(O mesmo acontecido de "Sonhos da Noite (parte 1 de 2)", porém narrado pelo jovem garoto que sentou na frente da lareira.)
Eu andava muito perturbado, ocupado com as coisas do trabalho e com o meu relacionamento já bastante desgastado. Meu chefe não parava de me enviar coisas a fazer, e pelo amor de Deus, eu precisava de um descanso! Internamente, eu já vinha pedindo descanso há alguns dias e parecia até pegadinha, mas quanto mais eu pedia um descanso, mais trabalho aparecia. Eu simplesmente não conseguia parar, as coisas não me davam uma brecha.
Meu relacionamento com Juliana também não ia muito bem. Eu não sei porque exatamente, mas a gente começou a se desentender. A gente se gostava tanto, mas depois que começamos a ficarmos muito próximos, a gente passou a brigar bastante. Eu sentia raiva dela sem razão nenhuma, a presença dela começou a me causar repulsa. Eu não entendia porque essas coisas estavam acontecendo, mas eu sabia que devia parar, eu sabia que devia olhar para mim, buscar uma resposta e meditar.
Num fim de tarde de quinta-feira, eu resolvi ir para casa mais cedo. Disse a meu chefe que precisava levar minha mãe no médico (mentira!) e parti direto para casa.
Não sei se por coincidência, mas quando cheguei em casa, já à noite, a casa estava anormalmente silenciosa e meus irmãos tinham saído com meus pais. Perfeito! Era tudo que eu precisava para sentar em silêncio e olhar para dentro de mim em busca de alguma auto-ajuda.
Fui para a sala, bati o tapete onde iria me sentar, para remover a poeira, e o coloquei de volta no chão. Coloquei fogo na lenha da lareira e apaguei as luzes. Era sempre lindo ligar a lareira de noite, a luz do fogo desenhava lindos padrões nas paredes quando as luzes da sala estavam apagadas.
Mas hoje não era dia de observar a projeção do fogo, hoje era meu dia de silêncio e de buscar me entender comigo.
Sentei em frente à lareira, no meio do sala, em cima do tapete, e cruzei minhas pernas confortavelmente, pegando uma almofada e colocando sob o quadril para obter uma postura melhor e não sentir dores ou incômodos na coluna. Então fechei os olhos. Fechei os olhos e olhei para mim mesmo.
Milhares de pensamentos passavam sobre minha mente, pulando de uma coisa a outra. Pensei na família, na doença de minha mãe, imaginei o término com Juliana, senti raiva do meu chefe, lembrei das contas que ainda tinha a pagar, e lembrei até do meu amor de infância. Os pensamentos pulavam de um para o outro aceleradamente e sem ordenamento.
Passei uns 20 minutos somente observando-os, sem interferir no processo deles, como ouvi um dia um guru desses indianos dizer que era assim que meditava. Depois desse tempo, minha atenção naturalmente se desviou para meu peito. Senti um ódio desgostoso, intenso, me senti uma pessoa má. Era horrível. Depois disso senti muita tristeza, como se algo em mim tivesse morrido, como se a minha existência fosse inútil e infeliz. Senti uma angústia profunda, chegava a doer. Logo depois senti uma aversão tremenda a tudo e todos, e com ela uma forte vontade de me suicidar. Acompanhado disso, me senti um traidor, mentiroso, e me recordava das vezes em que menti para meus familiares e amigos.
Essas cinco sensações horríveis passaram sobre mim, uma atrás da outra: ódio, tristeza, angústia, aversão e traição; mas quando eu resisti a todas elas sem ceder, elas desapareceram e eu senti um calor dentro do peito. Passei a me sentir seguro, calmo. Era uma sensação gostosa, como se tudo estivesse bem.
Essa sensação calorosa começou a crescer e crescer, e me preencheu. Parecia estar se expandindo. Volta e meia eu sentia uma daquelas cinco sensações ruins novamente, mas elas pareciam cada vez mais distantes depois que eu encontrei aquele calor lá no fundo de mim.
Passei mais ou menos uns 30 minutos assim, não sei direito. Estava tão gostoso que perdi a noção do tempo, mas deve ter sido algo em torno disso. Tive que abrir os olhos porque a campainha tocou. Mas depois de ter sentido aquilo, pensei comigo mesmo: "sem dúvidas repetirei essa experiência mais vezes".
Passei mais ou menos uns 30 minutos assim, não sei direito. Estava tão gostoso que perdi a noção do tempo, mas deve ter sido algo em torno disso. Tive que abrir os olhos porque a campainha tocou. Mas depois de ter sentido aquilo, pensei comigo mesmo: "sem dúvidas repetirei essa experiência mais vezes".
Depois, durante a noite ainda, aquela sensação calorosa ainda parecia estar comigo, como se tivesse permanecido um feedback dela. Porém, estava agora um pouco anuviada, distante...
~* Palavras que saíram da Boca *~