Aquele rapaz estava ficando cada vez mais conhecido e procurado. As pessoas o procuravam porque estavam sofrendo, suas vidas estavam se tornando cada vez mais pesadas e difíceis de continuar seguindo em frente. Muitas pessoas iam a sua procura alegando que estavam quase a ponto de se suicidarem e que precisavam de sua ajuda.
Tanta procura estava acabando com seu conforto e com sua liberdade, valores estes que por anos buscou cultivar. Não era incômodo para ele as pessoas pedirem sua ajuda, mas ele não queria ser usado, não queria que as pessoas o procurassem apenas por causa de seu conhecimento, isso não fazia sentido nenhum para ele. Ele estava em paz. Queria apenas compartilhar essa paz e amar as pessoas, não segurá-las.
Aquele acontecimento foi tomando tal proporção que ele não podia nem mais sair pela rua sem ser parado. Seu conhecimento passou a se tornar um peso para ele. Na verdade, não era o seu conhecimento que causava o peso, o seu conhecimento o tornava feliz. O que estava causando o peso era que as pessoas estavam tomando conhecimento de que havia o conhecimento com ele, e assim estavam espalhando a notícia de que ele podia solucionar todos os problemas da vida delas. Então, como todo mundo estava cheio de problemas, praticamente a cidade inteira passou a procurá-lo. Não apenas isso, pessoas das cidades vizinhas passaram a procurá-lo também, e, com o tempo, pessoas de cidades distantes também apareceram à sua procura, e apareciam em grupos; grupos grandes.
Ele não estava suportando mais, aquilo estava tomando proporções críticas. Então, numa madrugada dessas, ele pegou suas coisas, avisou o que iria fazer e para onde iria a suas pessoas queridas, e disse a elas para não contarem a mais ninguém onde ele estava. Se retirou então às sombras da cidade e foi caminhando em direção a um bosque. Passou a viver por lá.
De tempos em tempos, as pessoas queridas apareciam no bosque, sozinhas, e traziam suprimentos a ele, passando ambos um tempo juntos. Ele achou ter encontrado a solução, havia voltado a viver sua liberdade e sua tranquilidade junto das pessoas que amava. Não havia nada mais belo e prazeroso do que isso para ele.
Num dia tranquilo de sol e nuvens, logo cedo, enquanto ainda estava tomando um banho de cachoeira, ele foi surpreendido por algo que levou sua tranquilidade embora. Mais de quinhentas pessoas apareceram de repente, tanto homens quanto mulheres, e se instalaram ali. Ele imaginou como essas pessoas o haviam encontrado, pensou que algum de seus queridos poderia haver contado. Depois ele pensou melhor. Era impossível, havia amor entre eles. Logo ele compreendeu. O pessoal da cidade sabia as pessoas que eram queridas a ele. Certamente a falta dele, com o tempo, deixou claro que ele havia fugido, pois todos sabiam que ele não gostava muito de toda aquela procura. Então, era lógico, alguém deveria ter seguido um de seus queridos e descobrido onde ele havia se instalado. Agora não havia como fugir. As pessoas tinham montado suas barracas ali e diziam que só sairiam dali iluminadas, e que ele era o único que havia a resposta para isso.
Como não havia mais o que fazer, ele aceitou seu destino. Quando ele sentava para comer, as pessoas também sentavam e comiam. Quando ele ia se banhar no rio, as pessoas também iam se banhar no rio. Quando ele ia se deitar, as pessoas iam se deitar também. Quando ele descansava em silêncio, as pessoas também descansavam. Quando ele subia em árvores, as pessoas também subiam em árvores.
Um dia, ele simplesmente não suportou mais e disse em voz alta a todos:
- Vocês nunca irão se tornar seres humanos de verdade. Vocês são papagaios!
As pessoas se entreolharam confusas. "Papagaios? Porque ele nos chama de papagaios? Não há nem papagaios por aqui, será que ele está brincando conosco?" - Mas sua expressão facial irritada não deixava muito espaço para acreditarem ser uma brincadeira.
- Porque você nos chama de papagaios, senhor? - Perguntou um do grupo.
- O papagaio pode aprender a falar, e pode aprender a falar claramente; mas ele só aprende as palavras e as frases que escuta sendo pronunciadas por seu dono. - Prosseguiu ele. - Então eles não podem falar por si mesmos, eles só podem repetir. Então nunca aprendem a comunicar de verdade. São mestres da imitação.
As pessoas compreenderam o que ele queria dizer, era óbvio. Eles estavam a dias imitando tudo o que ele fazia tentando descobrir qual era o segredo de sua paz.
- Senhor, nós já dissemos, nós só estamos aqui porque desejamos a paz que você tem e diz que todos podem ter. - Completou outro do grupo. - Nos diga como obtê-la e nós juramos ir embora. Não podemos sair daqui sem essa paz, pois sabemos como é a vida lá fora. Vamos acabar sofrendo novamente, e não demorará até que alguns de nós comece a desejar a morte.
- É muito simples, sério. - Respondeu ele. - É só vocês seguirem a própria natureza de vocês, então terão tudo o que necessitarem até o fim de suas vidas, e terão sem haver esforço, por isso viverão felizes e em paz. Prestem atenção: eu não estou dizendo que não haverá trabalho. Pode haver trabalho mas não haverá esforço. E como pode haver trabalho sem esforço? Isso é algo que vocês compreenderão ao seguirem a natureza íntima de vocês cada vez mais. Pode demorar um pouco para vocês estarem seguindo-a com confiança e coragem plenas, mas tudo começa com um primeiro passo.
Entendam uma coisa: o esforço só existe porque vocês não seguem a natureza de vocês. - Continuou ele. - Seguindo ela vocês farão as mesmas coisas que fazem com esforço, porém sem se esforçarem. Vou dar um exemplo: todos vocês piscam e respiram como eu, correto? Ok. Mas há esforço? Não. Não há porque é natural, acontece. Agora tentem piscar e respirar propositalmente. Observem; depois de algum tempo fazendo-o, logo, logo, irá se tornar um esforço continuar, e será um esforço progressivo. Cada vez mais irá se tornando um esforço maior.
É apenas por isso que vocês sofrem e são infelizes, vocês estão todos remando contra a corrente. - Concluiu ele. - Vocês não estão deixando a vida acontecer, estão querendo fazê-la acontecer de algum jeito. Vocês estão se esforçando, tentando piscar e respirar por vontade própria. E está se tornando um esforço cada vez maior viver assim, então estão crescendo em sofrimento e não em paz.
Deixem a natureza conduzir vocês e parem de me seguir. - Disse firmemente. - Eu não sou a natureza de vocês, é vocês quem o são. Seguindo-a, uma coisa eu posso lhes garantir, vocês não compreenderão mais porque as pessoas se esforçam tanto e são infelizes. Parecerá que é escolha própria delas.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~