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domingo, 18 de agosto de 2013

O Despertar já aconteceu




- Mago, já tem mais de dois mil anos que os profetas têm falado de um despertar da humanidade. Isso existe mesmo? Isso vai acontecer um dia?

     O mago caiu na gargalhada...

- Filho, isso nunca vai acontecer porque isso já aconteceu! Os seres da terra que em sua nada humilde sabedoria, não podem ver. Eles acham que são conhecedores de tudo, e tudo que não seja seu conhecimento, é patologia. Mas não, nós ainda somos primitivos! Todo o nosso conhecimento intelectual veio dessa nossa primitivês. E se permanecermos ali, não dando atenção ao novo, ao desconhecido, permaneceremos primitivos. Não há espaço para a evolução enquanto não olharmos para o nosso conteúdo atual como ultrapassado.

- Sim mago, eu acho que entendo o que você quer dizer. Só não entendo o que isso tem a ver com o despertar espiritual.

- Ta certo, vou falar sobre isso. O despertar já aconteceu, mas está sendo mal compreendido e, sendo assim, está sendo atrasado. A compreensão de um fato simples irá fazer o despertar simplesmente explodir, de tão rápido. 
     Muitas sementes já germinaram, só que estão sendo supridas de suas regas, e portanto estão morrendo. Essas, quando crescem, geram milhares de frutos. Mas, de 100 que germinaram, só uma conseguiu crescer, porque de alguma forma ela adquiriu uma visão externa à atual, escapando da armadilha patológica.
     Se dermos espaço para as 100 crescerem, ao invés de uma, acabou-se. Elas irão impulsionar toda a humanidade em questão de algumas dezenas de anos.
     Vou explicar melhor. Preste atenção, pois isso é um pouco profundo e difícil de entender; é outra realidade, é desconhecida pela realidade pretérita. Mas se você parar para ver, será bem lógico.
     Vivemos por séculos como acumuladores de energia, e isso é o estado não-desperto da humanidade. Vivemos todos para dentro, sem saber desse tal fato. Vivemos sugando energias de fora, transformando-as em pensamentos, e acumulando-as dentro de nós. A energia nunca pode circular, pois ela está sendo armazenada, e sendo assim, ficamos pesados com o tempo. 
     Se você olhar à sua volta, todos os seres que vivem assim, quanto mais envelhecem, mais perecem, mais duros e fechados eles se tornam. E esses são praticamente 99% do todo. Vivemos para dentro, e podemos até nos enganar achando que vivemos para fora. Não, não... Todos os nossos processos estão sendo internos, apenas não temos consciência disso.
     Quando o ser passa a meditar, a se auto-investigar; quero dizer, buscar olhar para si mesmo e entender os seus próprios processos; não é que ele passa a viver para dentro. Não, isso ele já fazia. Ele apenas passa a ter consciência de que vive para dentro, porque começa a ficar consciente de seus processos.
     Com o continuar dessa observação dos processos, ele chega a um ponto que mergulhou tão profundo no entendimento deles, que ele adquire tamanha profundidade, que os pensamentos não podem mais serem guardados - ele para de coletar e sugar informações externas. 
     Não é exatamente que ele para, o ser reconhece que essa é a barreira. São esses processos de acúmulo que o envelhecem, que o estressam, que o adoecem; que não deixam a energia circular, tornando-a assim um parasita.
    Então ele chega a tal ponto que ele simplesmente para de viver para dentro - como se o processo de viver para dentro fosse cancelado -, e então ele para de coletar e sugar informações externas. 
     Tudo aquilo que ele acumulou durante toda a vida, e que veio sobrecarregando-o, ainda está ali. Apesar do processo de coleta ter sido interrompido, o corpo ainda está cheio, a consciência está cheia do que coletou. 
     Então a partir daí acontece igual quando entra um espinho e a natureza do corpo o expele para fora, o ser que chegou nesse ponto passa a expelir todo o conteúdo sobrecarregado e acumulado.
     Você está acompanhando até aí?

- Estou sim mago, está interessante. Eu consigo ver exatamente o que você fala.

- Okei. Então vou prosseguir.
     Então tudo aquilo que ele acumulou durante todo o sempre, começa a sair para fora. Se ele permitir o espaço necessário para que o processo se conclua, sem o interferimento pessoal: ele passará a ver coisas, ouvir coisas, sentir coisas, pelo processo inverso.

- Mago, desculpa interromper, mas como assim pelo processo inverso?

- Hum... Um ser antes do despertar - ou seja, 99% dos seres da terra -, antes do aprofundamento em seus processos; ele escuta sons, informações, palavras e vê imagens vindas de fora, e as transformam internamente em pensamentos e as guardam, acumulando informações dentro dele. Cada um faz isso separadamente, então eu e você poderemos ver a mesma imagem e registrar pensamentos diferentes sobre ela, podendo mesmo ver coisas diferentes numa mesma imagem. Então ele vê externamente, mas na verdade ele está vendo por dentro, pois é de lá que ele está interpretando o que vê. Então ele vê algo que ele mesmo está criando a partir do que observa.
     O processo inverso, é justamente o inverso disso, e ocorre quando chegamos naquele ponto em que o processo de acumular de fora é interrompido. Então todo o conteúdo até então coletado, começa a ser expelido de dentro para fora. Então iremos ouvir, ver, e sentir coisas de dentro para fora. Então poderemos ver coisas lá fora, que na verdade estão vindo de dentro. Isso é um simples processo. O mal entendimento disso que é perigoso, pois a pessoa pode achar que está louca, vendo coisas. Sim, está, mas não há nada de errado nisso, é um processo de limpeza.
     Esse processo é perigoso se não for entendido e permitido conscientemente, pois o ser pode cair no erro de interpretar o que vê e o que ouve, tornando a trazer o que está sendo expelido para dentro de novo. Então ele pode entrar em um ciclo, tentando retornar as informações que saem, para dentro. Como ele chegou no estágio de expelir, o seu ser continuará expelindo, e se ele começar a retornar a coletar, ele enlouquecerá, pois entrará num ciclo interminável, um ciclo eterno. Ele escutará e verá as coisas que estão "saindo" dele, e as retomará de fora coletando novas informações. Então essas informações irão ficar indo e voltando, eternamente.
     Se ele der o espaço necessário para o processo de saída ocorrer sem o interferimento dele, ele verá coisas, ouvirá coisas, sentirá coisas, mas não julgará isso como loucura ou como algo que não deveria acontecer - que de fato não é. Ele vai dar o espaço para essa saída ocorrer plenamente, até chegar ao ponto final onde ele esteja purificado. É isso que as pessoas chamam de iluminação espiritual.
     Quando o ser está limpo, um ser puro, ele passa a ver exatamente o que é real, tanto dentro como fora. A energia passa a circular livremente, então tudo que ele vê e sente, é! Não há mais interpretações, não há mais ilusões. Ele passa a viver a vida como ela é, como deus a fez.
     É isso que acontece com as pessoas que adquiriram o rótulo de "esquizofrênicas": elas acabam retornando o processo de saída para dentro, e acabam entrando nesse ciclo eterno, pois o processo de saída já se iniciou. Elas se perdem aí, pois o processo de saída não pode ser interrompido. Ele é um estágio evolucional apenas, é sinônimo de purificação.
     Então o correto não seria dizer: "eu sou esquizofrênico", e sim: "eu estou passando pela esquizofrenia", pois ela é um processo. E a esquizofrenia não deveria ser uma patologia, e nem deveria tentar ser suprida com remédios e terapias. Deveria ser dado um suporte a ela, pois ela é uma benção, é um presente - é a porta do ser se abrindo para as estrelas.
     É apenas um mal entendido. O despertar já está aí.







~*Palavras que saíram da Boca*~

A Caverna das Ilusões



     Eles entraram na caverna em busca do ouro. Era um grupo pequeno, cerca de sete pessoas, a maioria jovem. Na frente daquela caverna jazia uma placa: - "Entrada proibida. Se entrar, corre risco de nunca mais sair. Muitos já entraram e nunca mais voltaram. Ninguém sabe o que tem ali.". Aquela placa simplesmente não assustava aqueles jovens, eles sentiam que deveriam entrar.
     Caminhando por dentro da caverna, a luz era pouca e haviam muitas marcas pelas paredes, provavelmente dos que já haviam trilhado aqueles caminhos. Haviam escrituras e desenhos. Haviam desenhos de olhos espalhados. Havia desenhos de rostos agonizando em dor. Pessoas segurando a cabeça e o peito, como se estivessem sentindo profundas dores ali. Haviam anjos e demônios, desenhos deles em guerra. Eram coisas muito estranhas, misteriosas e assustadoras.
     Caminhando mais à fundo, haviam desenhos de pessoas confusas e vendo coisas. Juntos deles havia escrito, parecia algum tipo de aviso: "A caverna te engana, nas regiões mais profundas ilusões dela emana."
     Mergulhando fundo, os caminhantes começavam a ver coisas. Era perigoso, a caverna queria enganar, afastar do tesouro. Muitos no passado devem ter se perdido aí. Mas por sorte desses sete caminhantes, eles estavam avisados, foram salvos pelos que tentaram no passado. Eles já estavam preparados para esse encontro: o encontro com as ilusões da caverna.
     Chegando na região das ilusões, a caverna emitia uma neblina invisível que entrava na mente dos caminhantes. Ela misturava os seus desejos, e criava estórias que os afastava da realidade. Ela mantinha você em confusão eterna, era uma roda: quanto mais você acreditasse na ilusão da neblina, quanto mais você se aprofundava na investigação dela, mais você se prendia naquele ciclo eterno. Muitos acharam ter enlouquecido; muitos morreram ali. Essa região era cheia de restos de esqueletos humanos.
     Apesar de avisados, as ilusões eram muito reais. Alguns dos caminhantes se perderam por anos naquela armadilha, mas não totalmente. Eles sabiam que poderia ser ilusão, mas ainda assim a neblina era esperta demais; ela mexia com a mente de cada um separadamente, ou seja, ela usava os pontos fracos de cada um. 
     Eles caíram por um tempo nessa armadilha, começaram a acreditar que estavam loucos. Mesmo acreditando nisso, não voltaram atrás, eles tinham uma coisa que os movia que era ainda mais forte do que eles. Mesmo totalmente confusos, eles continuavam a se aprofundar mais e mais. Eles não desistiam.
     No meio daquela neblina, eles encontraram um banco, e aquele banco estava iluminado. Ganhava destaque no meio daquela escuridão. Havia uma camiseta no chão, uma única bota, e um pergaminho em cima do banco. Alguém devia ter estado ali e deixado uma pista, e parecia proposital. Parecia querer mostrar que sobreviveu àquele lugar. 
     Os meninos pegaram o pergaminho, abriram, e la tinha escrito em letra cursiva:

     "Descobri que vejo coisas, minha mente me disse que isso era coisa de louco, e então eu era um louco. Olhei bem pro rótulo e fiquei atormentado; eu era um doente, um ser rejeitado. Fiquei maluco e isso me adoeceu, não sabia nem mais quem era o Eu. Busquei a resposta, abri meu coração; pedi ajuda para qualquer um dos irmãos. Sentei neste banco, e ele me respondeu:

Loucura é acreditar que sou louco,
Da vontade de se suicidar.
Me torno algo estranho ao mundo e a mim mesmo.
Então perguntei-me o que eu vejo,
E tudo o que eu vejo são pensamentos.
Percebi que passei a vê-los saindo,
Porque dei um mergulho profundo no não-pensamento.

Será que o pensamento teria forma o suficiente para poder sair do corpo?
Se não for assim posso estar louco,
Pois é isso que estou vendo.
Eu particularmente não acho que seja assim,
Tenho consciência de tudo o que vejo,
E tudo que vejo são pensamentos saindo e ganhando forma.

Eu só assisto,
As vezes é até bonito...
Sai faíscas pelo ar,
As vezes vejo imagens;
Talvez eu não devesse me enganar.

As pessoas não os veem porque só veem a forma física.
Pensamentos tem formas sutis,
Somente aquilo que não é pensado pode os ver.


Imagina só quantos pensamentos nessa vida,
E nessa neblina em círculos,
Eu já pensei?"

     E logo ao final do pergaminho, como nota de rodapé, havia escrito em negrito:
     "Não deveria ser chamado de "esquizofrenia", e sim de "ciclo da morte". São todos os eus sendo jogados para fora, todos os eus sendo jogados direto na sarjeta. A sua exposição à luz da consciência é a cura, então basta deixá-los ir, porque escondê-los? O esquizofrênico é só mais um eu, e ele é o pior dos eus, pois segura todos como parte de si."


~* Palavras que saíram da boca

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O Exorcista da Luz




     Ele andava com um imenso campo magnético à sua volta. Todos os espíritos que circulavam ao redor, tantos os que estavam separados dos corpos, tanto os que estavam presos no campo energético das pessoas, eram atraídos por esse campo magnético irresistível e então entravam dentro do corpo do exorcista.
     Dentro do corpo dele havia um campo enorme, um imenso espaço. Lá dentro começava a ser travada uma batalha invisível, uma batalha que estava além do físico, do material. Ocorria em outro plano, num plano espiritual. Era uma batalha de dissipação: o espírito era atraído para a sargeta, e então enlouquecia. 
     O exorcista carregava um antídoto, era a luz que dissipa as trevas. O campo magnético atraía todos os espíritos das trevas para dentro daquela luz, e aquela luz os atravessava como raio. Aquele antídoto era veneno para esses espíritos, e, no primeiro contato com ele, os espíritos começavam a gritar e a se debater desesperadamente, pois sabiam que era a sua morte.
     Após uma grande batalha, ocorria uma grande dissipação de energia e ambos os corpos físicos por onde aquela energia havia percorrido, tanto do mediante quanto do exorcista, eram deixados com uma sensação intensa de cansaço físico e mental. Mas era um descanso, um alívio.
     Alguns seres da terra criaram uma grande relação com seu espírito habitante, chegando ao ponto de se confundir com eles.
     Quando o olhar do exorcista o atravessava, aquele espírito era exposto, e a pessoa sentia um medo profundo, pois sempre achou que aquele espírito era quem ela era. Então a sua falsa noção de ser, que era na verdade o espírito habitante, era sugado pelo campo magnético, passava pela superfície, e a pessoa temia perder aquilo que sempre esteve com ela. Ela só não fazia ideia da liberdade que é viver sem parasitas.
     Com a experiência, tanto interna quanto externa, o exorcista descobriu que todos os espíritos eram das trevas, pois na luz só havia um espírito, e era sempre o mesmo em todos os lugares onde ele era. Então não poderia nem ser dito que havia um espírito de luz, apenas havia o espírito. Tudo que não fosse ele, era trevas, era espírito de trevas.
     O exorcista não se importava de ter de lutar tanto, ele até gostava da emoção; ele gostava de ser dissipador das trevas. Mas não era nem questão de escolha, era apenas a sua missão aqui na terra: acabar com o mal de toda uma geração.















Hu hu hum... Vem com força, se não será muito fácil.


~* Palavras que saíram da Boca

O Vírus da Morte



     Ele acordou no meio da cidade atordoadamente assustado. Ele estava vivendo no meio de monstros, todos querendo engolir uns aos outros. Os monstros se olhavam, conversavam entre si, se alimentavam das palavras e conversas; e ele estava apenas estranhando, o que havia acontecido com o mundo? O que havia acontecido com ele?
     Ele sempre vivera ali, no meio do pessoal, e era todo mundo normal. Eram apenas seres humanos. De uma hora para a outra, que nem em sonho quando a gente muda de lugar de repente, ele começou a ver caveiras no lugar daqueles rostos. Aquelas pessoas não estavam mais vivas, estavam todos mortos. 
     Nada havia mudado, estava tudo igual, mas agora ele podia ver algo que antes não via. Eram mortos-vivos se alimentando de toda a vida.
     Agora que ele podia ver, era tudo tão estranho. O amor que é a vida, se transformara em competição, em julgamentos, que é a morte. A competição matava cada ser vivo que aparecia ao redor transformando todos em mortos-vivos. A competição gerava divisão, fragmentação. A competição era o vírus da morte.
     Alguns mortos se alimentavam porque tinham fome, outros mortos apenas ficavam quietos, porque tinham medo, sentiam estarem errados. Mas estavam ambos mortos. Nenhum deles conseguia mais ver nem a morte e nem a vida. O vírus da morte os cegou.
     Mas era através desses dois que o vírus da morte atuava, era assim que funcionava. Os que tinham medo forneciam alimento para aqueles que aprenderam a se alimentar do medo. Eram duas classes de mortos-vivos: os que davam alimento, e os que comiam. Ambos tinham a mesma importância aos olhos da morte. Ela não poderia propagar seu vírus se não existissem ambos os lados, ambos eram necessários. Era um ciclo. Se um dos lados acordasse e descobrisse o que estava acontecendo, a morte e o seu vírus cairiam por terra. Se fossem os que comiam, eles parariam de propagar o medo para os que davam alimento a eles. Se fossem os que tinham medo, deixariam de temer e o alimento pararia de ser gerado, e ambos os lados seriam aniquilados.
     Ele olhava fundo nos olhos dos monstros tentando lhes dizer: "gente olha a vida, gente olha a vida...", mas não havia mais nenhum sinal de luz naqueles olhares. A morte tinha se espalhado mais do que ele poderia imaginar.
     Ele ficou desesperado... Saiu correndo pelas ruas da cidade buzinando de porta em porta, mas todas as portas estavam fechadas. Não havia resposta. Nem mesmo na porta de seus amigos ele conseguia uma abertura. A competição tinha se espalhado e matado todo mundo. Era exatamente como um vírus, só que com a velocidade de um tornado.

     Ele saiu pelas ruas novamente e foi em direção aos templos. Meu deus! - Pensou ele. - Nem os locais mais sagrados haviam sido salvos. A morte havia percorrido todo o lugar, agora estava trabalhando lá dentro disfarçadamente. 
     O rapaz postou-se a chorar. Ele nunca houvera sentido tamanha solidão em toda a sua existência. Ele estava sozinho no mundo, e ele não tinha ninguém com quem compartilhar essa descoberta. Ele era o único que via a morte.
     A única coisa que ele não conseguia compreender era porque que o vírus da morte não o afetava; apenas causava um pouco de peso físico, mas não podia tomar conta e agir por seu intermédio.
     Talvez houvesse alguma coisa nele, talvez ele tivesse o antídoto. Ou ele descobriria a razão, ou permitiria a morte tomar conta do planeta inteiro.




~*Palavras que saíram da Boca*~

O Sopro dos Anjos


     Ele sentiu a presença dos anjos. Um sentou ao seu lado direito, seguido por um que sentou ao seu lado esquerdo. Logo depois ele sentiu uma expansão, como se milhares estivessem começando a se reunir à sua volta, um espaço que parecia infinito começou a se abrir. Eles não paravam de chegar. Ele ouviu um sopro bem suave no seu ouvido: "é muito mais do que você imagina". E, sentindo aquela expansão que lhe surgiu, ele teve uma descoberta: "meu deus, eu não fazia ideia da grandeza!".


                                                                                  ~* Palavras que saíram da Boca*~

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O Louco do Banco

~*~



     Todos os dias tinha um rapaz que ficava sentado em um banco no meio da praça. Já haviam se passado cinco dias e ele não saia dali. Ninguém permanecia o dia inteirinho naquele lugar para saber por quantas horas aquele rapaz ficava sentado, mas ele nunca fora visto não estando sentado ali.
     Sempre que aquele lugar era visto, lá estava ele na mesma posição, olhando à sua volta. As pessoas diziam que ele era louco, que tinha perdido a cabeça. 
     Mas não havia nenhum sinal de loucura em seu olhar, e nada que ele fazia era digno de uma pessoa desequilibrada. Ele apenas nada fazia. Permanecia o dia inteirinho sentado ali, observando o ir e vir das pessoas. 
    As pessoas ficavam curiosas, mas ninguém tinha coragem de ir falar com ele. Era muito estranho. "O que eu iria dizer a ele? O que ele iria me dizer? Será que ele gostaria de falar? Será que fala?" Eram muitos pensamentos que impediam as pessoas de matarem a sua curiosidade.
     Havia um rapaz muito orgulhoso e ele dizia às pessoas que não tinha medo. Em um desses dias, ele estava com seu grupo conversando - perto do louco - e eles entraram nesse assunto de ninguém ter coragem de falar com o louco.
     Como conheciam o tamanho do orgulho daquele jovem rapaz, eles disseram que duvidariam que ele tivesse coragem de ir ali falar com o louco, e perguntar a ele o que é que ele tinha. 
     Então ele encheu o peito de ar e disse: - Eu vou! Não tenho medo. E lá foi ele de encontro ao louco, se tremendo, mas se mantendo firme.
    Ele foi se aproximando do louco, e o louco que olhava na direção contrária ao rapaz, virou o rosto e olhou diretamente para o rapaz, como se já soubesse que ele estaria indo falar com ele. O rapaz olhou no olho do louco na mesma hora que o louco olhou para ele, e eles trocaram olhar. 
     O rapaz sentiu uma tremedeira por dentro, e desviou o olhar rapidamente. Seu orgulho tinha ido embora e o seu medo também, era estranho. Agora ele se sentia um pouco apreensivo porque se sentia diferente; algo fora do normal estava acontecendo. Era como se ele não soubesse mais quem era, ou como se ele estivesse sendo algo diferente do que sempre fora.
     Ele olhou novamente para o louco - aquele olhar despertou tanto sua curiosidade, que enquanto ele não olhasse de volta, aquilo não sairia da sua cabeça -, e se sentiu mais à vontade ao olhar novamente. Sem medo, ele se aproximou um pouco mais e abriu a voz:

- Ei cara, as pessoas dizem que você é louco, você é mesmo?
- Hum... - Ele não parecia nem um pouco incomodado com a pergunta. - Se eu sou louco ou não, eu não sei te dizer; mas todo mundo parece louco para mim, inclusive eu. Se responder a sua pergunta: sim, as pessoas costumam achar que somente eu sou o louco.
- Só que você parece realmente diferente, não pode ser normal alguém passar o dia inteiro sentado sem nada a fazer. Porque você acha que as pessoas te chamam de louco?
- Ah... É porque pensamentos surgem na minha cabeça contra a minha vontade.
- Mas na minha também e eu não sou louco.
- Eu te compreendo, também acontece com você. Mas eu estou separado deles, então os vejo cada um como se fossem coisas.
- Hum... Mas todo mundo pensa, isso é normal.
- Não é bem assim que é. Ninguém pensa, o pensamento acontece. As pessoas que dizem que pensam é porque elas se tornam o que é pensado, como se fossem elas que o tivesse feito; mas não o é. Na verdade, muitas delas não tem nem consciência de que o pensamento está acontecendo; é como se o pensamento fosse a única realidade. Mas não é assim que é, o pensamento acontece.
- O que você quer dizer com "o pensamento acontece"? Você não para de repetir isso, já está parecendo música.

- Ora, quero dizer que o pensamento acontece e nada mais. Eu o vejo, você o é. Mas ele acontece para ambos.
- Eu até agora não entendi porque as pessoas dizem que você é louco.
- Eu sou louco porque vejo os pensamentos como "coisas", então eles acontecem sozinho na minha cabeça. Não sou eu que penso, eu sou quem o vejo. As vezes eu olho para alguém e começo a ver muitas coisas.
- Mas... Será que sou eu quem penso? - O rapaz ficou em dúvida.
- Rapaz, escute um conselho: se você não quiser se tornar um louco, não investigue isso. Continue vivendo como se você fosse o que é pensado e então não terá problemas. É o que todos estão fazendo e eu gosto de observá-los daqui, pois sei que eles não são loucos. Se você investigar, descobrirá que você não é o pensamento, então você passará a ver o pensamento como coisa. Então você passará a ver coisas, será um louco.




~* Palavras que saem da Boca.

Sincronidúvida


Eu,
Percepções,
Pensamentos,
E a dúvida.

Será loucura?
Será piração?
Por vezes tenho prova
Por vezes tenho não


Penso em X
E recebo uma mensagem de X
Penso em Z
Z tinha acabado de procurar por mim
Penso em Y

Y logo após liga me procurando

Mas eu to sempre pensando em B...

E B nunca aparece...
O que será que isso quer dizer?





~*Palavras que saem da Boca*~                             

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Legião




Sou a legião.
Não, não acho bom não.
Mas sou assim, fazer o que?

No mínimo não posso temer
Pode ser ruim pro meu caminho
Quem sabe se torne uma pedra?
Quem sabe se torne um espinho?

E se cada morador
Buscasse apenas liberta-se da dor?

Como espírito ora,
Espirito que perdeu o caminho

E se eu pudesse vê-lo?
E não estando preso, prendeu-se a mim?

Como assim?
Ora bolas, como suicida!
Ou como espírito que perdeu a vida.

Posso estar aqui para ajudá-lo
Não, não, você está enganada...
Sim, está.
Eu não sou bondoso.

Estou apenas ajudando a mim...

Talvez eu seja um egoísta
Porque eu não penso dividido.

Ora bolas, eu não posso!
Somos um:
Ele ali, eu aqui.

Nenhum dos dois está perdido
Sou apenas o canal.

~* Palavras que saem da Boca *~

*

O segredo do chapéu de Merlim



Merlim, porque você usa um chapéu longo e pontudo?
- É que preciso de muito espaço vazio. Espaço vazio abarca o que é necessário para novas idéias, então eu deixo sempre um espaço vazio preenchendo minha cabeça.
- Mas Merlim, as ideias surgem do nada?
- Hum... Quase isso... É que o nada não é nada, ele só é nada para caber espaço para muitas coisas que não sejam nada, mas ele tem sua própria qualidade.
- E como surgem as idéias?
- Olha, é simples... É só você jogar algo no nada e esperar pelo retorno. Você só pode receber algo novo a partir do nada, porque para que algo novo apareça é preciso de espaço. Todas as grandes descobertas vieram do nada, surgiram quando a mente humana havia cansado.
     Eu joguei a minha cabeça no vazio, então as idéias surgem diretamente nela. Eu devo salientar que é perigoso jogar a cabeça dentro do vazio, você pode se perder nele. A menos que você esteja ciente dos riscos que estará correndo, é melhor você nem se arriscar. Se você achar que mesmo com os riscos vale a pena, então você é um forte indicado a mago; mas alerto que poderá morrer sem conhecer a magia, ninguém poderá te garantir. Eu mantenho minha cabeça sempre mergulhada no vazio do chapéu, então as coisas surgem espontaneamente de lá.
     De qualquer forma, você pode colocar a sua mão dentro do meu chapéu, já que você não tem um chapéu de mago, e retirar sua própria ideia.
     Para carregar um chapéu e colocá-lo na sua cabeça, você precisará conquistar o seu próprio, como eu conquistei. 
     Vamos, tente uma vez, tente com uma pergunta. Pergunte algo que queira saber. 
     Entenda isso: a pergunta tem que ser sincera, uma dúvida que seja absolutamente sua, do seu coração. Se assim não for, o meu chapéu não poderá ajudá-lo. Se perguntar algo que não venha diretamente de você, a resposta que receberá será confusa, pois a sua pergunta foi confusa para o chapéu. O chapéu é feito do mesmo material que o seu coração, então se a pergunta vier dele, ele saberá responder.
     Você pode estar cheio de ideias que coletou no mundo externo, e assim perdeu sua própria pergunta. Então talvez você precise encontrar um espaço vazio primeiro, porque é de lá que vem os reais questionamentos. Vamos, coloque sua mão aqui dentro e faça uma pergunta...

     E, tirando o chapéu, estendeu-o para que o menino mergulhasse sua mão. O menino mergulhou a mão, fechou os olhos, meditou um pouco... Mais um pouco... Só um pouquinho mais... E algo lhe surgiu... Ele disse em voz alta: "- Quero saber o que é um vício, como posso me livrar dele, e se o amor também pode se tornar um."
     O mago olhou curioso para aquele menino: que pergunta anormal, aquilo só poderia ser real! Mesmo o mago estava curioso para saber o que o chapéu responderia.
     Logo após ter feito a pergunta, uma energia entrou pelas mãos do menino, percorreu os seus braços, tomou conta de todo o seu campo energético, e algumas palavras surgiram como mágica em sua consciência:


     "Qualquer química que entra no corpo tenderá a gerar um ciclo vicioso. A química entra no corpo e abre um novo espaço que antes não existia. Uma vez que esse espaço foi aberto, a química que a preencheu irá embora, pois a química não é fixa. 
     Uma vez que ela vai embora, fica um buraco, um buraco que foi deixado por aquele espaço que foi criado e preenchido. O buraco será sentido como uma falta daquilo, ou mesmo uma nova sensação, uma nova química, que irá preencher o buraco e formará um grupo com aquela química inicial - elas estão de certa forma ligadas, são interdependentes, pois tem origem no mesmo espaço. Essa sensação gera um desequilíbrio, que vai se movimentar para se equilibrar, gerando novas químicas.
     A química pode ser encontrada também nas emoções, pois cada nova química gera uma nova emoção (que é o reflexo dela sentido no corpo), e cada emoção gera uma química associada (que é a informação captada pelo cérebro). O pensamento também pode gerar uma química, pois gera uma emoção.
     Quando a química vai embora, ela deixa um rastro que não existia. Nosso cérebro gera novas químicas para equilibrar com a nova gerada pelo rastro.
     Para sair de um ciclo químico, basta saltar fora daquele grupo químico específico - não alimentando-o -, e depois esperar observando toda a sua variação; seja em pensamentos, emoções ou diretamente da química. É como uma bateria, se você não a alimenta, quando ela está sendo consumida ela se dissipa com o tempo.
     Você tem que esperar, pois qualquer química inserida gerará um novo ciclo, ou dará continuidade ao mesmo. Uma nova química poderá ser também uma reação emocional àquela química já existente.
     O amor também gera uma química, pois gera um novo grupo de emoções, e então um novo corpo emocional, e então um novo ciclo. É ai que tá, vivê-lo ou não?"

     O garoto ficou espantado. Como aquilo era possível? Ele não conseguia acreditar. Começou a duvidar mentalmente com a certeza de que aquilo não tinha sido real. Merlim percebeu sua apreensão e o perguntou:

- O que aconteceu?
- Veio tudo na minha cabeça, palavra por palavra...
- Sim... Mas é exatamente assim, parece mágica. Essa foi uma das razões para que muitos magos e bruxas do passado fossem condenados. Ninguém conseguia explicar de onde eles conseguiam fazer aquelas coisas, então as pessoas começaram a dizer que eles tinham pacto com algum demônio, ou coisas parecidas, então os caçavam possuindo a razão do grupo
. Hoje temos sorte, não somos mais bruxos, somos loucos. Agora fazemos parte do mundo deles, então estamos seguros, não precisamos mais ser caçados.
- Hum... é possível fazer de novo?
- Creio que sim, mas eu não posso dar certeza. Essa mágica depende muito do vento, é ele quem trás... Mas porque não tenta?

     Então mais uma vez o mago estendeu o chapéu e o menino mergulhou a mão. Dessa vez ele já sabia o que perguntar, então disse: "- O que pode acontecer quando eu estiver saindo de um ciclo químico?"
     O menino ficou esperando com a mão lá dentro, mas nada acontecia. Ele sabia que algo tinha dado errado. O mago olhou para ele, desprendeu duas gargalhadas, e disse:

- O que você está esperando?
- Não aconteceu nada.
- Haha, isso acontece. No começo a gente espera que aconteça da mesma forma anterior, mas nunca é igual. O vento sempre te surpreende... Porque não tira a mão?


     E então o menino retirou a mão do chapéu, e sobre a sua palma havia um bilhetinho escrito em letra cursiva:


     "Você poderá sentir sonolência, tipo um "estar aéreo"
     Acontece algo como uma carência, falta, vazio, uma necessidade daquela química específica. Dentro do ciclo, a falta seria sentida como uma busca, e passaria despercebida. Mas fora do ciclo, sente-se uma brecha. É um pouco hipnótico, parece que você está em transe porque sentiu um vazio. Mas o vazio não é uma química, ele é a ausência dela.
     O alerta de que aquilo não está presente, a sensação de buscar aquilo - não é vazia, ela é cheia; e portanto tem uma química. O vazio é a ausência de conteúdo, e o conteúdo é conteúdo buscando por ele mesmo.
     A sonolência é parecida com uma desistência em buscar conteúdo, ou o conteúdo em desistência de sua atividade. É conteúdo inativo, é o conteúdo da falta de conteúdo. A sonolência é o mais vazio dos conteúdos, porque vem da falta deles, vem da janela deles, é o vazio sentindo a química da falta dela. 
     O pensar também é conteúdo, estando assim sempre em busca dele mesmo. O pensamento pensa pensamento que pensa pensamento, e assim vai. A ausência do pensamento, uma brecha, pode ser confundida com uma sonolência, que é o conteúdo da falta de conteúdo ou o pensamento sem pensar. Você pode sentir essa brecha e pensar "estou com sono (... Quero dormir, deveria ir para casa... Que horas são? Nossa, vai demorar...)", ato esse que retornaria para o conteúdo do pensamento. A maioria cai nessa armadilha.
     É fato que a química, o pensamento e a emoção, estão muito interligados. É quase impossível separá-los. É como se eles fossem a mesma coisa, atuando em diferentes planos."










~* Palavras que saem da Boca

domingo, 11 de agosto de 2013

Oi amigão!!! Bem vindo à confusão!


Quando desce a confusão
parece uma morte,
a gente perde o chão.

A gente olha pros lados,
recorda o passado,
mas que porra... 
O que será que houve de errado?


     Eu adorava escrever, não quero mais. Eu adorava comer, também não quero mais. Ler? Nossa, que paixão! Mas não, também quero não. Cantar? Ouvir música? Pior seria.

Mas o que aconteceu?
Onde foi parar meu passado,
aquilo que era eu?

     Se eu passar um dia parado, sentado em um canto apenas observando, vai passar tanta coisa em mim que eu não dá pra entender. Vou sentir alegria, conforto, tristeza, raiva, vazio, riqueza, agonia, amor, paixão, saudade, confusão, fome, sacies, vou sentir vontade de sair, vou sentir vontade de ficar, de não levantar... E é engraçado, é curioso, da até para observar a transição entre cada um desses estados. É como se eu tivesse sempre me movendo, para lá e para cá, mas ora bolas, eu estou sentado no mesmo lugar.
     Qual é o sentido disso? Não tem nada específico causando essa variação, é como se fosse uma roleta girando e girando... Isso é completamente irracional.
     Será que eu quebrei o meu centro emocional? Aquele conjunto de emoções que o Thiago costumava chamar de eu? Talvez eu tenha-o feito um furo, que nem bola de ar, e agora tudo que estava lá dentro começou a sair fazendo aquele barulho típico: "vishhhhhhhhH"
     Hahahaha, se for apenas isso soa bom. Fui ensinado que é no vazio que ocorre o encontro com o Rio. Mas disso não há garantias, não é igual a saber que eu vou morrer um dia. E se eu estiver mesmo esvaziando, as poucos isso irá se aquietando, então essa será minha prova.
     Confesso que com o passar do tempo me sinto cada vez mais leve, só que isso soa pra lá de enganador. Já faz anos que eu sinto que estou ficando mais leve, mas nunca fico totalmente. Olhando em grande salto para o passado, é obvio que ocorreu uma grande mudança. Então mesmo soando enganado, que houve a mudança já é algo que está pra lá de comprovado.



     Me sinto mais consciente... Nossa, bem mais! Eu nem sei mais como era aquele rapaz que ficou para trás. Eu era um sujeito comum e agora eu sou um doidão, birutinha. Confesso a você, se eu pudesse voltar... Ahh, eu bem que voltaria! Hahaha, mas que feia mentira! Não voltaria jamais. Meu mundo cresceu de tal forma que fica até difícil de contar.



     Eu vivia numa toca, e no fundo eu não sabia. Agora vivo tão confuso, pois descubro coisas dia a dia. Vivendo um dia meu hoje, parece que vivi 100 do tempo antigo. As vezes passo o dia sentado, e permaneço o dia inteirinho calado, aí vem um amigo e pergunta: "o que você fez hoje?" Eu não sei nem como responder, pois já fiz tanta coisa. Tanta coisa que passou, tanta coisa descobri, tanta coisa percebi, tanta coisa eu pude ver... Nossa, como fica difícil de dizer! Eu poderia responder: "- Nada, passei o dia sentado.", mas isso seria a maior mentira do mundo, pois apesar de sentado, hora nenhuma estive parado.
     Sei que pode parecer loucura, pois eu também já fui normal. Hoje que sou um louco, percebo o quanto eu vivia pouco. Minha porta estava fechada, mas hoje eu a abri. E agora vivo tanta coisa, que fica até difícil dividir.
     Eu adoraria compartilhar tudo que vejo, tudo que percebo; mas se você se juntar a mim, se você também abrir sua porta, você poderá se assustar... São coisas que se tornam até difíceis de falar. Não porque seja difícil de colocar em palavras, talvez seja um pouco, mas não é bem por isso. Pode soar confuso, e só um doidão poderá entender; ou seja, somente alguém que seja tão louco quanto você.
     Enquanto não encontrar alguém que seja assim, ou alguém que tenha se tornado assim, a intuição o alerta de que falar pode ser o fim. Então se faz necessário um filtro, que para um verdadeiro louco não é preciso construir... O verdadeiro louco possui tamanha sanidade, que o filtro nasceu como parte de sua metade.

     Com o filtro ele pode viver tranquilo. Pode encontrar um não-louco e se comunicar como se não fosse um dos poucos. Mas todo grande louco carrega um desejo e uma grande missão: trabalhar até que o filtro não seja mais necessário. Se isso acontecer um dia, poderemos até marcar no mundo a data de nosso primeiro aniversário!
     Nesse dia, os loucos serão normais... E eu posso até te dizer, as coisas serão também bem mais reais!






~* Palavras que saem da Boca        

O mito da árvore no deserto


     Uma árvore foi plantada no meio do deserto. Num simples dia, um passarinho passou voando e deixou cair uma semente de aroeira. Não haviam condições nenhuma para a semente germinar ali; não haviam nutrientes no solo, não havia chuva, e o sol ardia de tanto queimar.
     Por mais incrível que possa parecer, a semente germinou ali mesmo, no meio do deserto e distante de todas as outras plantas e flores.
     A semente crescia saudável e começou a virar árvore. O sol era demasiadamente quente naquele deserto; um simples ser humano não resistia a um par de horas exposto a ele, rapidamente queimaduras se espalhavam por todo o seu corpo. Aquele sol parecia fogo.
     Semanalmente, fortes ventos causavam uma tempestade de areia que arrastava tudo por onde passava. Era um caso muito estranho aquela muda estar crescendo ali.
     Os habitantes da cidade começaram a ficar muito curiosos... Como era possível aquela árvore estar crescendo sozinha ali? Não tinha água, não tinham nutrientes, o vento arrastava tudo e o sol queimava de machucar. Alguma coisa estava errada; aquela árvore não saia do lugar!
     Os moradores resolveram então investigar: coletaram amostras das areias próximas à árvore para fazer uma análise nutricional. Nenhuma amostra indicava a presença de nutrientes, exceto uma, a amostra coletada mais próxima à raiz. Esta indicava um alto índice de nutrientes e de hidratação. Como aquilo era possível? De onde vinham aqueles nutrientes? O tempo passava e ninguém conseguia explicar, talvez tivesse algo a ver com a raiz.
     Os homens então começaram a cavar próximo à raiz para descobrir se ela estaria retirando nutrientes de algum lugar. Eles cavaram metros, centenas de metros, quilômetros; até que chegaram à rocha e não puderam continuar. Aquelas raízes atingiram profundidades excepcionais, e as raízes ainda estavam grossas ao chegarem na rocha, o que indicava que elas seguiam rocha a dentro.
     Talvez ela estivesse retirando nutrientes diretamente da rocha - pensaram os homens. Mas como uma planta encontrou tamanha força para mergulhar tão fundo, furar a rocha, e tudo isso sem nenhuma fonte de alimento ou água? Era um evento que nenhum ser humano conseguia explicar.

~ =(o)= ~

     Aquela árvore estava linda no meio do deserto. Por estar ali, ela tinha um brilho especial; era a única coisa colorida naquela vastidão infinita. O ar à sua volta ganhava outro aspecto devido ao contraste.
     Por séculos, ela serviu de inspiração para muitos seres humanos. Livros foram escritos, poemas foram escritos, histórias foram inventadas, músicas foram compostas. As pessoas sentavam à sua volta buscando uma conexão com o divino. Não havia nenhuma explicação para tal evento, e então mitologias começaram a serem criadas.
     Por mais que fosse venerada, admirada, e vista como um Deus; a árvore estava apenas ali, à parte de tudo isso, apenas exibindo seu frescor ali mesmo onde nasceu, no meio do deserto.



~* Palavras que saem da Boca *~

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Vida dos Anjos


     Ele abriu as asas pela primeira vez. Eram asas longas, branco prateadas. De ponta a ponta, de uma asa a outra, media em torno de três metros. Aquelas asas poderiam abraçar facilmente mais de dez pessoas.
     Por longos séculos ele havia vivido na terra, aprendendo as lições e passando pelos testes de fogo do espírito. A Energia-prima estava muito contente; era difícil encontrar um espírito tão determinado em encontrar o caminho luz. Os seres da terra costumavam comparar o diamante - uma pedra preciosa - a uma das coisas mais valiosas que a Mãe-terra havia criado. Aquele espírito com certeza era um diamante.
     Ele não podia ver a Energia-prima, mas todos os espíritos nascem com o conhecimento intuitivo de que existe algo que não se vê, e é exatamente isso que determina a prova dos anjos - seguir essa intuição cega.
     Não vacilar, é algo muito difícil. Quanto mais se busca aquilo que não pode ser visto, mais o espírito vai ficando sozinho, mais o espírito se distancia dos seres da terra. Essa é a prova máxima: andar sem ser visto, caminhar sem saber, e seguir estando perdido. É como estar na beira de um precipício e ouvir uma voz desconhecida e amigável dizer: - "Pule! Confie em mim.", e pular sem segurança, completamente vulnerável e sujeito à queda. Não há segurança, nenhumazinha sequer.
     Só um anjo pode ver um anjo. Quem não é anjo, ao ver um anjo verá um ser da terra, mas alguma coisa o dirá: "aquele ser da terra tem algo". As asas estão ali, batendo; mas elas não podem ser vistas com olhos humanos, apenas com olhos de anjo.


     Os anjos estão no meio de nós, vestindo ternos e calças jeans. Estão nas faculdades, nos templos, nos consultórios e nas cidades. Eles são vistos como humanos, mas é bom que seja assim; faz parte daquilo que não se vê. Mas eles falam diferente, e algumas vezes se comportam diferente; também é exatamente como aquilo que não se vê.
     Os candidatos a anjo, os espíritos que embarcaram na jornada invisível, são atraídos por essa coisa misteriosa - que vem tanto dos anjos, quanto dos eventos cotidianos -, e não sabem explicar com exatidão o que os atrai. Mas é exatamente assim que é: não tem lógica, não é visível, não tem cheiro e não é palpável. A vida dos anjos vai além dos sentidos humanos.
     Quanto mais procura, menos se vê. Quanto mais se escuta, menos se ouve. Quanto mais se sente, menos se é sentido. Quanto mais investiga, mais se está perdido. Quanto mais se teme, mais se descobre destemido.
     Soa estranho, mas é real; quanto mais se perde, mais se é natural. 






                                            <|=]~





~* Palavras que saem da boca

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Poema O Lado Negro
















Sou raiva, sou desgosto 
Curto tudo
É meu imposto

Porque não se divertir em ser cruel?
Isso é apenas um papel
É só passagem
É uma metade
Escrevo versos
Destruo o resto

Na minha frente
Sou guerreiro
É estar presente
É ser espelho

Não reprimo
Sou inteligente
Investigue a mim
Sou várias vertentes

Como animal
Solto a raiva
Não me possui
Não é cilada

Pelo contrário,
É divertido.
Como criança,
Sou criativo. 


Minha vida é uma tela
Imagino eu o que pinto nela 

Me imagino gigante
Cheio de poder
Com a fúria de Deus
Me sinto maior do que você 


Se não fosse tão real, não haveria graça.
Mas é mesmo real...
Se existe e vai ficar
A imaginação colori, 

é melhor pra atravessar

Desassociado, o espaço fica vago
Com imaginação livre, é escolha olhar de lado

Sem julgamento de mal ou bom...
Eu escolho,
Sou eu o olho.

Ha, ha
É tudo brincadeira
Por traz da capa estou em paz
De tanto vai e vem
Aprendi a deixar pra trás 


Amor vai, raiva vem
Eu me divirto, sou polissentido 


Olhe para mim, sou mais de cem
Riqueza emocional, me tornou incondicional. 






~* Palavras que saem da boca *~