdido o mago estava, em profunda escuridão.


     Mas para que se lembrar das noites frias? Quando você se tornar um mago, você descobrirá que suas noites mais frias, foram na verdade seus momentos de maiores magia, de maiores descobertas, de maiores transformações. O mago agora vivia feliz. Cada pétala de flor que aparecia, o chovia de alegria. Ele podia ver tudo acontecer, e era tudo tão lindo. O mago já podia morrer, ele já tinha vivido tudo que alguém poderia viver. Mas agora que tudo estava pronto, pra que ir embora e deixar de agradecer? O mago queria continuar ali, porque na verdade, quanto mais o tempo passava, era cada vez mais gostoso viver a vida de forma mágica.
     







~* Palavras que saem da Boca *~









~*~
O cimento foi dado
Para na terra construir
Muitos passarão
Outros ficarão por aqui

Se eu tiver o meu castelo
Poderei retribuir
A alegria que me dá
Jamais encontrarei em outro lugar.

~☮~

domingo, 26 de maio de 2013

A Árvore dos Céus

A Árvore dos Céus


~  ~
Sou uma árvore crescendo
Crescendo em direção aos céus
A cada dia subo um degrau
As vezes dois, as vezes nenhum

Mas a cada andar
Fico mais alto
Deixo minhas folhas
E subo descalço

Deixo meus galhos
Para você se segurar
E também poder subir
E também poder voltar

A cada subida fico mais experiente
Construo galhos mais duros,
Mais resistentes

Quanto mais alto for o degrau
É mais fácil de encontrar o Santo Graal

E sou como é o pé de feijão mágico
Se você me encontrar
Me regar e me plantar
Quando começar a crescer
Se segura num galho!
Pois começarei a crescer rápido
Mais rápido e mais rápido.

-
ʚĭɞ Palavras que saem da Boca ʚĭɞ ~


Passagem...


( ... )

- Mago, você disse que o caminho se encontra no lago calmo, no silêncio interno. Minha mente é muito barulhenta, e esse silêncio interno parece muito distante pra mim. Você conhece alguma magia que me ajude a sair desse barulho?

- Claro amigo. Ouça o som que passa ao seu lado, há barulho aí? Cada verificada é um salto! Logo, logo, você cairá dentro do lago. E aí você não precisará mais aprender magia, você será o mago.

~* Palavras que saem da Boca

(...)

A Fita de Estrelas

       
            A Fita de Estrelas


     Ele ouvira falar do caminho a vida inteira, que era um caminho de riquezas e de vida plena, mas isso nunca tinha despertado sua total atenção. Aos 50 anos, ele estava se sentindo cansado de viver dias, meses, e anos seguindo uma mesma rotina semanal, que deixava sua vida basicamente sem propósito e sem grandes emoções.
     Ele já tinha passado por todas as experiências que o mundo declara serem bem sucedidas. Tinha filhos - tanto menino quanto menina -, tinha uma bela esposa, e um emprego que rendia dinheiro o suficiente para viver uma vida um pouco acima da média. Viajava ocasionalmente - como parte do trabalho - e tinha casa de praia, 3 carros - um para os filhos -, e cada um dos filhos já estavam encaminhados profissionalmente. Estavam trabalhando, estudando, e já ajudavam com boa parte das contas. 
     Como tinha tudo que podia desejar, um vazio perturbador começou a fazer parte de sua rotina diária. Ele perdurou alguns anos com aquele vazio, e quanto menos encontrava a razão específica daquilo, proporcionalmente mais seu interesse pelo caminho crescia. Ouvira dizer que não havia desconforto no caminho, e que no caminho vivíamos em paz eterna. Então um interesse por aquele que realizou o caminho começou a surgir em sua consciência, talvez ele soubesse dizer como é que ele poderia chegar lá também.
     No fundo ele sabia que aquele vazio não era novidade, pelo contrário, ele era muito familiar. Talvez ele sempre estivesse ali, e como estava sempre ocupado, não pôde perceber. Mas as ocupações tinham acabado, e o vazio agora brilhava chamando atenção - era vivo.

     Por meses seguidos ele vinha pensando no mago, e adoraria ter uma oportunidade de encontrar com ele. Mas isso parecia um tarefa impossível. Todos diziam que o mago vivia dentro da floresta, e que não tinha lugar fixo dentro dela. Para encontrá-lo ele teria que buscá-lo, e aquele pobre homem não tinha tempo o suficiente para fazer isso. Ele tinha ocupações de sábado a sábado, e chegava aos domingos morto de cansaço. Além do mais, seria quase impossível encontrá-lo na imensidão daquela floresta. Ainda por cima, seu trabalho era um negócio próprio, era quase impossível tirar férias. Aquela possibilidade se tornava cada vez mais remota.

     Os meses se passavam e ele pensava cada vez mais no mago. O desejo de encontrá-lo parecia uma crescente. Numa noite de quarta-feira, ele teve um sonho muito incomum. Era um sonho tão vivo que parecia realidade, parecia uma mensagem, ele podia até lembrar de cada detalhe perfeitamente. Ele sonhou que um pombo prateado pousava em tua janela, vestindo o chapéu pontudo de um mago. O pombo esticava a perna, e lá havia algo escrito. Dizia assim:
"Escreva para mim!
Este pombo é como seu fim,
Deseje-o, e chegarás até mim.
"

     Nesta manha específica, ele acordou um pouquinho diferente. Ele estava aéreo, não parecia estar presente. Na sua cabeça ainda ressoavam as palavras: "Este pombo é como seu fim, deseje-o, e chegarás até mim". O que aquilo significava? Ele não fazia ideia, mas começou a imaginar que pombo seria esse. Um pombo prateado? Ele nunca havia visto algo parecido; era um prata metálico, será que existia? Ele passou o resto do dia com a frase final na cabeça: "Deseje-o, e chegarás até mim".
     Ele ficou muito intrigado, e durante a semana corrente, nos seus intervalos de almoço - onde almoçava num restaurante próximo do trabalho - ele ficava caçando com o olhar para ver se encontrava algum pombo prateado. Nada de pombos prateados. Tudo o que ele via eram pombos acinzentados e esbranquiçados. 
     Um dia, enquanto procurava o tal do pombo, a moça do restaurante o trouxe o cardápio, e ele reparou que o cardápio havia sido modificado.

- Mudaram o cardápio? - perguntou ele à moça para quebrar o gelo.
- Sim, meu senhor. Mudamos de dono. O Rogério vendeu o estabelecimento para Augusto, Augusto Pombo para ser mais exato. - e na cabeça dele veio o pensamento 
"Pombo? isso só pode ser um sinal!" - Sorte que ele manteve os mesmos empregados - prosseguiu ela -, se não eu teria perdido o meu emprego. - disse meio sem jeito - Mudamos até de logomarca, o senhor já viu?
     Então ele procurou a logo no cardápio, e era um belo desenho de um pombo sorrindo e piscando o olhar. Um pombo prateado. Ele ficou perplexo, e arregalou os olhos.

- Está tudo bem, meu senhor? - disse a garçonete. Ele balançou a cabeça positivamente.
- Sim, esta sim. - disse disfarçando e tentando parecer calmo - É que me lembrei de algo importante. Será que eu posso ficar um pouco sozinho? - e a garçonete confirmou com a cabeça, fez um sinal de reverência, e se retirou.

     Ele ficou pensando... Aquilo era um sinal. Nunca tinha acontecido nada daquele jeito com ele na vida, parecia coisa de filme. Primeiro o sonho e então os sinais. O Sonho só poderia ser uma mensagem, e o mago só podia ser real. O caminho do mago era real. Ele estava absolutamente sem palavras.
     No sonho, a mensagem era: "Escreva para mim!". Então ele começou a imaginar como ele poderia escrever para o mago, já que os sinais lhe indicavam que aquele acontecimento não era corriqueiro. Mas o mago vive na floresta, e a floresta não tem correio. Mesmo se tivesse, o mago é andarilho, ele nunca está no mesmo lugar. Pode ser que sim, pode ser que não; ele é imprevisível, não da pra saber.
     Aquilo parecia missão impossível, mas ele continuou tentando imaginar uma forma de poder enviar uma mensagem para o mago durante o restante do dia que lhe sobrara.
     Ainda no trabalho, quando estava em seu escritório quase se preparando para ir embora, algo fez "toc, toc, toc" pausadamente pela janela. Seu escritório possuía uma janela de madeira, e estava fechada, não sendo possível ver o que estava acontecendo do outro lado da janela.
     O rapaz ficou curioso. Aquilo era muito estranho, nunca tinha acontecido; o seu escritório ficava alto, no sétimo andar. Ficou observando e aguardando atentamente o próximo movimento, mas o silêncio predominou por um longo tempo. Então ele se levantou e se dirigiu cuidadosamente em direção à janela para verificar. Se aproximou, e abriu-a lentamente. Era uma janela lateral, de rolamento, sem dobradiças.
     Quando ele a abriu, havia um pombo dourado pousado na janela que estava serenamente coçando suas penas com o bico. Ele era muito belo. Ele pôde ver que em sua patinha direita havia um porta bilhetes.
     Isso era impossível. - pensou o senhor - Um pombo correio? E ainda por cima um pombo dourado? - As penas do pombo brilhavam no reflexo do sol de fim de tarde, parecia ouro. Isso tudo só poderia ser magia. A magia era mesmo real. Todos os acontecimentos apontavam para isso, confirmando sua existência. As dúvidas do rapaz diminuíam cada vez mais.
     O porta bilhetes era muito pequeno, só caberia espaço para um papel minúsculo, e assim só caberiam espaço para poucas palavras. Então ele lascou um pedaço de folha de caderno, e escreveu bem apertadinho: "Não posso sair da cidade, qual seria a sua vontade?". Logo depois, enrolou o papel em forma de pergaminho e colocou gentilmente na patinha do pombo, que iniciou voo quase que instantaneamente.

     No outro dia, por volta do mesmo horário, novamente algo estranho bateu pela janela de seu escritório, mas dessa vez foi apenas uma batida, e com muito mais força. Quando ele abriu a janela, havia uma pedrinha de quartzo e um papel amarrados com uma fitinha vermelha, que bateu com tanta força na janela de madeira, que a marcou com um buraco.
     Ele desamarrou a fitinha avermelhada - era uma fitinha linda. Era vermelha com bordas douradas, e com diversas estrelinhas também douradas espalhadas por toda a fita - e abriu o bilhete que dizia em letras muito delicadas:



"Faça uma coisa diferente a cada momento.
Se você sobe a escada de um lado, suba do outro.
Use essa magia para diferentes movimentos, e em diferentes horas do dia.
Assim você se tornará cada vez mais vivo, mais atento, mais rico.
"
     


Mongol, penso sempre em você.
Pode ser que agente se estranhe, mas alguma coisa acontece.

~* Palavras que saem da Boca *~