Aquele jovem conhecia um ancião, um rapaz muito sábio, que havia dito a ele uma frase, quando ele ainda era um menino, que nunca saíra de sua cabeça:
- Quando você estiver cansado do mundo, quando estiver decepcionado com a vida como ela tem sido, quando quiser um viver diferente, com emoções, paz, cor e muita vida; volte a mim. Eu tenho uma jornada para você. A jornada da iluminação.
O velho sábio havia dito também que havia um tempo certo para cada um iniciar a jornada, e que isso era um plano exclusivo da vida, mas que ela sempre chegava a quem, e, no momento certo. Disse ainda que o jovem deveria viver um pouco mais, pois ele ainda não tinha atingido o pré-quesito necessário para a jornada: a desistência.
Na época, ele era apenas um garoto, e não havia entendido muito bem tudo o que o ancião havia dito; mas aquilo nunca saíra de sua memória.
Hoje, já adulto, as coisas começaram a fazer mais sentido. As palavras do ancião foram ganhando vida e entendimento, à medida que ele foi crescendo.
Ele houvera passado por muitas decepções, tanto no lado profissional, quanto nos relacionamentos íntimos, família e amizades; e tudo isso o fizera sofrer bastante.
Sempre que ele entrava em uma crise de angústia, um eco vinha na sua mente, era a voz do ancião: “... quando estiver decepcionado com a vida como ela tem sido, quando quiser um viver diferente... Volte a mim.”
Ele estava bastante decepcionado com a vida, totalmente. Era certo que ele queria um viver diferente, aquilo já tinha passado dos limites. É, a vida tinha perdido todo o sentido... Era hora de procurar o ancião.
Lá foi ele em busca do ancião...
O ancião morava perto do bosque, numa grutinha próxima à saída da cidade, bem nos limites dela. Ele deixava a grutinha sempre enfeitada e perfumada. Era sempre gostoso entrar lá. Todos os dias ele mudava a decoração. Às vezes tinha estrelas, às vezes flores... Às vezes só algumas velas, uma em cada canto. Ele era muito criativo.
Como não tinha iluminação lá dentro, o pessoal da cidade, que constantemente o buscava para pedir conselhos, sempre o presenteava com velas coloridas e perfumadas, em sinal de gratidão. O ancião adorava.
Quando chegou lá, o ancião, como se já soubesse, antes mesmo dele falar, disse:
- Está preparado?
O jovem confirmou com a cabeça, dizendo logo em seguida:
- Cansei de tudo, tudo está uma bosta. Nada faz sentido, eu não consigo manter nada fixo. Nenhum relacionamento, nenhum emprego... Nem as minhas vontades são fixas. Eu não compreendo mais nada, estou perdido. Completamente desiludido e confuso.
- Cansei de tudo, tudo está uma bosta. Nada faz sentido, eu não consigo manter nada fixo. Nenhum relacionamento, nenhum emprego... Nem as minhas vontades são fixas. Eu não compreendo mais nada, estou perdido. Completamente desiludido e confuso.
O ancião abriu um largo sorriso:
- Perfeito!!! - Exclamou ele, animado, estendendo as mãos para cima. - Antes, vamos tomar uma xícara de chá... Acabei de botar a água para esquentar...
- Perfeito!!! - Exclamou ele, animado, estendendo as mãos para cima. - Antes, vamos tomar uma xícara de chá... Acabei de botar a água para esquentar...
Depois que a água já estava fervendo, o ancião pegou duas xícaras, inseriu o sachê de chá, e colocou água quente até a borda. Enquanto esperava o chá diluir, o ancião abriu uma gavetinha, e tirou um fumo.
- Quer um pouco? - Disse o ancião, oferecendo fumo ao rapaz.
- Não, obrigado - negou o jovem. - Eu não fumo.
Então o ancião enrolou o fumo, levou ele à boca, enquanto pegava as xícaras e sentava-se ao lado do rapaz, entregando uma das xícaras na mão dele.
O ancião acendeu o fumo, e eles tomaram o primeiro gole de chá.
- Eu devo lhe alertar - disse o ancião, soltando a primeira tragado de seu fumo -, não é uma jornada simples, mas no fim dela, o pagamento vale todas as vidas que você possivelmente já viveu.
- Você já trilhou ela? - Perguntou o jovem.
O ancião deu uma gargalhada.
- Ainda não - respondeu o ancião. - Mas me contaram que é assim e eu quero ver se é verdade através de sua experiência.
O jovem ficou incrédulo.
- Como assim?! - Disse ele, irritado. - Você está me mandando fazer e falando de uma coisa que nunca viveu?
- Uhum - confirmou o velho, sorrindo e soltando um pouco mais de fumaça. - Relaxe, você vai ser a cobaia, então descobriremos se é verdade.
O jovem se levantou, bastante nervoso.
- Você deve estar achando que eu sou algum idiota, não é? - Perguntou ao velho. - Eu não vou participar dessa maluquice, faça isso você... E eu que confiei em você a minha vida inteira... Que idiota que eu sou... Eu vou é embora - e começou a andar.
O ancião caiu na gargalhada de novo. Enquanto ria, fazia um gesto de mãos, sinalizando para o rapaz esperar.
- Sente-se, meu querido - disse ele, concertando-se do riso. - Eu estava apenas brincando, queria ver sua reação. Foi divertido. É claro que eu já trilhei, por isso falo do caminho com tanta convicção e clareza.
O jovem voltou-se a sentar, dando um sorrisinho sem graça. Ele estava se sentindo ridículo.
- Você precisa entrar na Caverna das Profundidades - começou a contar o ancião -, e ir caminhando para mais fundo nela até encontrar a Fonte Eterna. Quando encontrá-la, ela te ilumina e preenche sua vida de bençãos, iluminando também grande parte das pessoas do planeta.
- Não parece tarefa difícil - completou o rapaz. - Eu acho que posso fazer isso.
- É aí que você se engana - disse o ancião, sério. - A caverna é protegida pelos Espíritos da Eternidade. O trabalho deles é garantir que só o buscador sério encontre a Fonte Eterna, mantendo ela assim segura de mal intencionados. Eles confundem e testam o buscador até ele desistir. É tentador. Raríssimos buscadores vão até o fim, mas são estes que encontram a Fonte Eterna e dão continuidade à iluminação do planeta. Se o buscador foi até o fim, sem desistir, ele é um buscador real. Ele se torna um rei, a Fonte Eterna se encarrega de torná-lo um rei.
- Não é para qualquer um - contou o ancião.
- Ainda assim, não parece tarefa difícil - disse o rapaz.
O ancião deu um sorriso maldoso.
- Você é muito confiante - afirmou ele. - Vamos ver até onde essa confiança te leva. Você quer mesmo fazer isso?
- Quero - confirmou o rapaz, decidido.
- Hum... - Deixou escapar o ancião.
Então eles tomaram o resto da xícara de chá em silêncio, enquanto o ancião tocava fogo em seu fumo.
Terminado os dois, o ancião se levantou, pegou as xícaras vazias, as colocou em um canto da gruta, e disse: - vamos andando.
Eles se levantaram e saíram da gruta, caminhando em direção ao bosque.
No caminho, o ancião foi contando que a Caverna das Profundidades estava escondida no bosque, e que ele poderia apenas mostrar a entrada do caminho. O rapaz é que teria que entrar e caminhar sozinho.
Ele contou também que é uma caminhada absolutamente solitária, que os passos são únicos, próprios e exclusivos de cada um, então ninguém poderia ajudar. Só ele poderia caminhar, ou desistir, se preferir.
Ainda caminhando...
- Ancião...
- Pois não?
- O que a Fonte Eterna faz? - Perguntou o rapaz.
- Você saberá quando encontrá-la - respondeu o ancião.
- E como ela é? - Perguntou novamente o rapaz.
- Você saberá quando encontrá-la - disse o ancião.
- E como eu vou saber que a encontrei, então? - Perguntou mais uma vez o rapaz, impaciente.
- Você também saberá - respondeu o ancião. - Quando você souber, é porque a encontrou, então saberá, porque sabe.
O rapaz não entendeu bulhufas. Mas a conclusão que ele tirou era a de que, se ele um dia conseguir, ele vai saber que conseguiu. Então se ainda não souber que conseguiu, é porque ainda não conseguiu.
Eles caminharam então mais um pouco para dentro do bosque e, finalmente, depois de longa caminhada, chegaram até uma caverna.
- É aqui - disse o ancião, apontando para a caverna. - Eu não posso entrar com você, você tem que entrar sozinho. Eu só posso mostrar a entrada do caminho, é você quem tem que seguir, independente de mim.
- Ok - confirmou o rapaz. - Mas o que eu preciso fazer?
- Dentro da caverna, há uma pedra de cristal azul, em cima de um suporte - contou o ancião. - Não há como errar, ela é bem chamativa, bem característica. Emite uma luz forte.
- Certo - confirmou o rapaz, com um aceno de cabeça, demonstrando que estava atento.
- Toque nela - continuou o ancião -, e sua jornada começará.
- Só isso? - Perguntou o rapaz.
- Só - confirmou o ancião. - Pode ir.
- Mas o que vai acontecer quando eu tocar nela? - Perguntou o rapaz, meio desentendido.
- Eu não sei - respondeu o ancião, desapontando o garoto. - Isso eu não posso responder, depende de cada um. A jornada começará, isto é tudo o que eu posso dizer.
- Tudo bem - resmungou o rapaz, se sentindo estranho. Ele estava sentindo um pouco de apreensão, sem a informação do que aconteceria. - É assim com todos, não é?
- Exatamente - confirmou o ancião. - Tem que ser corajoso, estar disposto a correr riscos, cegamente.
- Está bem - respondeu o rapaz. - Vou indo.
- Vá.
Então o jovem deu um passo à frente e começou a caminhar. Logo que entrou na caverna, o ancião veio correndo...
- Espere!! - Gritou ele.
- Ahn? - Respondeu o jovem.
- Siga seu coração, não importa o que seja, não caia em tentação - disse o ancião, com um ar bem sério. - Agora vá, boa sorte.
- Ok - respondeu o rapaz, agradecido.
O ancião foi então voltando para a gruta, dizendo para si mesmo no caminho: - pobre rapaz... Pobre rapaz...
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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