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domingo, 8 de dezembro de 2013

Cartas de Amor sem endereço



     Depois que seu avião caiu no mar, ele nadou até a ilha mais próxima. Talvez por alguma obra do destino ele fora o único sobrevivente daquele acidente
     Isolado do resto do mundo, os seus primeiros dias foram até tranquilos; ele aceitou bem seu destino. Possuindo grande confiança na vida, não era muito de julgar o que acontecia, assim vivia sempre em paz consigo mesmo. Então, como sempre, olhou para o lado positivo. Confiou que não tinha caído ali à toa, e aproveitou para descansar um pouco de todo o universo.
     Passado bem os primeiros dias, ele começou a sentir um buraco. Uma fome que alimento não sacia, uma sede que água não satisfaz, uma dor que remédio nenhum cura, um vazio que coisas não preenchem; ele sentiu falta do amor. Não havia nada naquela ilha além dele, uma viva natureza - ideal porque não lhe faltava alimento - e alguns animais silvestres. Não havia como seu amor entrar em fluxo ali, e assim não havia como ele se alimentar dessa energia viva.
     Tudo o que sobrara de sua queda era a mochila que carregava nas costas. Dentro dela, não havia muita coisa: apenas alguns biscoitos, a erva que ocasionalmente fumava, sua carteira e documentos, algum dinheiro, uma caneta, e seu caderno de anotações. Nada além disso.
     Ele pegou seu caderno e começou a escrever cartas de amor, mas ele não tinha a quem escrever. Então ele escrevia cartas de amor não endereçadas. Isso alimentava seu coração; fazia-o sentir-se vivo, esperançoso e amoroso. A cada carta de amor nova que escrevia, ele destacava a folha, esperava o vento chegar, estendia a folha aberta ao ar, e deixava-a ser levada pelo vento. Ele não fazia ideia alguma para onde a carta iria, mas ele esperava que alguém a pegasse em algum lugar. Ele assinava bem assim no final de cada carta: "de alguém preso numa ilha deserta distante no mar". Apesar de não ter remetente, ele acreditava estar escrevendo para alguém, ele só não sabia a quem era.
     Passado meses ali, toda vez que sentia aquele impulso amoroso em busca de alimento, ele escrevia uma carta, colocava ao vento, e a abandonava ao mesmo. Ele ficava observando o papel subindo ao ar, sumindo no horizonte. Seu peito se preenchia a cada carta nova que enviava, e, apesar de não ter remetente, alimentava a si mesmo e ele se sentia bem. Ele sentia estar escrevendo a alguém, ele só não sabia para quem era.
     Depois de alguns anos assim, talvez por sorte, ele avistou um navio vindo lá no horizonte. Ele se levantou sabendo que essa poderia ser a sua única chance de sair dali, e começou a agitar suas mãos no ar para que o navio o enxergasse.
     O navio foi se aproximando da ilha, parecia que o tinha visto. Era o seu resgate! Enquanto o navio se aproximava, ele arrumou suas poucas coisas na mochila, colocou a mochila nas costas, e postou-se de pé ao aguardo do navio que se aproximava.
     Quando o navio atracou, ele teve uma grande surpresa. Ele não tinha sido encontrado por acaso, as pessoas tinham o procurado. Tinha um grupo de pessoas, tanto homens quanto mulheres, que batiam palmas olhando para ele, como se aguardassem aquele momento. Uma daquelas pessoas estendeu a escada, esticou sua mão para ele a agarrar, e o puxou para dentro do navio. O rapaz perguntou: "por que essas pessoas estão batendo palmas?", e o garoto que o havia puxado lhe respondeu: "essas pessoas amam você! Todas elas receberam suas cartas e se sentiram imensamente tocadas e preenchidas por elas. Isso as fez se reunir, e agora elas não se sentem mais sozinhas; tornaram-se amigas, e acabaram descobrindo a existência de outras pessoas sozinhas iguaizinhas a elas. Isso tudo se iniciou por causa de suas cartas, e você nem ao menos sabia do que estava acontecendo. Suas cartas continuavam sendo recebidas por pessoas diferentes, que se juntavam ao grupo. De certa forma elas sentem que você as ajudou, sentem grande gratidão. Então, para retribuir, elas organizaram uma comitiva para resgatar você. Seja bem vindo, este aqui é o seu lugar! Você não está mais sozinho."


~* Palavras que saíram da Boca.