Ele, biruta. Ela, maluca. Por onde eles iam, as pessoas achavam eles estranhos.
Eles falavam diferente, não tinham tanta coerência quanto as pessoas pareciam ter. Eles agiam diferente, tomavam atitudes que não eram normais as pessoas tomarem. Enfim, as pessoas achavam que eles eram doidos.
Eram muito parecidos em muitos aspectos, porém, muito diferentes também. Moravam distantes e se falavam muito pouco.
Por alguma razão que talvez só o destino saiba, ainda adolescentes, eles se encontraram e, numa mistura de acaso e um pouco de sorte, talvez, se apaixonaram.
Ele falava coisas muito malucas para ela, e ela achava aquilo um pouco fora do comum. Ninguém falava daquele jeito, apenas ele. Talvez isso tenha despertado algum interesse nela, porque, no fundo, apesar de ainda não saber, ela também era uma maluca.
Apesar da maluquice das coisas que ele falava, ela realmente sentia que ele dizia coisas verdadeiras. Era estranho, mas tudo que ele falava se encaixava com as coisas que ela ouvia, percebia, e que sentia lá no fundo. E o mais estranho de tudo, era que o universo que a circundava, parecia que falava dele. E ele, percebendo isso também, em sua maluquice, acreditava que era assim, porque tinha mesmo que ser assim. Como se fosse coisa de destino.
Depois desse breve encontro, eles se separam. Ele, doido por si só, permaneceu doido. Ela, no entanto, nunca fora tão doida como antes de encontrar com ele. Talvez ela já fosse doida lá no fundo, mas ela nunca tivera percebido isso.
O encontro deles foi como um divisor de águas; antes, ela era uma, depois, se tornou outra. Aquilo foi meio que um choque para ela.
Ela, que nunca houvera visto a maluquice que existia nela, enlouqueceu de supetão. Foi difícil para ela, porque as pessoas à sua volta não estavam acostumadas com esse tipo de loucura. Ela foi muito julgada, mal interpretada, e, dócil e sensível que é, não resistiu... reprimiu sua loucura.
De certa forma, isso sempre machucava ela, ela gostava de ser doida. Mas a única forma de não ser excluída do mundo à sua volta, era escondendo sua loucura.
Ele, durante esse longo tempo separados, foi ficando mais louco ainda. A sua loucura nasceu com ele mesmo, e ele já tivera enfrentado todo o mundo à sua volta por causa dela. Ele já tinha feito uma decisão, uma decisão que percebeu pela própria experiência que era o melhor para ele. Ele decidiu: "eu quero ser o louco, independente de como seja. É isso que me faz feliz e me faz ter sanidade."
Alguns anos depois, novamente, eles se encontraram. O estranho de tudo era que ele morava na terra natal dela, e ela morava na terra natal dele. Ela passava as férias na terra natal dele, e ele passava as férias na terra natal dela. Mas, dessa vez, ela houvera voltado para sua terra de origem, o lugar onde o rapaz fazia sua morada. E foi aí que eles se encontraram.
Ela tomou um susto quando encontrou com ele. Ele estava estranho, diferente. Aquela loucura tinha tomado conta. Se ele antes falava coisas estranhas, agora o que ele falava era completamente louco. Se ele era um maluco antes, agora ele era um completo biruta. Ela nem reconhecia mais ele direito. Ele não era mais o mesmo.
Novamente, o encontro deles foi chocante. Tremeu com ela, abalou sua estrutura. Aconteceu muito parecido com o passado, mas agora era um pouco mais forte, mais louco, mais profundo.
As coisas que ele dizia, novamente faziam muito sentido para ela, apesar de serem completamente loucura. E, sem perceber, aquilo foi mexendo com ela. Novamente aconteceu, as águas se dividiram. Antes, ela era uma, depois desse novo encontro, ela se tornou outra.
Ela estava ficando confusa com o que estava acontecendo. Não sabia mais o que era o certo, nem o errado. Não sabia quem procurar, ou como agir. Não sabia se devia conversar, ou permanecer calada. Não sabia se devia ficar só, ou procurar alguém. Estava perdida.
O pior de tudo isso, é que o rapaz as vezes enlouquecia. Do nada, ele dizia coisas que não tinha sentido. Do nada, ele apareceu, e disse a ela: - saia daqui, não quero você perto de mim. Você está me perturbando.
Ela não sabia mais o que fazer. Mas o rapaz, mesmo distante, queria que ela apenas entendesse uma coisa:
O primeiro passo para se encontrar é a coragem de estar perdido.