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domingo, 17 de junho de 2012

O Espírito e o viajante

O Espírito e o viajante.


     Existe o Espírito, que é único e está em todos nós, mas nem todos sabemos de sua existência. Ele segue seu próprio curso, seu próprio movimento; e a pessoa nada faz, apenas permanece nele enquanto ele se move. Como uma pedra que cai no rio: ela segue, imóvel, até o fim do curso, sabendo que no fim dele ela chegará ao mar, o lugar onde todos se encontram.
     Todos estamos dentro desse Rio. Se um de nós tenta se mover por conta própria, vai pular para fora do Rio e vai tentar puxar as pessoas para fora do Rio também; mas ele não sabe o que está fazendo, pois ele ainda existe de forma separada, ainda não se tornou uma molécula do Rio. 
     Quem se tornou uma parte do Rio, sente quando alguém sai do Rio. Quem está nadando no Rio ainda não desenvolveu essa percepção e pode facilmente ser levado para fora do Rio. Se não por conta própria, pode também segurar na mão de alguém que saiu e ser puxado pelo mesmo, mas eles não sabem o que estão fazendo; apesar de estarem no Rio, eles não vêem o Rio.
     Uma vez fora do Rio, há várias distrações que te levam cada vez para mais distante, e mais distante, cada vez mais. Quando o viajante por algum motivo olha para onde está, sente uma saudade enorme do Rio, mas isso é sentido como uma dor, uma angústia.
     Como o viajante não sabe o que está acontecendo, como não enxerga a si mesmo, aonde está, e nem aonde está o Rio; ele se recorda de que quando estava distraído não sentia dor. Então, rapidamente ele retorna para as distrações, se distanciando cada vez mais do Rio. 
     Vendo que isso o livra da dor de não estar com o Rio, toda vez que o Rio o chama de volta, ele corre para as distrações, pois esta cego e não escuta mais a voz do Rio. Por mais que o Rio o chame, ele não compreende o chamado e fica cada vez mais distante.
     Chega um dia em que as distrações não o distraem mais, e como a distância já é longa, a saudade começa a falar alto. Então o viajante para e começa a abrir seus ouvidos para seguir a Voz e retornar ao Rio. Como ele entrou muito fundo na floresta que bordeia o rio, não vê mais o caminho de volta. O único guia passa a ser essa Voz, e quanto mais se escuta a ela, mais alta ela fica. Ouvindo melhor, fica mais fácil encontrar o caminho de volta, para sair do labirinto, e ir de encontro ao Rio.


    
     Não devemos culpar o viajante. O viajante não sabe da existência do Rio, não sabe que é parte do Rio, e não sabe do poder que se tem ao estar com o Rio. Enfim, ele não sabe o que faz e não sabe o que tem.


~ * Palavras que saem da boca.