Antes de tudo, há uma palavra que resume de imediato o que é a meditação, e de forma completa; sem reserva para dúvidas ou questões - é autoconhecimento. Qualquer prática real de meditação tem a intenção de te encaminhar nesta direção, na direção de você mesmo.
Não é preciso de postura para meditar porque a meditação nada tem a ver com a postura ou com uma prática específica. Qualquer coisa que nos leve para dentro de nós, que nos faça olhar para nós mesmos, pode ser chamado de prática meditativa.
Meditação significa apenas tornar-se mais meditativo; o que significa apenas olhar mais para si mesmo. É deixar as opiniões alheias de lado e olhar diretamente de você para você, se conhecer. Quem sou eu de fato? O que se passa aqui dentro?
Podemos meditar em pé, deitado, correndo, pulando, de quatro, engatinhando, de cabeça pra baixo; pois a meditação nada tem a ver com isso. A meditação não ocorre no plano externo, ocorre interiormente. Não ocorre lá fora, ocorre dentro de nós.
Então tanto faz o que o corpo esteja fazendo, a meditação nada tem a ver com ele no sentido externo. Mas importa sim o que a nossa mente esteja fazendo. Se ela estiver trabalhando sem a nossa presença, sem a nossa vigilância, estaremos perdendo o ponto da meditação.
Estaremos distraídos. Saímos para dar uma volta e deixamos o nosso supervisor trabalhando sem a nossa supervisão, sem as nossas ordens. Então ele está livre para fazer o que ele quiser, e não poderemos culpá-lo depois, pois fomos nós mesmos quem permitimos.
Quando retornarmos, poderemos descobrir que ele trocou tudo de lugar; que está tudo uma bagunça. Talvez seja bem trabalhoso colocar tudo em ordem depois. De certa forma, é isso o que viemos fazendo ao longo da vida inteira: deixando o empregado trabalhar livremente e sem a nossa supervisão.
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A meditação é um abandono de controle. É um permitir, um abrir espaço para qualquer coisa que surja em nosso interior. Sem querer modificar, fugir, rejeitar ou interpretar; aceitando, recebendo, abrindo os braços. É observar tudo o que acontece, minuciosamente. Prestar atenção a cada movimento da mente.
A meditação virou um esporte, mas isto não está correto. Temos a ideia de que um bom meditador é aquele que tem anos de prática. Isso não é verdade. Geralmente, esses que praticam meditação há anos são na verdade bocós. Não compreenderam que a função da meditação é autoconhecimento, e que para isso não há tempo, é algo integral.
A meditação não é uma prática. As práticas poderão levar-nos a nos tornarmos meditativos, mas a meditação não ficará reservada à prática. Se a meditação começar a acontecer, a prática poderá mesmo ser abandonada e a meditação continuará presente durante os momentos em que não se está praticando.
A prática funciona como um abrir da "Porta da Meditação". Quando você abriu a porta e a atravessou, agora você está no plano da meditação. Para que você continuaria a tentar abrir a porta se você já a atravessou?
Para meditar, não se precisa de técnicas; lembre-se disso. É apenas olhar para dentro, para os processos da vida atuantes em você. Estou dizendo isso porque quando ouvimos a palavra meditação, imaginamos algo sobrenatural. Uma posição mística que nos traga luz; uma imaginação fértil que nos leve para o céu. Isso é babaquice!
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Quando começamos esta autoobservação, as coisas que sentimos poderão começar a parecer que se tornaram loucas e confusas, e isto poderá levar-nos a acreditar que as coisas estão fora de ordem e que estamos perdendo o ponto da meditação. Mas, olhando por outro ângulo, quanto mais as coisas vêm a nós e quanto mais intensas elas se tornam, elas vão se tornando cada vez mais visíveis.
Imagine uma brincadeira de esconde esconde onde você é quem está a procurar. Se as pessoas escondidas ficarem quietas e silenciosas, você terá dificuldade em encontrá-las e terá que vasculhar todo o ambiente. Mas se elas estiverem inquietas e agitadas, farão barulho e isto te indicará diversas pistas de onde elas estão.
À medida que começamos a buscar o equilíbrio e o silêncio interior, nossa mente poderá começar a ficar muito barulhenta, o que poderá também nos levar a acreditar que estamos fazendo alguma coisa errada. Se buscamos o silêncio, porque agora tudo parece mais barulhento? Se buscamos a paz, porque agora enxergamos apenas mais conflitos?
Quanto mais barulho a mente faz, mais visível ela se torna, e maiores são as oportunidades para identificá-la.
Talvez ela sempre fizesse esse mesmo barulho, mas antes o barulho era quem éramos, então não o víamos. Agora que estamos nos tornando aquilo que observa o barulho, estamos vendo-o.
Se vivemos em um lado de um rio e queremos passar para a outra margem, não poderemos passar para ela sem antes termos atravessado o rio. A travessia do rio é necessária.
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Outra coisa legal da meditação é que meditamos buscando atingir algo eterno, e quanto mais nos aprofundamos nela, vamos descobrindo que não existe hora e nem lugar para meditar - a hora é sempre agora.
A meditação é uma constante. Devemos meditar andando, meditar lendo, meditar conversando, meditar trabalhando, meditar dormindo, meditar meditando, meditar não meditando... Estar sempre meditando.
Uma prática real da meditação fará com que aos poucos abandonemos a prática, pois a meditação nada tem a ver com a prática em si. A prática é apenas um esforço para que o ser torne-se meditativo. Quando o ser torna-se meditativo, é aos olhos da meditação que o mundo é visto.
As práticas meditativas verdadeiras aos poucos devem tornar a nossa vida inteira uma meditação. Como se começássemos a praticar e o praticar trouxesse a meditação para o primeiro plano, para o plano principal. A meditação passa assim a ser aquilo que somos, passa a ser os nossos olhos.
Acredito que muita gente não compreenda a meditação e a veja apenas como mais um esporte. Algo para dar prazer, para relaxar, para quebrar a rotina; como um piquenique, por exemplo. E isso poderá até ser real, o sentido poderá ser trocado.
Mas a meditação de que falo é algo diferente; é algo que nos tira do tempo psicológico, que nos tira da nossa mente. É uma revolução no ser. É algo que nos leva para além da dor e do prazer, para além do sofrimento. É algo que muda completamente a nossa forma de ver o mundo, e que nos leva a uma nova compreensão.
É algo com a finalidade de descobrir o que somos de fato e o que é real nisso tudo. É algo que nos torna um observador constante de nossa consciência, de nossos pensamentos, de nossos atos, de nossos movimentos, de nossos sentimentos, de nossas qualidades, de nossos defeitos, de nossos objetivos, de nossas intenções, de nossos medos, de nossos desejos...
É vigiar o tempo todo. Como alguém que espera o patrão exigente e que não tem horário para chegar. Enquanto ele não chega, pode ser sempre agora, é preciso permanecer alerta!
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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