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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Vida dos Anjos


     Ele abriu as asas pela primeira vez. Eram asas longas, branco prateadas. De ponta a ponta, de uma asa a outra, media em torno de três metros. Aquelas asas poderiam abraçar facilmente mais de dez pessoas.
     Por longos séculos ele havia vivido na terra, aprendendo as lições e passando pelos testes de fogo do espírito. A Energia-prima estava muito contente; era difícil encontrar um espírito tão determinado em encontrar o caminho luz. Os seres da terra costumavam comparar o diamante - uma pedra preciosa - a uma das coisas mais valiosas que a Mãe-terra havia criado. Aquele espírito com certeza era um diamante.
     Ele não podia ver a Energia-prima, mas todos os espíritos nascem com o conhecimento intuitivo de que existe algo que não se vê, e é exatamente isso que determina a prova dos anjos - seguir essa intuição cega.
     Não vacilar, é algo muito difícil. Quanto mais se busca aquilo que não pode ser visto, mais o espírito vai ficando sozinho, mais o espírito se distancia dos seres da terra. Essa é a prova máxima: andar sem ser visto, caminhar sem saber, e seguir estando perdido. É como estar na beira de um precipício e ouvir uma voz desconhecida e amigável dizer: - "Pule! Confie em mim.", e pular sem segurança, completamente vulnerável e sujeito à queda. Não há segurança, nenhumazinha sequer.
     Só um anjo pode ver um anjo. Quem não é anjo, ao ver um anjo verá um ser da terra, mas alguma coisa o dirá: "aquele ser da terra tem algo". As asas estão ali, batendo; mas elas não podem ser vistas com olhos humanos, apenas com olhos de anjo.


     Os anjos estão no meio de nós, vestindo ternos e calças jeans. Estão nas faculdades, nos templos, nos consultórios e nas cidades. Eles são vistos como humanos, mas é bom que seja assim; faz parte daquilo que não se vê. Mas eles falam diferente, e algumas vezes se comportam diferente; também é exatamente como aquilo que não se vê.
     Os candidatos a anjo, os espíritos que embarcaram na jornada invisível, são atraídos por essa coisa misteriosa - que vem tanto dos anjos, quanto dos eventos cotidianos -, e não sabem explicar com exatidão o que os atrai. Mas é exatamente assim que é: não tem lógica, não é visível, não tem cheiro e não é palpável. A vida dos anjos vai além dos sentidos humanos.
     Quanto mais procura, menos se vê. Quanto mais se escuta, menos se ouve. Quanto mais se sente, menos se é sentido. Quanto mais investiga, mais se está perdido. Quanto mais se teme, mais se descobre destemido.
     Soa estranho, mas é real; quanto mais se perde, mais se é natural. 






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~* Palavras que saem da boca