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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sonhos da Noite 2 (parte 2 de 2)



(O mesmo acontecido de "Sonhos da Noite (parte 1 de 2)", porém narrado pelo jovem garoto que sentou na frente da lareira.)


     Eu andava muito perturbado, ocupado com as coisas do trabalho e com o meu relacionamento já bastante desgastado. Meu chefe não parava de me enviar coisas a fazer, e pelo amor de Deus, eu precisava de um descanso! Internamente, eu já vinha pedindo descanso há alguns dias e parecia até pegadinha, mas quanto mais eu pedia um descanso, mais trabalho aparecia. Eu simplesmente não conseguia parar, as coisas não me davam uma brecha.
     Meu relacionamento com Juliana também não ia muito bem. Eu não sei porque exatamente, mas a gente começou a se desentender. A gente se gostava tanto, mas depois que começamos a ficarmos muito próximos, a gente passou a brigar bastante. Eu sentia raiva dela sem razão nenhuma, a presença dela começou a me causar repulsa. Eu não entendia porque essas coisas estavam acontecendo, mas eu sabia que devia parar, eu sabia que devia olhar para mim, buscar uma resposta e meditar.
     Num fim de tarde de quinta-feira, eu resolvi ir para casa mais cedo. Disse a meu chefe que precisava levar minha mãe no médico (mentira!) e parti direto para casa.
     Não sei se por coincidência, mas quando cheguei em casa, já à noite, a casa estava anormalmente silenciosa e meus irmãos tinham saído com meus pais. Perfeito! Era tudo que eu precisava para sentar em silêncio e olhar para dentro de mim em busca de alguma auto-ajuda.
     Fui para a sala, bati o tapete onde iria me sentar, para remover a poeira, e o coloquei de volta no chão. Coloquei fogo na lenha da lareira e apaguei as luzes. Era sempre lindo ligar a lareira de noite, a luz do fogo desenhava lindos padrões nas paredes quando as luzes da sala estavam apagadas.
     Mas hoje não era dia de observar a projeção do fogo, hoje era meu dia de silêncio e de buscar me entender comigo.
     Sentei em frente à lareira, no meio do sala, em cima do tapete, e cruzei minhas pernas confortavelmente, pegando uma almofada e colocando sob o quadril para obter uma postura melhor e não sentir dores ou incômodos na coluna. Então fechei os olhos. Fechei os olhos e olhei para mim mesmo.
     Milhares de pensamentos passavam sobre minha mente, pulando de uma coisa a outra. Pensei na família, na doença de minha mãe, imaginei o término com Juliana, senti raiva do meu chefe, lembrei das contas que ainda tinha a pagar, e lembrei até do meu amor de infância. Os pensamentos pulavam de um para o outro aceleradamente e sem ordenamento.
     Passei uns 20 minutos somente observando-os, sem interferir no processo deles, como ouvi um dia um guru desses indianos dizer que era assim que meditava. Depois desse tempo, minha atenção naturalmente se desviou para meu peito. Senti um ódio desgostoso, intenso, me senti uma pessoa má. Era horrível. Depois disso senti muita tristeza, como se algo em mim tivesse morrido, como se a minha existência fosse inútil e infeliz. Senti uma angústia profunda, chegava a doer. Logo depois senti uma aversão tremenda a tudo e todos, e com ela uma forte vontade de me suicidar. Acompanhado disso, me senti um traidor, mentiroso, e me recordava das vezes em que menti para meus familiares e amigos.
     Essas cinco sensações horríveis passaram sobre mim, uma atrás da outra: ódio, tristeza, angústia, aversão e traição; mas quando eu resisti a todas elas sem ceder, elas desapareceram e eu senti um calor dentro do peito. Passei a me sentir seguro, calmo. Era uma sensação gostosa, como se tudo estivesse bem.
     Essa sensação calorosa começou a crescer e crescer, e me preencheu. Parecia estar se expandindo. Volta e meia eu sentia uma daquelas cinco sensações ruins novamente, mas elas pareciam cada vez mais distantes depois que eu encontrei aquele calor lá no fundo de mim.
     Passei mais ou menos uns 30 minutos assim, não sei direito. Estava tão gostoso que perdi a noção do tempo, mas deve ter sido algo em torno disso. Tive que abrir os olhos porque a campainha tocou. Mas depois de ter sentido aquilo, pensei comigo mesmo: "sem dúvidas repetirei essa experiência mais vezes". 
     Depois, durante a noite ainda, aquela sensação calorosa ainda parecia estar comigo, como se tivesse permanecido um feedback dela. Porém, estava agora um pouco anuviada, distante...


~* Palavras que saíram da Boca *~

Sonhos da Noite 2 (parte 1 de 2)



Ele estava sentado
Em frente a lareira
No meio da sala
Numa noite escura de quinta-feira.

Com as luzes apagadas e à luz do fogo
Serenamente e silencioso
Aquele jovem permanecia sentado
Com as pernas cruzadas e os olhos fechados...

     Eu, desencarnado, curiosamente o observava. Depois de um certo tempo ali sentado, espíritos das sombras começaram a sair de dentro dele como se estivessem sendo expulsos de seu corpo. O jovem, silencioso e sereno, continuava sentado, imóvel, apenas ao som da brasa queimando ao fogo da lareira.
     Quando havia saído uns cinco daqueles espíritos, algo à volta dele despertou minha atenção. Uma iluminação bem sutil e de cor dourada surgiu à sua volta, como se houvesse uma lâmpada amarela acesa irradiando luz de dentro dele. Ela começou a tomar proporções maiores, a ponto de atingir dois metros radialmente ao seu entorno.
     Os maus espíritos que saíram dele o sobrevoavam pelo ar, contornavam-o algumas vezes, e mergulhavam em investida como se quisessem entrar nele novamente. Mas eram jogados para longe por aquela luz que continuava crescendo à sua volta.
     Quanto mais o raio daquela luz crescia, menos próximo os espíritos conseguiam chegar em direção a ele. A luz parecia estar funcionando como um campo de força protegendo o jovem garoto.
     Aquele campo foi crescendo e crescendo até tomar todo o espaço da sala, atravessando as paredes, e mandando os espíritos para mais longe ainda. O jovem permanecia ali, sentado e calado, como se não estivesse vivo e como se não soubesse de nada do que estava acontecendo.
     Aquela luz sutil dava tal brilho à sua volta, que era impossível, mesmo para quem não enxergasse a luz sutil que emitia dele, dizer que não havia vida naquele corpo sereno e silencioso.


~* Palavras que saíram da Boca *~

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Sonhos da Noite 1



    Eu estava em uma casa mal assombrada e não havia saída dela. As lajotas das paredes e do teto não paravam de cair, causando um barulho estranho naquele chão de madeira. Vultos sombrios rondavam de um lado para o outro e pareciam não se ver. E incrível, eles também pareciam não me ver, eu que estava ali e que era real.
     Quando me dei conta disso, não havia como o medo estar presente, pois é como se somente eu existisse ali e aquilo tudo fosse um filme que estivesse passando a mim. Mas eles existiam, porque eu os via, então eram reais.
     Depois de horas naquele local não podendo sair, eu gritei algumas dezenas de vezes para que algum deles, ou alguém, me ouvisse, mas eles continuavam caminhando para lá e para cá como se nada existisse além de cada um deles. 
     Então eu comecei a sentir medo, pois comecei a me sentir sozinho. Passei a orar e a pedir ajuda a meu querido Deus, Jesus Cristo. Depois de um longo tempo assim, eu não sei bem o porque, mas eu fechei os olhos e comecei a chamar o nome dele como se ele estivesse bem ali na minha frente. Eu dizia: "Jesus Cristo, por favor, me tire daqui, eu não aguento ficar aqui sozinho", e repetia isso quando via que nada acontecia.
     Eu senti um toque no ombro. Abri os olhos achando que era Jesus Cristo e quando me dei conta, era um daqueles vultos sombrios e assustadores. Ele me perguntou: "- o que você está procurando?".
     Eu, assustado, olhei para seus olhos e não havia sinal de maldade. Então vendo isso eu relaxei. Me senti tranquilo, não parecia estar mais sozinho.

- Estou apenas orando a Deus. - Eu disse.
- Isso eu me dei conta. - Disse o vulto. - Eu sei quem é Jesus Cristo. Mas você espera encontrar com ele?
- Sim. - Eu respondi.
- Eu sempre me encontro com ele. - Continuou o vulto. - Eu poderia te mostrá-lo.
- Como? - Perguntei eu curioso. - Isso seria uma honra para mim. Busco ele desde pequeno.
- Jesus cristo é a essência de Deus, e a essência de Deus está em todas as coisas, pois nada existiria com a ausência dela. - Prosseguiu o vulto. - Se eu me encontro com algo, eu só posso encontrar Jesus Cristo, pois ele habita todas as coisas, pois é a essência de Deus. O que mais eu poderia encontrar além dele? Você não pode encontrar um Jesus Cristo, porque você encontra com ele em todo lugar. A única diferença entre o homem que ficou famoso por esse nome, e você, é que ele sabia intimamente disso...






~* Palavras que saíram da Boca *~

domingo, 24 de novembro de 2013

Sedução

Sedução                       

Sedução,
Prisão,
São sinônimos para mim.

Evitar seduzir

É um caminho difícil de se seguir.

Mas se desejo em liberdade caminhar
Seduzir é um caminho que tenho que aprender a contornar.


Se mostrar,
Se esconder,
Impressionar,
Não ser você;
São apenas formas de seduzir.


Mas se eu não necessito,
E você também não,
O gostar é natural.


Eu gosto de você
E você gosta de mim.
Razão não tem,
Pois se tivesse,
Não seria gostar,
Seria sedução.

Sedução é assinatura de prisão.
Pode até achar que é livre,
Só que não.
Você é prisioneiro de sua auto-imagem sedução.



~* Palavras que saíram da Boca *~


domingo, 17 de novembro de 2013

Além de tudo



     Quatro da manhã e eu observando a lua. Ela brilha tão forte lá no alto, e há um silêncio percorrendo a noite inteira, tão forte, que me conduz a uma inspiração sombria. Sinto a presença de algo que parece estar em mim, além de mim. Algo difícil de interpretar. Não tem cor, nem cheiro, nem tamanho, nem forma; não pode ser desenhado. É uma qualidade diferente dessas.
     Lá no fundo - muito profundo em tudo o que existe em mim - algo me puxa. Uma sensação de que existe algo que eu já conheço, mas que eu não sei bem como ou de onde eu conheço. É como uma lembrança; como se existisse uma memória em mim, mas que por alguma razão não pudesse ser acessada. Algo que aparenta não ser conhecido de hoje; mas que de muito, muito... muito tempo atrás mesmo; sem nem conseguir dizer quanto tempo é relativamente.
     É como se existisse algo grandioso lá longe. Até se sente um impulso de reconhecer aquilo diretamente. Sente-se uma ligação, uma ligação que desperta uma irresistível curiosidade. É como se soubéssemos exatamente o que aquilo é, mas sem saber o que aquilo é exatamente. Apenas um saber.
     Um saber misterioso e curioso. Uma sensação: "existe algo lá, eu posso sentir".


~* Palavras que saíram da Boca.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Tesouro de um Amante


Me sinto uma pequena toupeira
Cavando no meio da escuridão

Procurando fazer uma toca segura
Para que esteja livre de toda amargura

Minha pele foi descascada
Não consigo mais me esconder
O que será que aconteceu comigo?
As coisas não eram assim...

Me sinto distante de todo o universo
Como se apenas algumas três estrelas pudessem me entender
Mas eu nunca me bato com elas
E ainda não sei o que eu fiz para merecer

To nadando num mar de piranhas
E tentando chegar naquela ilha lá na frente!
Também nado carregando um tesouro
Pendurado em mim por alguma corrente

É o tesouro mais delicado que já cultivei
Tem flores, poesias, ouro e magia
Toda vez que tentei compartilhar
Não tiveram cuidado e começaram a me machucar

Mas eu sempre deixo claro que é delicado,
Não pode ser de qualquer jeito.
Meu tesouro é como uma rosa:
Pequeno, doce, frágil e meigo.

Então para preservá-lo

Resolvi fazer algo peculiar
Tirei ele da cesta
E comecei a escrever, cantar e sonhar

Mas a melhor parte dele

Eu ainda guardo em mim
Quieto e silencioso...
Você não vê mas ele está aqui

Enquanto ainda não o vê

Me dói ter ele aqui.
O tesouro foi feito para compartilhar
É isso que faz a magia dele fluir

Então eu tropeço em cada pedra
Esperançoso de que essa seja uma pedra correta


Mas o que tem acontecido é eu sempre me ferir
E a esperança nunca cessar daqui.

O que será que deu em mim?

Será que alguma daquelas estrelas já caiu?
Ou será que seria juntando três delas
Que se formaria a constelação certa?





~* Palavras que saíram da Boca.