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Neandertal era uma cidade solitária, onde lá habitava um louco. Ele era o louco mais estranho do mundo.
Ele não tinha problema mentais, tampouco fazia coisas loucas. Não tinha acessos de raiva e também não se descontrolava. Ele era louco porque era sensível. Ele tinha uma sensibilidade extrema, que, aos olhos do povo da terra, era loucura. E era mesmo.
Em Neandertal, ele vivia bem. Era uma cidade construída por ele, rica em muitos sentidos, porém, solitária. Só cabia espaço para ele naquelas terras.
Ele construiu Neandertal para sua própria segurança e proteção. Para a proteção de sua sensibilidade, não compreendida pelos habitantes da terra, mas que ele a tratava como se fosse o seu bem mais precioso. Ele a tratava como se fosse sua própria vida. Isso significa que ele construiu Neandertal, e vivia lá, apenas para proteger o seu bem mais precioso: sua sensibilidade frágil e aflorada.
O Louco de Neandertal sabia que havia uma cura para sua loucura. E a cura para sua loucura era um canal onde essa sensibilidade pudesse ser dada vazão e entrar em fluxo; um canal onde ela pudesse ser compartilhada de forma segura. Sua cura era poder compartilhar sua sensibilidade. Dar vazão a ela.
Neandertal era apenas sua cidade refúgio, construída como um impulso próprio de sobrevivência. Sempre que o Louco de Neandertal encontrava uma porta-canal, sua sensibilidade entrava em curso, tirando ele temporariamente de Neandertal. Mas não demorava muito e a porta encontrava uma barreira e era fechada. Sua sensibilidade batia então na barreira, se chocando contra a porta fechada, e isso machucava tanto ela quanto o Louco. Foi nessas idas e vindas da dor, que o Louco construiu Neandertal.
Sempre que a dor angustiante de ter sua sensibilidade rejeitada e ferida batia às portas, o louco corria para Neandertal e se sentia seguro lá. Neandertal preservava o seu lado mais belo; seu lado feminino e sensível. Havia amor em Neandertal, amor e abrigo, pois fora construída desse mesmo material. Porém, só podia entrar ele e a natureza lá. Nenhum ser humano. E isso era quase um castigo para ele.
O Louco não queria depender de Neandertal. Ele sabia que a saída de Neandertal, ou até conseguir dividir Neandertal com alguém - deixando assim de ser uma terra solitária -, era como num conto de fadas: somente o amor mais puro e verdadeiro de uma mulher poderia ser o canal seguro e tirá-lo, ou abrir as portas, de Neandertal.
Até esse dia, Neandertal seria sempre seu refúgio. Uma terra calma; viva em natureza, em compaixão, em entendimento, em amor, em benevolência e em paz. No entanto, solitária.
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~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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