Havia um vilarejo, bem próximo à cidade, onde era tradição que, assim que completassem vinte e um anos - que era a maioridade -, os interessados no caminho espiritual deveriam procurar o ancião em busca da iniciação.
A cada vinte pessoas que atingiam essa idade, apenas um procurava o ancião. A maioria estava interessada em ir para a cidade iniciar os estudos, e assim iniciar sua carreira profissional.
Um garoto da família Miriáh, desde cedo, tinha experiências estranhas; coisas que não aconteciam com os outros garotos de sua idade. Chegando aos dezesseis, ele já passava por intensas depressões, e não conseguia encontrar a razão exata delas. Isso acontecia em épocas. Às vezes duravam dias, outras vezes meses; sempre indo e voltando.
Cada vez que acontecia, essas experiências faziam o garoto questionar sua existência, seu propósito, e o sentido da vida. Então, aos poucos, seu interesse pelo caminho espiritual foi se consolidando, e aos dezoito anos ele já sabia que assim que chegasse à idade adulta, iria procurar o ancião.
A cada vinte pessoas que atingiam essa idade, apenas um procurava o ancião. A maioria estava interessada em ir para a cidade iniciar os estudos, e assim iniciar sua carreira profissional.
Um garoto da família Miriáh, desde cedo, tinha experiências estranhas; coisas que não aconteciam com os outros garotos de sua idade. Chegando aos dezesseis, ele já passava por intensas depressões, e não conseguia encontrar a razão exata delas. Isso acontecia em épocas. Às vezes duravam dias, outras vezes meses; sempre indo e voltando.
Cada vez que acontecia, essas experiências faziam o garoto questionar sua existência, seu propósito, e o sentido da vida. Então, aos poucos, seu interesse pelo caminho espiritual foi se consolidando, e aos dezoito anos ele já sabia que assim que chegasse à idade adulta, iria procurar o ancião.
Assim que fez vinte e um anos, no dia de seu aniversário, ele foi na casa do ancião. No caminho, ele estava se preparando para ouvir os ensinamentos, pois sabia que ia se tornar um ouvinte até que se tornasse o mestre. Todo mundo daquele vilarejo sabia que o discípulo, no fim, se tornava o mestre; então o mestre não teria mais utilidade para ele.
Quando chegou na casa do ancião, bateu na porta, e o ancião o recebeu. Eles se cumprimentaram, o garoto contou o que estava fazendo lá, e então o ancião mandou ele entrar e acompanhá-lo até a cozinha, e ajudá-lo a terminar o chá que estava fazendo.
Depois que o chá estava pronto, o ancião serviu duas xícaras, e eles se acomodaram na mesa para apreciarem o chá. Então o ancião perguntou a ele:
- Garoto, o que você acha que faremos aqui?
- Não sei bem... - Respondeu ele. - Mas estou pronto para ouvir seus ensinamentos.
- Hum... - Pensou o ancião por um segundo. - Eu não tenho nada para te ensinar, essa é a verdade aqui. O caminho espiritual não é uma filosofia, então não há o que ser dito. Juntos, tentaremos fazer você enxergar com meus olhos, até que meus olhos se tornem os seus. Eu quero que você venha aqui todos os dias, agora no começo, e daqui há alguns tempos, observando o que for acontecendo, vou pedir que você venha em intervalos... Até que você só venha quando achar que deve vir.
- O interesse na relação mestre e discípulo, é uma mudança energética no discípulo - continuou ele. - O mestre, é aquele ser que está firmado na energia espiritual. O corpo dele está jorrando essa energia, e ela pode ser sentida pelo discípulo atento. A verdade é que não se precisa de um mestre, porque a energia espiritual pode vir por si só ao discípulo, se ele a buscar. Mas é um caminho mais difícil, porque o discípulo terá que começar do zero, sem instrução, sozinho... Então estará sujeito a diversas confusões e armadilhas. O mestre pode funcionar como um trampolim, e facilitar o salto até essa energia, porque ele pode emprestar um pouco dela, e então ela fica mais fácil de ser reconhecida pelo discípulo buscador, assim livrando ele de infinitos becos sem saída.
- O interesse na relação mestre e discípulo, é uma mudança energética no discípulo - continuou ele. - O mestre, é aquele ser que está firmado na energia espiritual. O corpo dele está jorrando essa energia, e ela pode ser sentida pelo discípulo atento. A verdade é que não se precisa de um mestre, porque a energia espiritual pode vir por si só ao discípulo, se ele a buscar. Mas é um caminho mais difícil, porque o discípulo terá que começar do zero, sem instrução, sozinho... Então estará sujeito a diversas confusões e armadilhas. O mestre pode funcionar como um trampolim, e facilitar o salto até essa energia, porque ele pode emprestar um pouco dela, e então ela fica mais fácil de ser reconhecida pelo discípulo buscador, assim livrando ele de infinitos becos sem saída.
- Minha presença irá mexer com você, e no começo será estranho - prosseguiu ele -, você precisa estar consciente disso e atento. Na verdade, ela já está mexendo agora mesmo, eu estou percebendo... Você sente isso?
- Uhum... - Confirmou o garoto. - Estou me sentindo estranho.
- O que você sente? - Perguntou o ancião.
- É difícil dizer...
- Olhe diretamente para o que está acontecendo agora em você... Então me diga, o que é?
- Hum... - Pensou o garoto. - Parece que tem algo se mexendo em mim, mas não é constante...
- Isso... - Confirmou o ancião. - Prossiga.
- As vezes sinto um medo, mas logo se vai - contou ele. - Me sinto inseguro, é um pouco confuso o que se passa agora.
- Isso... - Confirmou novamente o ancião. - Continue...
- Sinto vontade de ir embora, e não sinto ao mesmo tempo - continuou contando o garoto. - Tem uma parte de mim que quer ir embora, porque se sente insegura, e outra parte que quer ficar, porque se sente segura. - O garoto fez uma pausa, olhando para o chão... Então continuou: - Eu vejo algo se mexendo dentro de mim... Não consigo dizer exatamente o que é, porque fica variando... Isso é loucura?
- As vezes sinto um medo, mas logo se vai - contou ele. - Me sinto inseguro, é um pouco confuso o que se passa agora.
- Isso... - Confirmou novamente o ancião. - Continue...
- Sinto vontade de ir embora, e não sinto ao mesmo tempo - continuou contando o garoto. - Tem uma parte de mim que quer ir embora, porque se sente insegura, e outra parte que quer ficar, porque se sente segura. - O garoto fez uma pausa, olhando para o chão... Então continuou: - Eu vejo algo se mexendo dentro de mim... Não consigo dizer exatamente o que é, porque fica variando... Isso é loucura?
- Uhum, totalmente - confirmou o ancião.
O garoto fez uma cara estranha, se sentindo meio ruim. O ancião olhou para ele com cara de decepção por um tempo... Então começou a rir.
- O que foi? - Perguntou o garoto.
- Eu estou brincando - contou o ancião, ainda rindo um pouco. - Não é loucura, é exatamente assim que é. Se você buscasse o caminho sozinho, iria acontecer exatamente isso que está acontecendo agora, e você poderia achar que está ficando louco, e isso seria um problema.
O garoto fez uma cara estranha, se sentindo meio ruim. O ancião olhou para ele com cara de decepção por um tempo... Então começou a rir.
- O que foi? - Perguntou o garoto.
- Eu estou brincando - contou o ancião, ainda rindo um pouco. - Não é loucura, é exatamente assim que é. Se você buscasse o caminho sozinho, iria acontecer exatamente isso que está acontecendo agora, e você poderia achar que está ficando louco, e isso seria um problema.
O garoto se sentiu melhor, aliviado por não ser louco.
- A energia espitual que emana de mim, toca você como um vento, porque minha presença é forte - contou o ancião. - Ela vai mexer em todo o seu ser, e isso será muito confuso no começo. Você sentirá muitas coisas, e essas coisas irão variar, do prazer à angústia. Minha presença funcionará como uma faísca, que acenderá a pólvora existente em você, então acenderá a chama aí dentro.
- O que faremos é o seguinte... - Disse o ancião. - Vamos sentar frente a frente por um tempo, fecharmos os olhos, e meditarmos. Isso não é totalmente necessário, porque só minha presença já faz o trabalho... Mas desse jeito, como estamos aqui neste momento, de olhos abertos... Há muitas distrações, então fica mais difícil de apurar sua percepção.
- Quando digo meditar - continuou o mestre -, quero dizer apenas que iremos fechar os olhos, e ficarmos conscientes de tudo o que acontece. Quero que você preste atenção em sua energia, totalmente. Quero que preste atenção no que está acontecendo com você, sem que você faça nada... Só observar mesmo, como se você estivesse vendo um filme, que está passando em você mesmo. Você verá pensamentos, verá sentimentos, pensará nas pessoas, pensará na sua vida, sentirá medo, sentirá confusão, sentirá um calor, sentirá agonia... Você sentirá muitas coisas distintas. Não se preocupe, e não busque sentir nada diferente.
- Com o continuar disso - prosseguiu ele -, uma nova energia ganhará vida em você... Aos poucos... - O ancião olhou firme nos olhos dele, ressaltando suas últimas palavras. - Com ela, virá todo o entendimento que buscamos.
- Quando digo meditar - continuou o mestre -, quero dizer apenas que iremos fechar os olhos, e ficarmos conscientes de tudo o que acontece. Quero que você preste atenção em sua energia, totalmente. Quero que preste atenção no que está acontecendo com você, sem que você faça nada... Só observar mesmo, como se você estivesse vendo um filme, que está passando em você mesmo. Você verá pensamentos, verá sentimentos, pensará nas pessoas, pensará na sua vida, sentirá medo, sentirá confusão, sentirá um calor, sentirá agonia... Você sentirá muitas coisas distintas. Não se preocupe, e não busque sentir nada diferente.
- Com o continuar disso - prosseguiu ele -, uma nova energia ganhará vida em você... Aos poucos... - O ancião olhou firme nos olhos dele, ressaltando suas últimas palavras. - Com ela, virá todo o entendimento que buscamos.
O garoto escutava atento. Enquanto o ancião falava, era estranho, mas parecia que ele já estava meditando... Porque o ancião falava, e o garoto olhava para o que estava acontecendo nele mesmo, pois era como se o ancião tivesse narrando o que estava acontecendo dentro dele.
- Quando a energia estiver ganhando vida em você, nossas meditações serão menos necessárias... - Continuou o ancião. - Porque você não precisará mais que eu te empreste minha presença. Quando ela tiver já bastante viva, você poderá fazer isso sozinho, pois já terá uma presença suficiente para deixar o processo acontecer em você, sem mim. É como se você já estivesse em minha presença, mas é sua própria presença que estará fazendo o trabalho. Sua própria presença estará intensificando ela mesma.
- À medida que a energia for ficando mais viva - contou o ancião -, algumas coisas na sua vida começarão a mudar. Você irá perceber isso... Coisas novas acontecerão, e você saberá que é fruto dessa energia. Haverá uma reciprocidade entre os eventos e a energia, então você começará a aprender algumas coisas... Isso te trará compreensão. Chegará um dia em que você perceberá: você será o mestre. Você saberá disso, uma certeza inquestionável e absoluta. Enquanto não sabe ainda, continuará fechando os olhos, num canto tranquilo, e deixando a energia atuar e ganhar mais vida, ok?
- Certo - confirmou o garoto, decidido. Seu peito estava cheio de empolgação.
- Ok - disse o ancião.
O chá já tinha acabado. O ancião colheu então as xícaras de chá e as colocou na pia para depois lavar. Então conduziu o garoto até outra salinha...
Era uma salinha bem aconchegante. Era uma sala pequena, coberta por um tapete fofo por todo o chão. Havia algumas almofadas espalhadas pelo chão. A parede era pintada em cor vermelho-vinho, e a luz era bem fraca ali.
- Essa é a sala que reservo para meditações - contou o ancião. - Tem uma energia bem boa, não tem?
- Tem sim - confirmou o garoto.
- Quando a energia estiver ganhando vida em você, nossas meditações serão menos necessárias... - Continuou o ancião. - Porque você não precisará mais que eu te empreste minha presença. Quando ela tiver já bastante viva, você poderá fazer isso sozinho, pois já terá uma presença suficiente para deixar o processo acontecer em você, sem mim. É como se você já estivesse em minha presença, mas é sua própria presença que estará fazendo o trabalho. Sua própria presença estará intensificando ela mesma.
- À medida que a energia for ficando mais viva - contou o ancião -, algumas coisas na sua vida começarão a mudar. Você irá perceber isso... Coisas novas acontecerão, e você saberá que é fruto dessa energia. Haverá uma reciprocidade entre os eventos e a energia, então você começará a aprender algumas coisas... Isso te trará compreensão. Chegará um dia em que você perceberá: você será o mestre. Você saberá disso, uma certeza inquestionável e absoluta. Enquanto não sabe ainda, continuará fechando os olhos, num canto tranquilo, e deixando a energia atuar e ganhar mais vida, ok?
- Certo - confirmou o garoto, decidido. Seu peito estava cheio de empolgação.
- Ok - disse o ancião.
O chá já tinha acabado. O ancião colheu então as xícaras de chá e as colocou na pia para depois lavar. Então conduziu o garoto até outra salinha...
Era uma salinha bem aconchegante. Era uma sala pequena, coberta por um tapete fofo por todo o chão. Havia algumas almofadas espalhadas pelo chão. A parede era pintada em cor vermelho-vinho, e a luz era bem fraca ali.
- Essa é a sala que reservo para meditações - contou o ancião. - Tem uma energia bem boa, não tem?
- Tem sim - confirmou o garoto.
- Acomode-se por aqui - apontou o ancião para um canto. - Pegue quantas almofadas quiser. Apenas sente-se de forma confortável, de uma forma que seja confortável a você. Eu vou me sentar logo aqui - apontou ele para um outro canto, de frente ao canto do garoto.
Eles se sentaram, pegaram algumas almofadas, e acomodaram-se. Era gostoso sentar ali, aquele tapete era bem fofo. Já acomodados, o ancião disse:
Eles se sentaram, pegaram algumas almofadas, e acomodaram-se. Era gostoso sentar ali, aquele tapete era bem fofo. Já acomodados, o ancião disse:
- Certo. Agora vamos fechar os olhos e ficarmos alguns minutos assim. Faça como falei: apenas deixe a presença da energia mexer em você. Não se preocupe com o que acontecer. Seja como o espaço - disse o ancião apontando para cima. - Passará cometas, haverá galáxias, algumas estrelas... Planetas, com pessoas... Planetas com ets... - O ancião deu um sorrisinho brincalhão. - E até naves espaciais. Tudo estará passando em você, e você será apenas o espaço por onde todas as coisas estarão existindo, passando e se movendo.
- Vamos começar? - Perguntou o ancião.
- Vamos - confirmou o garoto.
- Vou marcar uma hora em meu relógio - contou o ancião. - Quando apitar, está bom; é o suficiente. Se você sentir que devemos parar antes, apenas me avise. Não é concreto o que estamos fazendo... Se ficar muito desconfortável, apenas avise, ok?
- Tudo bem - confirmou o garoto.
- Então vamos fechar os olhos...
(...)
- Vamos começar? - Perguntou o ancião.
- Vamos - confirmou o garoto.
- Vou marcar uma hora em meu relógio - contou o ancião. - Quando apitar, está bom; é o suficiente. Se você sentir que devemos parar antes, apenas me avise. Não é concreto o que estamos fazendo... Se ficar muito desconfortável, apenas avise, ok?
- Tudo bem - confirmou o garoto.
- Então vamos fechar os olhos...
(...)
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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