Ele saíra correndo desesperadamente, ele não aguentava mais. O mundo estava pesando demais. As pessoas o faziam sentir-se confuso constantemente. Já bastava! Ele não queria mais viver assim, viver confuso o fazia desejar a morte.
Cada pessoa o mandava fazer uma coisa diferente, cada livro o dizia para agir de tal maneira, cada lugar descrevia o mundo de uma forma diferente. Ele ouvia conselhos distintos: "faça isso, não faça aquilo"; "seja assim, não seja aculá".
Tudo isso estava pesando tanto, que ele não conseguia mais ser ele mesmo.
Dentro de sua confusão, ele tinha certeza de que algo estava errado. A vida não podia ser assim, a confusão que ele sentia deveria ter algum sentido em existir.
Enquanto dava uma volta pelos campos, ele observava como as pessoas eram simples. Elas não pareciam confusas, nem um pouco. O lenhador cortava árvores, chegava em casa e beijava a esposa. Depois disso ele sentava na rede, e ficava quieto durante um longo tempo.
Ele ficou intrigado e foi perguntar ao lenhador se ele não ficava confuso.
O lenhador estranhou a pergunta e o menino disse que apenas estava buscando ajuda, porque andava muito confuso. O lenhador então disse:
- Guri, eu corto lenha e alimento meus filhos. Não vejo porque estar confuso. Tem um rapaz por aqui que veio da cidade, e logo quando chegou foi taxado de maluco - tudo que ele falava era confuso. Depois de uns anos ele casou, teve filhos, começou a trabalhar, e parou de falar confuso. Algo deve ter acontecido com ele. Ele mora a dois hectares daqui, porque não conversa com ele?
O jovem agradeceu e se retirou a caminho. No percurso ele foi refletindo: "será que o casamento tirou sua confusão? Será que foi o trabalho?". Não tinha lógica. Ele já houvera trabalhado e inclusive namorado. Não, aquilo não fazia sentido.
Chegando na casa do ex-confuso, o encontrou sentado em um banco de madeira logo à frente da casa. Era uma casinha bacana, ele cuidava de uns porcos e tinha uns cães pelo quintal.
O jovem fez um aceno e pediu para se aproximar. O rapaz concordou, convidando-o a entrar.
Eles conversaram sobre o assunto e o rapaz disse ao jovem:
"Amigo, eu li durante muito tempo e aprendi sobre tudo o que se pode aprender. Psicologia, teologia, filosofia, música... Busquei durante muito tempo ser sábio e a forma certa de ser e agir.
Com o tempo, me tornei uma pessoa muito confusa, e eu não compreendia, porque eu apenas tentava ser perfeito.
Eu sofri durante muito tempo; eu vivia tão confuso que não conseguia mais me comunicar. Não sabia mais o que queria, e não sabia nem se era correto querer algo. Perdi completamente a noção de mim mesmo.
A dor e o meu sofrimento me fizeram buscar uma saída.
Com o passar dos anos, eu fui percebendo que estava tão cheio de conceitos de como as coisas deveriam ser, que perdi a capacidade de ser eu mesmo. Tudo o que eu fazia eu me perguntava se estava certo ou errado, e então isso me confundia. Tinha argumentos pró, tinha argumentos contra; o que eu mais tinha eram argumentos, e isso me mantinha estagnado. Eu justificava sempre o meu erro.
Então eu conheci uma menina e me apaixonei. Ela foi uma grande luz e vou explicar o porque.
Toda a minha confusão ficou clara com a chegada dela, porque machucava a relação. Então, devagarzinho a dor foi me mostrando o que tinha valor para mim, e o que eu realmente queria e me importava na vida.
Então eu comecei a mover minhas energias para ir atrás do que queria, e as poucos eu fui entendendo uma coisa que carregarei para todo o sempre: quanto mais eu ia atrás daquilo que queria, independente se a forma de agir fosse certa, errada, ou se eu estava confuso ou não; a confusão ia diminuindo e a certeza ia ficando cada vez mais forte. Chegou um tempo em que ela simplesmente me abandonou, deixou de ter influência no meu viver.
Talvez você sinta o mesmo, talvez toda a sua bagagem conceitual tenha lhe travado.
Vou lhe dar o conselho que aprendi por experiência: faça o que quiser fazer e corra atrás daquilo que deseja, e não ligue para o certo ou errado. Siga o seu coração e você nunca mais mergulhará tão fundo na confusão."
~* Palavras que saíram da Boca.