ILUMINAÇÃO ☼ ~
"Essa percepção, contudo, só ocorre no sétimo estágio da vida. Muitas pessoas lêem e refletem sobre os ensinamentos espirituais e suas mentes remoem as idéias tradicionais a ponto de pensarem que já estão iluminados. No entanto, jamais se converteram no sacrifício físico essencial a essa percepção. A iluminação, ou percepção de Deus, não é apenas uma compreensão conceitual. Não é apenas um estado de espírito relativamente tranquilo. A iluminação é uma condição absoluta da existência, o que literalmente transcende o corpo e a mente. Não é apenas uma idéia do corpo e da mente que nos faz sentir melhor. Segundo o ponto de vista iluminado e radical, não existe corpo e mente! Assim, para entrar no sétimo estágio da vida, é preciso passar pela mais profunda e assustadora transformação. Tal acontecimento não pode ser criado casualmente por uma pequena reflexão. Deve-se chegar ao ponto em que, literalmente, não há necessidade do corpo e da mente, da psique ou da experiência.
Os tolos acreditam estar iluminados quando se sentem bem hoje. Essa medíocre sensação de prazer não é a iluminação. A iluminação não envolve qualquer tipo de pensamento. Não há justificativa racional para a iluminação, nenhuma sequência lógica de pensamento que leve a ela. A iluminação é um Despertar espontâneo, absoluto, transcendental, livre de toda a seriedade e necessidade da existência física e mental. Portanto a morte, cessação da experiência, cessação dos estados mentais, cessação do corpo, cessação do mundo, deixa de ser uma ameaça. Tanto pior para ela! Existe total liberdade das implicações daquele terrível destino que todos temem. O ser iluminado não é ameaçado por nada disso. Ele ri. Ele é livre.
Mas é preciso pagar o preço dessa Liberdade. Ela não é apenas uma atitude para com o mundo, que se usufrui a partir de uma posição convencional de separação. Existe a Consciência Transcendental Radiante, a Divina Realidade Absoluta. Ela é realmente Existência, e deve ser Percebida para que a Iluminação seja verdadeira. Nessa percepção, a Pessoa Divina é tacitamente óbvia, tão concreta quanto qualquer objeto que você associa neste momento com a vida e a experiência física. Quando essa percepção é Despertada, os fenômenos da experiência deixam de ser necessários. Eles simplesmente continuam a existir neste momento, mas não têm o poder de iludir.
Todas as fases da vida que conduzem ao sétimo estágio são fases de perturbação devido à seriedade de um ou outro tipo de experiência. O processo de transcender a experiência tem início no nível mais baixo, onde a experiência envolve o medo da perda do corpo e a profunda ligação com o alimento, além do anseio de satisfação sexual. Essas experiências caracterizam o homem comum, o nível mais baixo da pessoa no espectro da existência. Iogues, místicos e santos, todos se aferram vigorosamente à espiritualidade experimental: visões, luzes brilhantes no cérebro, vibrações no centro da cabeça, obras de arte exóticas que eles criam na imaginação, paz infinita sem um só pensamento ou mesmo nada ver, nada pensar, não ter qualquer experiência. Mas tudo isso não passa de possibilidades grandes e pequenas dos seres humanos nos seis primeiros estágios da vida.
No Caminho do Divino Desconhecimento, o que torna essas possibilidades espiritualmente significativas é o fato de que, em cada estágio da vida, em meio a cada estágio de experiência perturbadora, seja grande ou pequena, temos de realizar a autotranscendência e a total entrega física à Consciência Transcendental Radiante, ou Ser Divino. À parte essa autotranscendência, contudo, os seis primeiros estágios de simples amadurecimento das possibilidades estruturais do homem são absurdos, destituídos de humor, fundamentalmente muito sérios. Alguma coisa em cada um dos seus primeiros estágios é levada profundamente a sério pelos seres humanos comuns. Corpo e alimento, sexo, pensamento, consciência psíquica, alucinações mentais superiores e até o bem-aventurado silêncio interno - parece haver alguma coisa profundamente séria e significativa para a existência alucinada em cada um desses estágios.
Mas o sétimo estágio, o estágio iluminado, não é nada sério. Nesse estágio percebemos a nossa transcendência inata em relação a tudo. Há a percepção tácita de que nada existe de sério na existência experimental. Ela poderia terminar neste momento, casualmente; e essa cessação não teria em si o menor significado. Ou ela poderia continuar ao longo de infinitas eras, através de infinitas permutas e transformações da experiência; e sua continuidade tampouco teria qualquer significado. Tal é o humor da Iluminação - a percepção da não-necessidade de tudo. Nada, absolutamente, tem um significado sério ou uma necessidade máxima - absolutamente nada.
A personalidade reativa comum, fundamentalmente desesperada e histérica, também pode dizer que a vida não tem sentido, mas essa pessoa é muito séria. O iluminado, contudo, percebe a liberdade total. Deixa de ser sério, mas não é autodestrutivo. Ele entrou em êxtase. Não se refreou nem se separou de si mesmo - ao contrário, tudo o que ele é foi transcendido na Consciência Transcendental Radiante. Assim, ele é cheio de humor e deleite. Não resiste agressivamente ao mundo, nem a ele se apega. Toda a tensão de seu coração foi liberada. Falar de iluminação sem esse sinal é um absurdo. Não haverá iluminação se o coração não estiver livre de toda a sua seriedade, de todo o seu apego aos fenômenos, grandes e pequenos."
ILUMINAÇÃO INTERIOR - Razão de Ser do Caminho Espiritual.