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domingo, 18 de agosto de 2013

A Caverna das Ilusões



     Eles entraram na caverna em busca do ouro. Era um grupo pequeno, cerca de sete pessoas, a maioria jovem. Na frente daquela caverna jazia uma placa: - "Entrada proibida. Se entrar, corre risco de nunca mais sair. Muitos já entraram e nunca mais voltaram. Ninguém sabe o que tem ali.". Aquela placa simplesmente não assustava aqueles jovens, eles sentiam que deveriam entrar.
     Caminhando por dentro da caverna, a luz era pouca e haviam muitas marcas pelas paredes, provavelmente dos que já haviam trilhado aqueles caminhos. Haviam escrituras e desenhos. Haviam desenhos de olhos espalhados. Havia desenhos de rostos agonizando em dor. Pessoas segurando a cabeça e o peito, como se estivessem sentindo profundas dores ali. Haviam anjos e demônios, desenhos deles em guerra. Eram coisas muito estranhas, misteriosas e assustadoras.
     Caminhando mais à fundo, haviam desenhos de pessoas confusas e vendo coisas. Juntos deles havia escrito, parecia algum tipo de aviso: "A caverna te engana, nas regiões mais profundas ilusões dela emana."
     Mergulhando fundo, os caminhantes começavam a ver coisas. Era perigoso, a caverna queria enganar, afastar do tesouro. Muitos no passado devem ter se perdido aí. Mas por sorte desses sete caminhantes, eles estavam avisados, foram salvos pelos que tentaram no passado. Eles já estavam preparados para esse encontro: o encontro com as ilusões da caverna.
     Chegando na região das ilusões, a caverna emitia uma neblina invisível que entrava na mente dos caminhantes. Ela misturava os seus desejos, e criava estórias que os afastava da realidade. Ela mantinha você em confusão eterna, era uma roda: quanto mais você acreditasse na ilusão da neblina, quanto mais você se aprofundava na investigação dela, mais você se prendia naquele ciclo eterno. Muitos acharam ter enlouquecido; muitos morreram ali. Essa região era cheia de restos de esqueletos humanos.
     Apesar de avisados, as ilusões eram muito reais. Alguns dos caminhantes se perderam por anos naquela armadilha, mas não totalmente. Eles sabiam que poderia ser ilusão, mas ainda assim a neblina era esperta demais; ela mexia com a mente de cada um separadamente, ou seja, ela usava os pontos fracos de cada um. 
     Eles caíram por um tempo nessa armadilha, começaram a acreditar que estavam loucos. Mesmo acreditando nisso, não voltaram atrás, eles tinham uma coisa que os movia que era ainda mais forte do que eles. Mesmo totalmente confusos, eles continuavam a se aprofundar mais e mais. Eles não desistiam.
     No meio daquela neblina, eles encontraram um banco, e aquele banco estava iluminado. Ganhava destaque no meio daquela escuridão. Havia uma camiseta no chão, uma única bota, e um pergaminho em cima do banco. Alguém devia ter estado ali e deixado uma pista, e parecia proposital. Parecia querer mostrar que sobreviveu àquele lugar. 
     Os meninos pegaram o pergaminho, abriram, e la tinha escrito em letra cursiva:

     "Descobri que vejo coisas, minha mente me disse que isso era coisa de louco, e então eu era um louco. Olhei bem pro rótulo e fiquei atormentado; eu era um doente, um ser rejeitado. Fiquei maluco e isso me adoeceu, não sabia nem mais quem era o Eu. Busquei a resposta, abri meu coração; pedi ajuda para qualquer um dos irmãos. Sentei neste banco, e ele me respondeu:

Loucura é acreditar que sou louco,
Da vontade de se suicidar.
Me torno algo estranho ao mundo e a mim mesmo.
Então perguntei-me o que eu vejo,
E tudo o que eu vejo são pensamentos.
Percebi que passei a vê-los saindo,
Porque dei um mergulho profundo no não-pensamento.

Será que o pensamento teria forma o suficiente para poder sair do corpo?
Se não for assim posso estar louco,
Pois é isso que estou vendo.
Eu particularmente não acho que seja assim,
Tenho consciência de tudo o que vejo,
E tudo que vejo são pensamentos saindo e ganhando forma.

Eu só assisto,
As vezes é até bonito...
Sai faíscas pelo ar,
As vezes vejo imagens;
Talvez eu não devesse me enganar.

As pessoas não os veem porque só veem a forma física.
Pensamentos tem formas sutis,
Somente aquilo que não é pensado pode os ver.


Imagina só quantos pensamentos nessa vida,
E nessa neblina em círculos,
Eu já pensei?"

     E logo ao final do pergaminho, como nota de rodapé, havia escrito em negrito:
     "Não deveria ser chamado de "esquizofrenia", e sim de "ciclo da morte". São todos os eus sendo jogados para fora, todos os eus sendo jogados direto na sarjeta. A sua exposição à luz da consciência é a cura, então basta deixá-los ir, porque escondê-los? O esquizofrênico é só mais um eu, e ele é o pior dos eus, pois segura todos como parte de si."


~* Palavras que saíram da boca