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domingo, 30 de novembro de 2014

A Terra da Luz (O Mundo do Espírito)



Mais uma segunda feira movimentada. O centro da cidade estava lotado, como sempre. Pessoas para lá e para cá, cada um seguindo a sua vida; conquistando seu suado e necessário dinheiro e status.

Um rapaz estranho veio atravessando a via mais movimentada daquele centro, se alojando perto de onde um pessoal estava armando umas barraquinhas para começar o comércio de artesanato. Era bem cedo.

Alguns passavam por ali e riam do rapaz, ele era estranho até demais. Ele estava vestindo vários mantos. Não dava para saber se eram vários mantos com exatidão, mas tinha vários panos um por cima do outro. Eram todos coloridos. Junto aos panos havia algumas correntes, ou colares... Estavam tão misturados que era até difícil dizer o que era cada coisa. Aquele rapaz estava chamando mais atenção do que uma árvore de natal de shopping.

Ele tirou uns pedaços de madeira da mochila e os pregou um ao outro, montando uma plaquinha. Depois tirou uns frascos de tinta e começou a pintar a placa. Ele desenhou algumas estrelas, uns planetas, e escreveu em letras grandes:

“Venham! Juntem-se a mim! Venham para a terra onde podemos ser felizes sem medida.”

Depois ele cavou um buraco num canteiro de terra, perto de uma árvore, e suspendeu a placa ali.

Logo em seguida ele tirou uma flauta da mochila, sentou num banquinho que havia trago, e começou a tocá-la logo ao lado de sua placa.

~*

Algumas pessoas passavam por ali chamando-o de louco. Geralmente isso acontecia quando passava grupos com três pessoas ou mais pessoas. Quando passava uma pessoa só, às vezes acontecia com duas também, eles paravam e davam atenção àquilo que o louco estava fazendo. Sentiam curiosidade.

Os julgamentos pareciam inofensivos ao rapaz, ele continuava tocando sua flauta alegremente. Dava para sentir a alegria ressoando pelo som da flauta. Alguns animais das redondezas – pássaros e alguns gatos – estacionavam perto do rapaz e ficavam por um tempo curiosamente repousando ali.

O rapaz já havia tocado umas 5 canções, foi quando um garoto jovem que deveria ter uns dezoito anos parou perto do rapaz e fitou-o nos olhos.

- Ei – disse ele interrompendo o flautista.

O flautista, que estava de olhos fechados, abriu os olhos e olhou para o garoto, sem cessar o som da flauta.

O garoto então disse:

- Você é um iluminado?

O rapaz deu um sorriso e tocou uma bela conclusão na flauta, terminando a música. 

- Uhum – disse ele encostando a flauta junto à mochila.

- Suspeitei – disse o garoto. – Eu ouvi falar sobre isso e andei refletindo e buscando. Quando olhei a placa sobre uma terra onde podemos ser felizes sem medida, eu logo suspeitei. Então quando eu vi você tocando, tão ali, presente... Nem parecia aqui no planeta... Eu tive quase certeza.

O rapaz deu uma risada meio tímida, parecia envergonhado.

- É – disse ele. – É bem por aí.

- Eu posso ser um iluminado também? – Perguntou o garoto. – Já cheguei a pensar que é algo que só acontece a pessoas escolhidas...

- Não, não é por aí não... – contou o rapaz. – Qualquer um pode ser, sim. Eu era qualquer um, digamos assim... Então comecei a buscar porque acreditei num rapaz que se dizia iluminado. Depois, ficando sozinho cada vez mais, eu acabei compreendendo.

- E onde fica essa terra onde podemos ser felizes sem medida?

- Fica bem longe daqui – disse o rapaz apontando ao redor. – Bem longe... – reforçou ele. – A busca é justamente sair daqui e chegar lá.

- Mas você está nessa terra?

- Sim, por isso sou iluminado.

- Mas como é possível? Você está aqui, como eu. Eu não sou louco, estou te vendo aqui...

- Hum... – deixou escapar o rapaz, pensando um pouco. – Olha, esse é o grande problema que faz acender a descrença nas pessoas. Elas acham que só existe aquilo que os olhos estão vendo. Quando chega um iluminado e fala sobre a terra da luz, ele sempre fala de algo que é tangível, porém que os olhos não enxergam. Então as pessoas não acreditam nele e perdem a oportunidade de serem verdadeiramente contentes e de viverem uma experiência mágica.

- Você vê o meu corpo aqui, como o seu – prosseguiu o rapaz –, mas eu não estou aqui onde o meu corpo está. Eu estou no mundo do espírito. Uso este corpo apenas para me locomover neste plano. Eu não estou aqui fisicamente falando, nesse lugar que os seus olhos estão vendo. A iluminação é quando você conseguiu quebrar a barreira do físico e se libertar dele. Então você é feliz. Você migra de uma experiência corpórea para uma experiência universal. Você migra de uma experiência onde tudo o que existe é o que os seus olhos estão vendo, para uma experiência onde tudo o que existe vai além do campo das estrelas; vai além do alcance da visão do corpo humano. Você caminha nesse corpo – disse apontando para o próprio corpo –, porém você tem o universo inteiro para explorar. O corpo passa a ser só o seu automóvel. O espírito, livre do corpo, está usando um volante para guiar o corpo. Você consegue imaginar a diferença que é?

- Claro que sim – respondeu o garoto. – Faz muito sentido... Eu fazia ideia de ser algo assim.

- Mas não pense que você pode sair do corpo – disse ainda o rapaz. – Não, nada disso... Isso é babaquice. Seu espírito está presente no corpo e não sairá dele. Porém, a visão do espírito livre do corpo está além daquilo que o corpo pode ver. É difícil compreender assim, porque esse tipo de coisa tem que ser vivida para ser entendida. Só a experiência faz você compreender as coisas do espírito... Mas é bem por aí mesmo...

- Isso é bem doidão – comentou o garoto.

- É sim – concordou o rapaz com um riso. – Somos todos loucos. Quer um biscoito?



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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