Havia dois anos que ele estava preso no topo mais alto da cidade. Os suprimentos estavam acabando e ele não podia sair daquela torre. A cidade estava devastada. Uma névoa negra densa havia chegada a dois anos atrás, invadido a cidade, e transformado todos os homens e mulheres em aterrorizantes monstros canibais.
A névoa estava preenchendo toda a cidade, e aquela torre era o único lugar que, de tão alto, a névoa que era densa não conseguíra subir. Então ele ficou à salvo da transformação. Mas, para sua tristeza, ele fora o único. Aquela era a única torre alta da cidade.
Ele era um químico famoso, muito inteligente e rico, que tinha revolucionado os conceitos químicos de seu estado. Por gostar muito de alturas, ele gastou uma grana absurda para construir o seu laboratório de análises químicas o mais alto que ele pôde. Ele almejava estar acima das nuvens. Ele contava brincando aos curiosos que ele queria tocar o céu. Talvez isto não fosse totalmente brincadeira, mas isso não importava mais agora. Seus suprimentos estavam acabando e ele estava sozinho. Isto estava começando a preocupá-lo seriamente.
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Quando a névoa invadiu a cidade, por sorte ou não, ele estava em seu laboratório no topo da torre, e, quando ouviu os gritos, olhou pela janela e pôde ver pessoas correndo desesperadas e a névoa tomando conta de toda a cidade. As luzes foram se apagando e as pessoas se transformando em monstros, e ele, lá de cima observando tudo, pôde compreender que era a névoa que estava causando todo aquele alvoroço.
Agora a cidade estava morta. A flora havia secado, não havia uma folha ou grama sequer. Não havia mais luz e nem haviam mais os animais. A névoa parecia que tinha levado toda a beleza, cor e vida daquele lugar. Um silêncio enorme pairava sobre a cidade, noite e dia.
Ele não podia descer, se não seria contaminado também, mas ele sentia intuitivamente que se conseguisse espantar a névoa, tudo voltaria a ter vida e as pessoas voltariam ao normal.
As coisas pareciam coincidência demais para ele acreditar que aconteceram apenas por acaso. Ele era o homem mais inteligente da cidade, construíra a única torre tão alta a ponto de não ser atingida pela névoa, foi o único a não ser transformado, quando a névoa chegou ele estava no alto da torre em seu laboratório, e, além disso, sua torre era um laboratório de análises químicas. Aquilo não poderia ser por acaso. Tudo o que ele conseguíra concluir disso era que não foi a toa que as coisas aconteceram. Era ele quem iria espantar a névoa e salvar a cidade. Era seu destino.
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Durante dois anos ele iniciara o processo de experiências, e, como tinha muitos elementos químicos em estoque, ele, um a um, fora lançando-os pela janela e observando como a névoa regia quando entrava em contato com eles. A partir destas análises, ele foi combinando os diferentes elementos, testando-os novamente e fazendo novas combinações a partir dos resultados.
Apesar do trabalho árduo e constante, até hoje ele não conseguíra algo satisfatório. Os suprimentos já estavam acabando e ele já começara a se preocupar com isso. Ele não tinha mais ideia do que fazer, e já tinha chegado ao seu limite de cansaço. Ele se dirigiu então à janela, olhou desapontado para a névoa la em baixo, depois olhou para o céu, e disse para os ventos: - é Deus, eu desisto. Eu tentei.
Não havia mais o que ser feito então ele abandonou todos os seus projetos falhos, e, pela primeira vez em dois anos, ele esqueceu do trabalho, aceitou que iria morrer logo, logo, e simplesmente iniciou descanso à espera da morte. Por mais incrível que possa parecer, esta foi a primeira noite em que ele descansou tranquilo e de verdade.
Quando acordou no outro dia, ele ficou olhando pela janela até sentir fome. Depois retirou um dos últimos enlatados de atum da geladeira, o abriu e começou a comer; esquecido da névoa, do seu destino, ou da química. Ele ia morrer em breve, já havia aceitado esta condição, então não havia mais o que se preocupar ou pensar.
Então, não pensando em nada, apenas olhando para a janela e comendo o atum enlatado, repentinamente, lhe veio um insight. Uma combinação de elementos brotou em sua mente, sem nenhum controle próprio dele.
Ele olhou mentalmente para a combinação, e ele teve certeza, pela primeira vez, de que era a combinação certa. - "Meu deus! Como eu não pensei nisso? É ela! É perfeita!"
Eufórico, pegou seus frascos, uniu os elementos, e lá estava a solução; pronta em suas mãos.
Já sabendo que ela iria funcionar, abriu o frasco e o despejou pela janela. Assim que aquela substância entrou em contato com a névoa, ela começou a se desfazer em uma reação em cadeia e, lentamente, a vida, a fauna, a flora, as cores e os seres humanos, voltaram a ser o que eram, e a névoa sumiu para sempre daquela cidade.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~